EUA: Trump radicaliza; cresce a chance de 3ª via

Ex-presidente ameaça “banho de sangue” caso não vença e fala em deportar milhões de imigrantes. Mas avança a tentativa de candidatura “não partidária” pelo movimento No Label. E Kennedy Jr. parece prestes a indicar uma vice

Trump segue com sua verborragia ofensiva em campanha (Official White House Photo by Tia Dufour)
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Em comício realizado neste sábado (16) em Dayton, Ohio, o ex-presidente e candidato republicano à Casa Branca Donald Trump teve muitas dificuldades para ler o teleprompter. Isso porque havia rajadas de vento que atrapalharam a logística dos equipamentos e o resultado foi uma fala de improviso, com o grau de insensatez característico do bilionário.

Mais uma vez repetiu o discurso de que as eleições de 2020 foram fraudadas e previu um cenário apocalíptico caso não seja o vencedor das eleições presidenciais em novembro. “Agora, se eu não for eleito, será um banho de sangue para todos – isso será o mínimo”, alertou. “Não acho que haverá outra eleição neste país se não vencermos esta eleição.”

A fronteira EUA-México foi também foco do discurso de Trump em Ohio, assim como as políticas fronteiriças em geral do atual governo democrata. “Uma das minhas primeiras ações será impedir a invasão do nosso país e enviar os estrangeiros ilegais de Joe Biden de volta para casa.”

O bilionário desumanizou os imigrantes mais uma vez. “Se você puder chamá-los de pessoas. Não sei se você os chama de pessoas. Em alguns casos, eles não são pessoas, na minha opinião, mas não estou autorizado a dizer isso porque a esquerda radical diz que isso é uma coisa terrível de se dizer”, vociferou.

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Nada no discurso de Trump é novidade, embora seu teor continue sempre chocante. Seus insultos são corriqueiros, o linguajar chulo também, e sua base gosta daquilo que considera ser seu “estilo”. O ex-presidente usa o discurso de ódio para mobilizar seus eleitores e a imigração é o bode expiatório da vez.

Mas o ex-presidente teve um revés na semana passada. Seu ex-vice-presidente, Mike Pence, fez uma declaração importante na sexta-feira (15) ao apontar que não vai apoiar seu ex-companheiro de chapa, embora tenha afirmado o contrário em um dos debates realizados entre os pré-candidatos republicanos em agosto de 2023, quando ainda estava na disputa. Na ocasião, apontou que o apoiaria mesmo se Trump fosse condenado criminalmente.

Contudo, chama a atenção a motivação alegada por Pence para não apoiar o ex-presidente. Na sua avaliação, o atual presidenciável de seu partido não é insuficientemente conservador em questões como o aborto, por exemplo. “Donald Trump está perseguindo e a articulando uma agenda que está em desacordo com a agenda conservadora com a qual governamos durante os nossos quatro anos”, disse Pence, invocando um suposto passado idílico. “E é por isso que não posso, em sã consciência, apoiar Donald Trump nesta campanha.”

Pence se diz cristão, conservador e republicano, “nessa ordem”. Seu não endosso aponta para uma disputa pelo legado do próprio Trump no Partido Republicano depois que ele sair de cena. Não só pela postura do ex-vice-presidente, mas também pelo que se viu entre os outros candidatos das primárias da legenda, dificilmente a sigla poderá sair do espectro da extrema direita nos próximos anos.

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Pence também espelha outras pessoas que já trabalharam próximas a Trump. O jornal The Washington Post lembra que a NBC News no verão passado contatou 44 ex-funcionários do gabinete do ex-presidente e descobriu que apenas quatro deles se comprometeriam a apoiá-lo àquela altura, quando se iniciava a disputa das primárias.

Nenhum deles, no entanto, tinha pretensões eleitorais imediatas como muitos que criticaram o ex-presidente no passado e hoje o apoiam. O extremismo dá votos e tem sido um argumento potente para converter políticos outrora tidos como moderados.

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Buscando aproveitar o vácuo da centro-direita antes ocupado em parte pelos republicanos, o grupo político que se autodenomina centrista No Labels anunciou na quinta-feira (14) que está lançando um “Comitê Country Over Party”, destinado a examinar possíveis candidatos para a chapa de unidade do grupo nas eleições de 2024 .

Com os dois principais candidatos da corrida à Casa Branca com elevada rejeição, a organização acredita que poderia emplacara uma candidatura com chances reais de vitória. O ex-senador Joe Lieberman , presidente do No Labels, também deixou aberta a possibilidade de que o grupo não lance ninguém caso não encontre dois nomes competitivos para compor a chapa e que estejam de acordo com os princípios do grupo.

“Se encontrarmos dois candidatos que atendam à nossa exigência elevada, recomendaremos a chapa aos delegados do No Labels para a votação de nomeação na convenção nacional que será realizada no final desta primavera”, acrescentou Lieberman em um comunicado.

O No Labels já conseguiu assegurar presença nas cédulas de 16 estados, diz, incluindo estados decisivos, os chamados swing states, como Arizona e Nevada.

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Sobre os candidatos que buscam ser a “terceira via” da eleição dos Estados Unidos, o mais forte e que aparece com dois dígitos em boa parte das pesquisas nacionais até agora é Robert F. Kennedy Jr., ex-democrata que lançou sua candidatura independente.

Além do sobrenome historicamente forte, ele pretende agregar uma companhia em sua chapa que também agregue votos. Ou recursos em doações. A expectativa do momento é que a escolhida poderia ser Nicole Shanahan, segundo o The New York Times. Ela é advogada e investidora da Bay Area, empreendedora da área de tecnologia e foi responsável por viabilizar financeiramente (por meio de doação) a peça publicitária de Kennedy que foi ao ar no intervalo do Superbowl, o espaço mais caro da TV estadunidense.

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