HIV: avanços estão muito lentos

• HIV: pandemia encolhe, mas ainda é problema global • Esforços para diminuir fila de cirurgias • Saúde: as posições de Kamala Harris • Radiofármacos serão produzidos pela Fiocruz • CFM pode dar “licença para matar?” • Novas descobertas sobre a covid •

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Começou ontem (22/7), na Alemanha, a 25ª Conferência Internacional sobre Aids, e com ela vem um alerta: o HIV não deve deixar de ser uma ameaça à saúde pública global em 2030, como era previsto pela Unaids, da ONU. Embora os números estejam melhorando, em termos gerais, quase 40 milhões de pessoas ainda vivem com o vírus em 2023. Apenas no ano passado, aconteceram 1,3 milhões de novas infecções – número bastante distante da meta de 330 mil para 2025. A melhora pode ser percebida quando se compara com um período maior de tempo no passado: em 2004, pior ano da pandemia, morreram 1,8 milhões de pessoas por doenças relacionadas à aids – em 2023, foram 630 mil, uma redução de 69%. Mas ainda falta muito para chegarmos a uma situação favorável. Um dos principais motivos é a falta de acesso à terapia antirretroviral. Hoje, 30,7 milhões recebem os medicamentos necessários para tratar-se – quase um quarto está sem tratamento. No Brasil, são 190 mil desatendidos, mesmo com a garantia de remédios gratuitos pelo SUS. Há um fator importante por trás da falta de acesso: os novos medicamentos para tratar o HIV, que podem representar uma mudança importante na pandemia, estão travados por patentes de gigantes farmacêuticas – e acessíveis apenas a muito poucos.

Fila de cirurgias começa a reduzir, mas ainda há entraves

Diante da demanda reprimida no SUS devido ao envelhecimento populacional, a migração de usuários de planos privados e a pandemia de covid-19, o Ministério da Saúde tem lançado diversas iniciativas para reduzir as filas de cirurgias. Os primeiros números mostram bons resultados. Com o Programa Nacional de Redução de Filas, que recebeu R$ 600 milhões em 2023 e R$ 1,2 bilhão em 2024, cerca de 958 mil cirurgias eletivas foram realizadas entre março do ano passado a abril deste ano. A velocidade do atendimento está aumentando gradualmente: entre os meses de fevereiro e maio, foram realizadas 438.355 intervenções, cerca de 109 mil por mês  – ante 648.729 feitas entre março de 2023 e janeiro de 2024, menos de 59 mil por mês. Mas ainda há muita gente à espera, e apesar do sucesso em procedimentos simples, como catarata, a demanda por cirurgias complexas persiste. Marília Louvison, médica sanitarista e pesquisadora da USP, em entrevista à Folha, destacou a fragmentação das filas e a falta de um sistema centralizado de atendimento como grandes empecilhos: “Não são filas únicas porque ainda não temos um sistema de informação em que as gestões federal, estadual e municipal estejam integradas. Então, muitas vezes há filas duplicadas e o governo tem dificuldade de adequar a oferta e identificar onde está a demanda”, alerta. Ela também aponta que cirurgias complexas dependem de tecnologias avançadas e profissionais qualificados, distribuídos de forma desigual pelo país.

EUA: Kamala seria melhor que Biden para a Saúde?

Entre os vários atos falhos cometidos pelo então candidato à reeleição para presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, uma delas dizia respeito à saúde pública. No fatídico debate presidencial do qual participou, ele chegou a dizer, sem querer, que seu governo “combateu o Medicare” – um programa essencial para a saúde de milhões de estadunidenses, especialmente idosos e pessoas com deficiência. No último domingo, 21/7, Biden desistiu da corrida presidencial e recomendou a candidatura de sua atual vice, Kamala Harris. Como a possível nova postulante tratará do tema da saúde? Segundo uma reportagem do Stat News, Kamala tem mostrado uma posição mais progressista do que Biden. A vice-presidente destaca-se, em especial, por apoiar a transição para o sistema Medicare for All – a implementação de um sistema de saúde universal nos Estados Unidos, onde todos os residentes teriam cobertura de saúde garantida pelo governo federal, embora ainda ligada aos seguros privados. Ela também defende políticas mais agressivas de controle de preços de medicamentos e tem uma postura firme na defesa dos direitos reprodutivos e na garantia do aborto legal. No Senado, liderou iniciativas importantes para a saúde materna, como o pacote legislativo Black Maternal Health Momnibus Act.

Fiocruz produzirá radiofármacos, em parceria com Portugal

A Fiocruz assinou um acordo com a Universidade de Coimbra para o desenvolvimento de radiofármacos e futuros registros sanitários no Brasil, através do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz). A parceria visa melhorar o Sistema Único de Saúde (SUS) e beneficiar também o sistema de saúde português com medicamentos produzidos pela Fiocruz. Radiofármacos, pouco explorados no Brasil e usados em áreas como oncologia e cardiologia, serão agregados ao portfólio da Fiocruz, aumentando sua capacidade de atender às necessidades do SUS. A produção será feita em conjunto com a ICNAS Pharma, ligada à Universidade de Coimbra. Jorge Mendonça, diretor de Farmanguinhos, destacou que a produção nacional desses medicamentos reduz custos e amplia o acesso a tratamentos de qualidade. A Anvisa apoiou a iniciativa, que desafia a convergência regulatória entre Brasil e Portugal, favorecendo o acesso a medicamentos de qualidade. O acordo também prevê cooperação internacional para a educação em ciência, tecnologia e inovação em saúde, incentivando a formação e mobilidade de estudantes e pesquisadores, e promovendo a transferência de conhecimento e tecnologia.

CFM e a “licença para matar”

No último domingo, os médicos Mauro Schechter, Celso Ferreira Ramos e José Gomes Temporão, que também foi ministro da Saúde, publicaram uma coluna carregada de ironia no jornal O Globo. Tratam das eleições próximas para o Conselho Federal de Medicina (CFM), e de como há quem busque se utilizar de uma suposta polarização política para “dividir os médicos em bons e maus”. Os “maus” seriam aqueles que se posicionaram contra as decisões do CFM, em especial durante a pandemia. Destacamos um trecho da coluna, abaixo:

“Prescrever talidomida para mulheres grávidas não é expressão de autonomia médica. É erro médico, passível de punição cível e criminal. Não indicar, por convicções religiosas, transfusões de sangue para pacientes com indicação de recebê-las não é expressão de autonomia. É erro médico. Prescrever cloroquina — uma droga comprovadamente ineficaz, que pode causar danos graves, incluindo morte — para tratar Covid-19 não é expressão de autonomia. É erro médico.

Médicos, assim como James Bond, não têm licença para matar. É prerrogativa de Sua Majestade Britânica autorizar o agente 007 a fazê-lo. O CFM não tem essa prerrogativa.”

A estratégia do coronavírus

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Harvard, incluindo a brasileira Marcella Cardoso, descobriu uma nova estratégia do coronavírus para escapar do sistema imunológico. O vírus utiliza a proteína ORF6 para impedir a ação dos linfócitos natural killer (NK) ao remover a proteína MIC da superfície das células infectadas, fazendo-as parecer saudáveis e evitando sua destruição. Esta descoberta pode explicar a rápida multiplicação do vírus e a gravidade da doença, especialmente em não vacinados. Cardoso mostrou que o anticorpo monoclonal 7C6 pode bloquear a ação da ORF6, permitindo que as células sinalizem a invasão e sejam destruídas pelos linfócitos NK. Esta abordagem está sendo testada em animais e pode se tornar uma nova estratégia de tratamento para casos graves de covid-19.

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