Eleonora Menicucci marca a luta das mulheres na Abrasco

Militante desde a juventude, ainda clandestina à época em que cursava Ciências Sociais na UFMG, sua vida está diretamente ligada à história nacional. Por seu compromisso com a democracia e pela luta pelos direitos sexuais, reprodutivos e trabalhistas das mulheres

.

A primeira morte por covid-19 no Brasil, lembra a ministra da Secretaria de políticas para as mulheres da presidente Dilma Rousseff, em 2012-2016, foi uma trabalhadora doméstica do interior fluminense que contraiu a doença dos patrões que voltaram de férias da Itália. Ela afirma em entrevista à Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), que essa morte é simbólica e significativa do quadro de desmonte da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro, agravado com o início da pandemia.

“Digo sem medo que todas as mulheres foram beneficiadas no período em que construímos a Secretaria de Políticas para as Mulheres, e que tudo foi detonado, não tem mais nada”. Ela exemplifica dizendo que em 2012, a secretaria implementou, em parceria com o ministério da Saúde, a possibilidade de medidas de contracepção em até 72 horas de uma gravidez indesejada. Criou serviços de aborto legal pelo país. Fala do avanço na universalização dos atendimentos, com o programa Mulher Viver sem Violência e com as Casas da Mulher Brasileira, que buscavam reunir num mesmo espaço físico, todos os serviços necessários ao atendimento e acolhimento de mulheres vítimas de violência.

A pandemia intensificou os retrocessos bolsonaristas, denuncia Eleonora. Se antes o feminicídio já representava 40% dos óbitos entre as mulheres, depois ultrapassou a marca dos 50% dos registros históricos. O desmonte das leis trabalhistas aumentou a precarização do emprego, atingindo em cheio as trabalhadoras domésticas. Diante dessa situação, os entrevistadores perguntam o que fazer, lembrando que em outubro teremos a eleição para presidente. Eleonora responde com o espírito inquebrantável de luta que marcou sua carreira. “Temos só um caminho para que a esperança retorne e se torne realidade”, diz.

“Nós criamos o SUS e o PAISM (Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher) e, por isso, temos a obrigação de impedir os mecanismos de terceirização; de resgatar o financiamento do Sistema e ressaltar que toda a força da descentralização e regionalização em saúde não significa a privatização da gestão ou serviços nos municípios. Temos de recuperar o projeto do SUS para todas as áreas”.

Professora titular sênior do departamento de medicina preventiva da Escola Paulista de Medicina da USP, Eleonora diz que desde o início da graduação teve uma preocupação de pensar a saúde pelo viés das humanidades. Primeiramente, em termos de pesquisas sobre o direito sexual e reprodutivo, depois quanto ao papel da mulher nos espaços de trabalho. Conta que fez pós-graduação na Clinica del lavoro Luigi Devoto, ligada à Facoltà di Medicina e Chirurgia, da Università Degli Studi, em Milão, na Itália. Fundou e coordenou, em 2000, a Casa de Saúde da Mulher Dr. Domingos Delascio, ligada à Unifesp, voltada ao atendimento de mulheres vítimas de estupro e violência sexual e onde também se fazia o aborto permitido em lei.

Leia Também: