OMS reconhece que obesidade não é problema individual
O órgão referência em saúde muda o foco e novo relatório sustenta que a causa essencial de haver tantas pessoas obesas é a ausência de políticas de saúde e alimentação adequadas
Publicado 18/05/2022 às 09:31
Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu a meta de interromper o aumento das taxas de obesidade, com o objetivo de conter o número de mortes por doenças não transmissíveis até 2025. O Relatório Regional de Obesidade da OMS de 2022 para a Europa, contudo, mostrou dados pouco animadores: nenhuma das 53 nações do continente está próxima do objetivo. Os índices recolhidos apontam que 59% dos adultos na Europa têm excesso de peso ou vivem com obesidade. Entre as crianças, 29% dos meninos e 27% das meninas se qualificam como obesos.
O cenário, agravado pela pandemia, não é restrito à Europa, segundo o Diretor Regional da OMS para a Europa, Hans Henri P. Kluge. “A obesidade não conhece fronteiras. Na Europa e na Ásia Central, nenhum país vai cumprir a meta global para deter seu aumento”, afirmou. A organização estima que o sobrepeso e a obesidade sejam responsáveis por mais de 13% das mortes anuais – 1,2 milhão – na região, além de estarem associadas a doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e doenças respiratórias crônicas. A OMS também liga a obesidade a 12 tipos de câncer, sendo “diretamente responsável” por pelo menos 200 mil novos casos a cada ano. Em balanço para entender o impacto nos sistemas de saúde, o relatório analisou que, em 2014, a obesidade correspondeu a 8% dos custos gerais de saúde nos países analisados e que qualquer tipo de tratamento para uma pessoa obesa é 30% mais custoso.
Nesse ano, porém, o relatório concluiu que a grande barreira que impede o continente de alcançar a meta não é a falta de conscientização individual, mas a inexistência ou ineficácia de políticas públicas para a obesidade, relacionadas à negligência da sociedade em geral – e em especial dos governos. Um estudo internacional apresentado no Congresso Europeu sobre Obesidade mostra que 85% dos jovens obesos entre 12 e 18 anos preocupam-se com sua saúde no futuro e tentam emagrecer. A pesquisa, realizada com 5,2 mil jovens de diversas nacionalidades, mostrou que apenas 31% dos adolescentes sentem-se à vontade para falar com um profissional de saúde sobre a obesidade e que 24% dos jovens obesos não sabem que têm a doença.
“Melhorar a nutrição e a saúde exige que mudemos nosso foco da ‘responsabilidade pessoal’ para a sociedade mais ampla soluções abrangentes”, afirmou Joshua Petimar, pesquisador do Departamento de Medicina Populacional da Harvard Medical School ao jornal científico Medical News Today. Segundo ele, os comportamentos alimentares são influenciados negativamente por muitos fatores macroscópicos, como “práticas predatórias da indústria, falta de acesso a alimentos e inacessibilidade de alimentos saudáveis”. As soluções propostas, que se concentram na responsabilidade individual e ignoram fatores sociais, não estariam, portanto, abordando as principais ameaças à nutrição das diferentes populações.
Em seu relatório, a OMS propôs um plano para redução da obesidade com foco em intervenções políticas sobre ambientes e práticas comerciais determinantes da má alimentação. “Ao criar ambientes mais propícios, promover o investimento e a inovação em saúde e desenvolver sistemas de saúde fortes e resilientes, podemos mudar a trajetória da obesidade”, afirmou Kluge.