Cresce a epidemia dos supermicróbios resistentes a antibióticos
É urgente controlar os abusos persistentes no emprego desses remédios, afirmam os autores do mais amplo estudo sobre o assunto. A resistência microbiana já é uma das principais causas de morte no mundo, causando cerca de 3.500 óbitos diariamente
Publicado 24/01/2022 às 06:00 - Atualizado 21/01/2022 às 21:04
Justamente quando avança o movimento por mais responsabilidade no uso dos antibióticos, a Pesquisa Global sobre Resistência Antimicrobiana (Gram, na sigla inglesa) deu uma medida exata do problema. Mais de 1,2 milhão de pessoas morreram em todo o mundo, em 2019, como resultado de infecções por micróbios resistentes, avaliou a Pesquisa. Outras 4,9 milhões, conforme fortes indícios, parecem ter morrido dessa maneira. A HIV/Aids e a malária, em comparação, causaram 860.000 e 640.000 mortes naquele ano.
Essa avaliação, publicada na revista especializada The Lancet, foi feita examinando mortes relacionadas a 23 patógenos e 88 combinações de patógenos-drogas em 204 países e territórios. Apenas duas bactérias entre as que desenvolveram novos poderes ao longo do tempo, causaram cerca de 200.000 mortes em 2019: a escherichia coli, causadora de problema estomacal comum, e a klebsiella pneumoniae, usualmente origem de infecção no trato respiratório inferior.
“Esses novos dados revelam a verdadeira escala da resistência antimicrobiana”, disse o coautor do relatório, professor Chris Murray, da Universidade de Washington. Mostram que essa tendência tem que ser combatida de imediato. Os pesquisadores recorreram a mais de 470 milhões de registros individuais obtidos de revisões sistemáticas da literatura, sistemas hospitalares, sistemas de vigilância e outras fontes de dados [ver o gráfico 1].
Regionalmente, estima-se que as mortes causadas diretamente pela RAM sejam mais altas na África Subsaariana e no sul da Ásia, com 24 mortes por 100.000 habitantes e 22 mortes por 100.000 habitantes, respectivamente. Em países de alta renda, reportou The Guardian, a nova resistência adquirida pelos micróbios por uso inadequado dos antibióticos foi associada a 56 mortes por 100.000. Na América Latina e o Caribe a taxa de mortes associadas foi de 84 por 100.000 [ver o gráfico 2].
Como observou a Lancet, “a Organização Mundial da Saúde (OMS) e vários outros grupos e pesquisadores concordam que a disseminação da resistência microbiana é uma questão urgente que requer uma abordagem baseada em um plano de ação global e coordenado”. Em novembro passado, a OMS lançou sua semana mundial sobre o assunto, e convocou “formuladores de políticas, profissionais de saúde e o público em geral a serem campeões da conscientização da resistência antimicrobiana”, sob o lema “Espalhe a consciência, interrompa a resistência”.