Há cinco anos, a primeira morte por covid no Brasil
• ESPECIAL COVID: Pandemia foi declarada há meia década • Brasil perdeu 700 mil pessoas, vacina foi salvação • Bolsonaro e seu grupo continuam impunes • O que a ciência aprendeu sobre comportamento humano • Fotos dos dias de crise sanitária •
Publicado 12/03/2025 às 15:12

Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) falava, pela primeira vez, em uma pandemia de covid-19. Menos de 4.300 pessoas haviam morrido até então, segundo números oficiais. O primeiro óbito no Brasil, no entanto, aconteceu um dia depois: há cinco anos, hoje. Foi Rosana Aparecida Urbano, com 57 anos, de Miguel Pereira (RJ). Era empregada doméstica e dormia parte da semana na casa em que trabalhava, no Leblon, bairro da zona sul carioca.
Sua patroa havia acabado de chegar de viagem à Itália, então o país com mais mortes pelo coronavírus. Rosana deu entrada no hospital em 11/3, mas mesmo a intubação não conseguiu salvá-la das crises de falta de ar. Faleceu no dia seguinte. Sua filha conta que em cerca de 50 dias perdeu a mãe, os avós e dois tios para a doença. Ela é apenas uma das centenas de milhares de pessoas que viveram a morte de seus queridos em consequências trágicas naquele período.
A catástrofe e a salvação
Cinco anos depois, o Brasil ultrapassou as 700 mil mortes pela covid. Estima-se que outras 400 mil faleceram na espera por tratamento hospitalar e cirurgias. Foram 4,5 mil mortos entre os profissionais de saúde pública e privada – em sua maioria mulheres, de cargos com menor remuneração (técnicos e auxiliares de enfermagem).
A crise sanitária foi uma grande marca na vida de populações do mundo inteiro. E ela só pode ser contida de fato quando as vacinas começaram a ser distribuídas a um grande número de pessoas, a partir do final de 2020. Em 2021, no pior momento da pandemia, o Brasil governado por Jair Bolsonaro perdeu diversas oportunidades de comprar imunizantes mais cedo. Em janeiro daquele ano o Brasil assistiu à primeira pessoa que recebeu uma dose da vacina, a Coronavac. Mas a vacinação engrenou mesmo meses depois, a partir de junho. Só então as mortes começaram a cair substancialmente, e as atividades puderam ser de fato retomadas.
A pandemia e o pandemônio
O governo de Bolsonaro é considerado um dos piores, no mundo, na gestão da pandemia. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal sobre a covid-19, após meses de trabalho com notável repercussão nacional, recomendou o indiciamento de mais de 60 pessoas físicas e jurídicas, entre elas o então presidente da República Jair Bolsonaro e ministros de Estado. Mas, três anos após sua conclusão, não há resposta da justiça – e os crimes correm o risco de prescreverem.
“Assim como a política de memória, as políticas de reparação precisam ser construídas junto com os seus beneficiários, e só serão bem-sucedidas se inseridas em uma cultura de reconhecimento das violações de direitos ocorridas no período”, afirmou Deisy Ventura, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, ao Outra Saúde.
Ontem, o novo ministro da Saúde Alexandre Padilha se reuniu com representantes de associações e familiares de vítimas da covid. E anunciou um grupo de trabalho para aprimorar enfrentamento a futuras pandemias. “O Grupo de Trabalho será coordenado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente e vai construir essa proposta de modelo de estrutura para o Estado brasileiro”, explicou o ministro
Pandemia permitiu estudos do comportamento humano
O NY Times listou descobertas que só foram possíveis porque um enorme número de pessoas teve a vida suspensa ou alterada por meses. Eis algumas delas: casos de gripe tiveram redução drástica, com as medidas de higiene e uso de máscaras. A telemedicina mostrou-se eficaz, útil inclusive para tratamentos crônicos e psicoterapia. A escola, no entanto, não funciona bem em modo remoto – a falta da sala de aula causa perdas graves de aprendizado. Mas o sono é mais importante para as crianças e adolescentes do que se esperava, por isso é melhor quando a entrada na escola é em um horário mais tarde.
Algumas coisas não mudaram: mesmo ficando em casa, homens participaram menos do trabalho doméstico – e mulheres aderiram melhor às medidas sanitárias. Países que restringiram a venda de álcool durante os lockdowns salvaram vidas, enquanto naqueles onde seu uso continuou livre, houve aumento do alcoolismo e da violência doméstica. Auxílios financeiros governamentais reduziram a pobreza infantil e melhoraram o bem-estar familiar.
O número de partos prematuros ou de bebês com muito baixo peso diminuiu, o que indica que ficar em casa pode ser bom para gestantes. Parques e o contato com a natureza deixam as pessoas mais felizes e reduzem o estresse. Por fim, confirmou-se a importância do contato humano para a saúde mental, especialmente entre jovens e idosos.
A pandemia em fotos
O NY Times também publicou algumas das fotos mais impressionantes da pandemia. São imagens de profissionais de saúde em seu trabalho, da solidão nas grandes cidades, de coveiros e crematórios. A maior parte foi tirada nos Estados Unidos, mas há duas fotografias tiradas no Brasil: em São Paulo e na Amazônia.