Como resgatar os Conselhos de Medicina

O processo de troca de direções começa nesta semana. No PULSO, dois médicos falam sobre caminhos para vencer o bolsonarismo, resgatar a medicina e tratar dos problemas reais dos profissionais e da sociedade

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Renato Lemos e Vania Barbosa do Nascimento em entrevista a Gabriel Brito, no PULSO

Marcados por um viés de direita alinhado ao bolsonarismo e por um anticientificismo preocupante, os conselhos de medicina, a começar pelo Federal, tiveram sua imagem bastante prejudicada no último período. Entre a saúde coletiva e o apego de seus dirigentes ao conservadorismo, simbolizado na figura de Jair Bolsonaro, chegaram às raias do absurdo ao defender práticas comprovadamente ineficazes durante a maior crise sanitária da história do país.

Neste contexto, a sociedade observa o que sairá das eleições de 14 e 15 de agosto, que renovarão as direções dos 27 Conselhos Regionais de Medicina do Brasil até 2028. Para falar deste pleito, cuja relevância social talvez seja inédita, o PULSO, programa de entrevistas do Outra Saúde no Youtube, recebeu dois profissionais que concorrerão em uma das chapas de oposição nas eleições do Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

“Temos movimentos que buscam uma hegemonização na categoria, por isso formamos uma frente ampla. Não podemos ser de esquerda, centro ou direita. Temos que defender práticas médicas baseadas em evidências, carreira, combater a precarização e ‘pejotização’ e fazer debates sobre formação ética, pra fiscalizar e normatizar as práticas médicas, que é a função de um conselho”, explicou Renato Lemos, médico de Família e Comunidade.

As eleições dos Conselhos de Medicina representam mais uma disputa contra o bolsonarismo e sua penetração nas mais diversas esferas da vida social, a exemplo de tais conselhos, autarquias estatais que se tornaram puxadinhos de expressões políticas transitórias.

“Queremos resgatar a medicina e o médico. Nossa chapa chama Resgate porque vimos a medicina abandonada nos últimos anos, nacionalmente. Enfrentamos uma pandemia, nossos profissionais estiveram na linha de frente e os conselhos ficaram ausentes, ocupados em discutir questões que não eram pertinentes ao tratamento da covid”, explicou Vania Barbosa do Nascimento, sanitarista e pró-reitora da Faculdade de Medina do ABC, também presente no PULSO.

Na entrevista, ambos explicaram o tensionamento interno, ainda com perseguições e tentativas de impugnar chapas. Um fato que repercutiu amplamente foi o site “esquerdômetro”, onde alas conservadoras (para não dizer fascistas) “denunciavam” candidatos e membros de chapa pelo simples fato de, supostamente, serem pessoas de esquerda. Outras denúncias, com favorecimento às chapas de situação, seguem a repercutir na mídia. No entanto, Vania e Renato afirmam que a hostilidade só interessa aos que anularam o papel histórico dos Conselhos. É hora de avançar com propostas e práticas de defesa da categoria médica brasileira.

“Entre as principais questões, temos a defesa do SUS, do médico e da carreira. Os médicos estão sufocados, estão sendo explorados em sua rotina de trabalho”, contou Vania. “Como vamos cuidar das pessoas com as atuais relações de trabalho? E defendemos a medicina baseada em evidências científicas, acima de tudo. Defendemos avanços tecnológicos, a exemplo da vacina. Defendemos as mulheres médicas, que apesar de maioria na categoria ainda são discriminadas, inclusive com a pior parte do trabalho no dia a dia. Como professora, também defendo ensino de qualidade.”

Renato complementa: “Temos que fazer do Cremesp um lugar de escuta, fazer debates polêmicos e sobre ética em nossas câmaras e buscar soluções aos problemas existentes. Temos questões como sigilo de dados, fiscalização da saúde suplementar, influência farmacológica e dos convênios para tratar. São tensões que podem produzir soluções ou novos problemas. E precisamos atuar nisso”.

Para os dois profissionais, a pandemia deixou marcas e nada será igual. Até porque, para além do trauma coletivo, há uma nova situação socioeconômica. Neste sentido, cabe aos Conselhos de Medicina executar suas funções fundamentais. A saúde coletiva precisa desta contribuição.

“Os conselhos precisam apontar os problemas e as soluções. Para isso precisam estar abertos ao diálogo. Serem amplos, arejados, porque assim são capazes de dialogar com o setor público e privado de modo a criar melhores soluções. Precisam estar junto na discussão de formação, currículo, bioética, vagas em residência, hoje escassas em relação ao contingente que se forma. Foi isso tudo que gerou uma reação na categoria. O Cremesp não pode ficar à margem das grandes questões de saúde. E foi isso que aconteceu no último período”, analisou Vania.

Confira a entrevista completa em nosso canal no Youtube.

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