A exaustão dos médicos em São Paulo
• Médicos exaustos em SP • Margareth Dalcolmo vê as eleições • Aedes aegypti com bactéria pode diminuir transmissões • Varíola dos macacos longa • Os problemas da IA na medicina • Fuga de médicos na Espanha •
Publicado 20/10/2022 às 09:54
A pesquisa A Saúde do Médico, feita por telefone pelo ministério da Saúde através de seu sistema de monitoramento Vigitel, mostrou dados preocupantes entre os médicos paulistas: excesso de trabalho, sedentarismo, estresse, depressão, insônia, entre outros problemas, em fatias expressivas da categoria. O levantamento também concretiza algumas queixas sobre a sobrecarga de trabalho ao longo da pandemia: metade dos 778 entrevistados relataram trabalhar de 50 a 60 horas semanais, como noticia a Agência Brasil. Vale destacar que nos últimos 10 anos só a capital paulista perdeu cerca de mil médicos – que estiveram à beira de fazer uma greve em janeiro, impedida pela Justiça. O governo do estado prometeu contratações, mas nada mudou. Segundo o Sindicato dos Médicos de SP, há déficit de pelo menos dois médicos por unidade básica de saúde, para ficar somente na atenção primária da capital paulista.
Margareth Dalcolmo: “Desmemória em relação à covid é muito perigosa”
A médica e pesquisadora da Fiocruz diz ter ficado surpresa com a eleição de parlamentares que, durante a pandemia, agiram contra o conhecimento científico, como o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o segundo deputado federal mais votado do Rio de Janeiro. “Fico triste que a memória tão dura da covid-19, que deixou tantas cicatrizes, tanto luto, tenha ficado esquecida. Essa desmemória é muito perigosa. Ela representa uma espécie de negação.” Nesse sentido, ela lamenta que o país, por razões ainda insondáveis, apague as histórias de dor, sofrimento e luto que marcaram a vida de milhões. Ao comentar os efeitos futuros da pandemia, alerta que ainda se perderão muitas vidas por câncer e doenças cardiovasculares que demoram em ser rastreadas e tratadas.
Método inovador de combate ao aedes aegypti chega a Niterói
Após obter sucesso na Baixada Fluminense, o Método Wolbachia é adotado pela cidade de Niterói. Trata-se de criar e infectar em laboratório o mosquito aedes aegypti, transmissor da dengue, chicungunha e zika, que registram altos índices de infecção no país há anos. Criado na Austrália, o método foi trazido ao Brasil e segue sendo desenvolvido na Fiocruz. No experimento da Baixada Fluminense, as citadas doenças tiveram diminuição de 70%, 60% e 40%, respectivamente. Milhares de insetos, contaminados em laboratório com a bactéria, são levados a pontos diversos e soltos no ar, cruzando-se com mosquitos não infectados e gerando uma progressiva diminuição de seu poder de contágio. “Os ‘Wolbitos’ só podem voar com o consentimento dos moradores do território”, explicou Luciano Moreira, líder da pesquisa deste método, em matéria da Agência Fiocruz.
Poderá existir uma varíola dos macacos longa?
Matéria da revista STAT alerta para perigos ainda desconhecidos a respeito da nova varíola. Uma das razões é o fato de a doença ter se restringido ao continente africano durante décadas, mesmo sendo conhecida desde os anos 1950 e até ter vacinas eficazes em seu combate. São poucos estudos e artigos a respeito da enfermidade, alguns deles incompatíveis com a característica atual, quando o vírus contagiou basicamente homens que fazem sexo com outros homens. “É bem possível que tenhamos manifestações tardias de problemas urológicos em homens que se infectaram agora com a monkeypox”, declarou Walter Falconer, cirurgião especializado. Até a cegueira pode ocorrer, coisa que já aconteceu no surto de 1987 no Congo, ao passo que o Centro de Controle de Doenças dos EUA informou nesta segunda cinco casos de pessoas que tiveram infecção em um ou ambos os olhos.
Inteligência Artificial está superestimada na medicina
Artigo da Scientific American jogou água no chope dos entusiastas da Inteligência Artificial na prevenção de doenças por meio do simples cruzamento de dados. O texto mostra que as bases de dados que configuram os modelos são arbitrariamente limitadas a certos tipos de informação, ao passo que outros dados em saúde das pessoas ficam colocadas num grupo secundário. No entanto, as pesquisadoras passaram a fazer levantamentos com uma maior quantidade de informações e aferiram que a precisão algorítmica de previsões e diagnósticos diminuiu. “Infelizmente, não temos bala de prata para validar de forma confiável os modelos de IA. Para chegar a um nível satisfatório, profissionais e pacientes devem participar da produção de informações desde o início, sob supervisão de órgãos oficiais”.
Fuga de médicos na Espanha
Uma reportagem do El País mostra um drama que está em andamento na saúde pública espanhola: em 10 anos, mais de 24 mil médicos pediram certificados de habilitação para trabalhar fora do país, sendo que 18 mil migraram de forma permanente. O país é um dos símbolos do avanço do neoliberalismo no Ocidente, com políticas de desregulação econômica e trabalhista que conduziram a juventude à precarização e ao desemprego estruturais, que alcança ao menos 40% dos jovens. E nem essa prestigiada profissão escapa à lógica. A matéria retrata a equação: uma formação cara, seguida de salários insatisfatórios e jornadas exaustivas. Pior: cerca de 80 mil médicos devem se aposentar num país onde o envelhecimento da população é um fato. Governo fala em investir 50 bilhões de euros na formação de profissionais, mas especialistas dizem que isso por si só não será suficiente.