Por que indígenas estão morrendo ainda mais?

• Suicídio, mortes prematuras e assassinatos entre indígenas • Oposição barra lei que expunha dados de aborto em BH • SUS oferecerá mais dois remédios para doença falciforme • Câncer de mama e retirada dos seios • Mais vantagens na floresta em pé •

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Os suicídios em comunidades indígenas no Brasil aumentaram 56% em 2023. Foram 180 casos registrados em comparação aos 115 de 2022. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) relatou também um aumento nos assassinatos de indígenas e na mortalidade infantil: 111 mortes se deram por falta de assistência médica, quase triplo do registrado em 2022. Houve 1.040 mortes de crianças menores de quatro anos por doenças como gripe e desnutrição, 24,5% mais que em 2022. Em 2023, outros 208 indígenas foram assassinados, 15,5% mais que em 2022. A fiscalização insuficiente das invasões de territórios indígenas e o lento progresso na demarcação de terras foram alvo de críticas ao governo federal. Poucas reservas foram criadas no terceiro mandato de Lula, mesmo ele tendo sido eleito com um programa que prometia “reconstrução” e interrupção dos retrocessos.

Aborto: lei de BH pretendia expor dados sensíveis

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais suspendeu uma lei de Belo Horizonte conhecida como “censo do aborto”, que reunia estatísticas de interrupção de gravidez na cidade. A lei, aprovada em abril e sancionada em maio pelo prefeito Fuad Noman (PSD), previa que hospitais informassem à Secretaria de Saúde dados como o motivo do aborto legal, a faixa etária e a cor ou raça da gestante. A medida cautelar que a derrubou foi protocolada pelo PSOL, que alegou inconstitucionalidade. O desembargador Wagner Wilson Ferreira acatou o pedido, destacando que a lei obrigava a divulgação de dados pessoais sensíveis, incluindo de menores de idade, no Diário Oficial do Município e no portal da prefeitura. “[Os dados] devem ser tratados apenas internamente pelos órgãos envolvidos e mantidos em ambiente controlado e seguro, conforme preceitua a Lei Geral de Proteção de Dados”, afirmou Ferreira em sua decisão. Caso a lei fosse seguida, poderia aumentar o constrangimento às mulheres e dificultar o acesso aos procedimentos legais na capital mineira.

Mais dois medicamentos gratuitos para doença falciforme

O Ministério da Saúde oferecerá dois novos medicamentos pelo SUS para tratar a doença falciforme: a alfaepoetina e a hidroxiureia. A alfaepoetina será usada para pacientes com declínio renal e piora da anemia, enquanto a hidroxiureia será disponibilizada em novas dosagens para crianças a partir de 9 meses. Esses medicamentos estarão disponíveis em até 180 dias. A doença falciforme, prevalente entre pessoas negras, afeta 3,75 a cada 10 mil nascidos vivos no Brasil, com alta taxa de mortalidade. A maioria dos óbitos ocorre entre pessoas pardas e pretas, e 52% são mulheres. Em 2023, 14.620 pacientes receberam tratamento pelo SUS. A introdução dos novos medicamentos amplia o acesso e cuidado, especialmente para crianças. O diagnóstico precoce, realizado pelo teste do pezinho e outros exames, é crucial para iniciar tratamentos específicos e limitar complicações. Desde 2005, a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme oferece tratamentos especializados, medicamentos e exames gratuitos pelo SUS.

Câncer de mama: não há necessidade de mastectomia dupla

Um estudo publicado na JAMA Oncology concluiu que, para mulheres que tiveram câncer de mama, a mastectomia dupla não oferece vantagem de sobrevivência em comparação com a lumpectomia ou mastectomia unilateral. Dados de mais de 661 mil mulheres mostram que a chance de câncer na outra mama é de 7% em 20 anos, um resultado considerado muito baixo. Há uma exceção, contudo, apontada pelos pesquisadores: mulheres com variantes genéticas BRCA1 ou BRCA2 devem considerar fazer a mastectomia dupla. Ao New York Times, os especialistas Eric Winer e Angela DeMichele, afirmam que a cirurgia adicional não previne a disseminação do câncer para outros órgãos. A professora DeMichele explica que a quimioterapia e terapias hormonais são cruciais para eliminar células cancerígenas. A mastectomia dupla, segundo a cirurgiã Seema Ahsan Khan, pode ser escolhida por razões estéticas ou para evitar a ansiedade de exames adicionais. O estudo ressalta a importância da vigilância contínua e triagem precoce para novos cânceres.

Mobilidade entre cidades e disseminação de doenças

A rápida disseminação de novos patógenos, como nas pandemias de covid-19 e H1N1, é facilitada pelas conexões entre cidades. Um estudo do Cidacs/Fiocruz Bahia, publicado na The Lancet Digital Health, utilizou um modelo computacional com dados de transporte para mapear a mobilidade humana em 5.570 municípios brasileiros. O estudo, parte da iniciativa ÆSOP, visa melhorar a vigilância epidemiológica e evitar emergências de saúde pública. A redistribuição estratégica das 310 unidades da Rede Sentinela pode aumentar a cobertura de mobilidade de 52% para 70%, melhorando a detecção precoce de patógenos. A pesquisa sugere que a detecção não deve focar apenas em grandes cidades, pois patógenos podem surgir em locais isolados e se espalhar pelas rotas de conexão antes de atingir áreas populosas.

Árvores da Amazônia podem absorver gás que produz efeito estufa

Bactérias nas cascas das árvores da Amazônia podem absorver metano, um gás de efeito estufa, segundo estudo publicado na Nature e relatado pela Pesquisa Fapesp. Medições desde 2013 lideradas pelo biólogo Alex Enrich Prast e o britânico Vincent Gauci indicam que, além de emitir metano, as árvores também o absorvem, especialmente em áreas não alagadas. Em várzeas alagadas, o metano produzido no solo é processado por bactérias nas raízes das árvores. A pesquisa mostrou que a microbiota dos troncos é metanotrófica, consumindo metano, com maior absorção nas partes altas do tronco. Amostras de madeira e DNA confirmaram a presença de bactérias oxidantes de metano. A absorção de metano pelos troncos pode equivaler a 15% da absorção média de carbono pela biomassa da Amazônia, reforçando a importância do reflorestamento para mitigar emissões de gases de efeito estufa. O estudo comparou florestas tropicais, temperadas e hemiboreais, mostrando maior absorção em climas quentes.

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