Reino Unido: NHS ajudou a derrubar a direita

• Precarização do NHS derruba direita britânica • Lula e Nísia lançam laboratório Órion • Uma BCG mais eficaz à vista? • Para vacinar as crianças africanas contra a malária • Saúde cria GT para autismo • Doenças respiratórias em alta •

Foto: Tom Griffiths
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Nas eleições da última quinta-feira (4/7), a população britânica deu um basta ao governo do primeiro-ministro do Rishi Sunak. Sua sigla, o Partido Conservador, estava no poder há 14 anos – e registrou o pior resultado eleitoral desde sua fundação há dois séculos, em 1835. Como já noticiou Outra Saúde, muito dessa rejeição vem da destruição da saúde pública pelo governo nos últimos anos. O tradicional sistema de saúde do país, o National Health Service (NHS), encontra-se em frangalhos – e seus trabalhadores, em greve. “Apoiar o NHS e reduzir as filas” foi a quarta razão mais citada para o voto na oposição neste pleito, segundo pesquisa da YouGov. O financiamento do sistema esteve em queda livre nos governos dos tories. “Dizem que o NHS está sendo privatizado. Mas na verdade não é isso que acontece. O sistema está sendo erodido de maneiras muito mais sutis e perniciosas”, sintetizou a pesquisadora britânica Kate Bayliss a este boletim.

Lula e Nísia vão a Órion

Na última quinta-feira (4/7), Lula e as ministras Nísia Trindade e Luciana Santos participaram do lançamento da pedra fundamental do laboratório Órion, em Campinas. Além de ser o primeiro de sua classe na América Latina, o complexo laboratorial de máxima contenção biológica (NB4, no jargão científico) será o primeiro do mundo a estar ligado a um acelerador de partículas, o Sirius. O Órion será dedicado a “pesquisas avançadas em patógenos” com “técnicas analíticas e competências avançadas de bioimagens”, diz nota do MS. Ele deverá subsidiar “ações de vigilância e política em saúde, assim como o desenvolvimento de vacinas, tratamentos e estratégias contra epidemias”. Na cerimônia, a ministra da Saúde destacou o papel que o laboratório poderá cumprir “dentro do Complexo Econômico-Industrial da Saúde”, acelerando o “desenvolvimento de novos produtos”.

Butantan trabalha em uma BCG mais potente

Uma versão mais eficaz da vacina BCG pode estar a caminho, revela a Agência Fapesp. Seu desenvolvedor é um ente público: o Instituto Butantan. Se a BCG comum reduz em 90% as infecções por tuberculose, a chamada “BCG recombinante” parece capaz de ampliar a proteção para 99%, mostram testes com animais. Luciana Cezar de Cerqueira Leite, pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan, revela à agência que potencializar esse imunizante é um objetivo global. “A imunidade contra a doença tende a cair na vida adulta e, como as bactérias estão se tornando resistentes aos antibióticos, ninguém está seguro. Tem sido feito um esforço mundial para tentar melhorar a prevenção da tuberculose pulmonar adulta”, diz. Hoje, 10 milhões de casos e 1,5 milhão de óbitos ligados à doença são registrados ao ano. Na semana passada, Luciana apresentou a pesquisa com a BCG recombinante na China.

Vacina indiana pode ser alternativa contra a malária na África

Uma reportagem do New York Times ilustra os efeitos devastadores do atraso da distribuição da vacina contra a malária na África. O imunizante havia se mostrado eficaz em testes clínicos conclusivos ainda em 2015 – mas só começou a ser utilizado no continente em 2024. 143 mil crianças africanas morreram de malária desde então, número que poderia ter sido enormemente reduzido. Porém, a Fundação Bill e Melinda Gates, uma das financiadoras da pesquisa com o imunizante, reduziu drasticamente os repasses após se dizer “insatisfeita” com o nível de eficácia da substância. Por sua vez, a farmacêutica GSK, fabricante da vacina, reduziu sua produção ao mínimo – segundo acusa a OMS, para se concentrar em fármacos mais lucrativos a serem comprados por países ricos. 

Nesse ritmo, só em 2024 a aliança internacional de vacinação Gavi pôde distribuir doses o suficiente para estruturar programas de imunização contra a malária em 8 países africanos. Agora, as atenções já se voltam para uma vacina de desenvolvimento indiano que parece ser mais eficaz – e cuja fabricante, o Instituto Serum, já se comprometeu com a produção de 100 milhões de doses.

Saúde cria GT para propor ações para autistas

O Ministério da Saúde (MS) criou um Grupo de Trabalho sobre políticas para autistas, noticia a Agência Brasil. Os membros do GT serão indicados nos próximos 15 dias e, inicialmente, terão um ano – com possibilidade de renovação por mais outro – para apresentar um relatório final de suas discussões ao MS. Segundo a portaria que o instituiu, o Grupo de Trabalho deverá “assessorar tecnicamente a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde na proposição de políticas, programas e atividades referentes ao cuidado integral às pessoas com transtorno do espectro autista”, “propor a revisão da Caderneta da Criança” e “incentivar a qualificação dos profissionais que atuam nos serviços de saúde”. Especialistas de fora do GT poderão ser convidados para as discussões. À primeira vista, a medida é uma vitória para o movimento de mães autistas, que tem se fortalecido no país mediante seu enfrentamento com os planos de saúde.

Doenças respiratórias crescem no país, aponta InfoGripe

Lançado no final da semana passada, o último boletim InfoGripe da Fiocruz enfatiza que a bronquiolite segue em alta no Brasil. Os casos estão ligados principalmente ao Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que está em momento de “alta circulação entre crianças”, com “valores expressivos de incidência e mortalidade”. Há uma “manutenção do crescimento dos vírus da influenza, VSR e rinovírus” em boa parte do país, dado que se expressa em um aumento das hospitalizações tanto no Centro-Sul quanto no Norte-Nordeste. Nas últimas semanas, indica o monitoramento dos pesquisadores, os casos mais graves de covid-19 também têm crescido, especialmente entre idosos. “É importante que tanto hospitais quanto unidades sentinelas de síndrome gripal fiquem atentos para qualquer sinal de aumento de circulação do vírus nessas regiões”, aponta uma das pesquisadoras do InfoGripe.

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