Pobreza americana

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Numa animação do “The Guardian”, e num número cada vez maior de ensaios e reportagens, a desigualdade que corrói a antiga “terra da oportunidade” 

Repare na animação acima. A narração é em inglês, mas os dados essenciais estão visíveis nos números e gráficos. Está exposta, com destaque, nas páginas eletrônicas do The Guardian, um dos grandes jornais diários da Inglaterra — e um dos de maior circulação mundial, em língua inglesa. Ela expõe, ao mesmo tempo, dois fenômenos.

O mais explícito é o aumento brutal da desigualdade nos Estados Unidos. Ao assistir à animação, fica-se sabendo, por exemplo, que, entre 1970 e 2010, o rendimento dos altos executivos cresceu, em termos reais, 400% — enquanto os salários dos trabalhadores que não estão em postos de gerência caíram quase 10% (de 31 mil para 28,3 dólares anuais). Também se descobre que 14,5% das famílias norte-americanas são hoje consideradas “completamente inseguras” — ou seja, sujeitas a viver situação de fome.

Enquanto isso, o consumo de carros de luxo cresceu 8,7%; o de produtos das grifes Louis Vitton e Givenchy, 13%; e o dos carros da marca Porsche, 59%. Ao final, o Guardian elogia o slogan de Occupy Wall Street (“We are 99%”)mas frisa: quem está realmente enriquecendo é o 0,01% mais rico. As políticas atuais estão prejudicando 99,99% da sociedade norte-americana.

E neste ponto, precisamente, está o segundo grande fenômeno. Nas últimas semanas — em especial depois que eclodiu o Occupy — está sendo quebrado, nos Estados Unidos, o silêncio sobre o crescimento do abismo social entre pobres e ricos. Um estudo recente mostrou que, após o movimento das ocupações, multiplicou-se o número de textos que tratam, nos jornais de maior audiência, o tema “social inequality”.

A mudança não é apenas quantitativa. Veja alguns dos textos que analisam em profundidade o grande avanço da desigualdade — esta nova pobreza da sociedade norte-americana.

  • A pobre classe média americana“: Num artigo publicado pelo New York Times e reproduzido por O Estado de S.Paulo, Robert Reich, um ex-secretário do Trabalho dos EUA, desvenda a relação entre o aumento da desigualdade e as políticas que ofereceram benefícios fiscais aos ricos nas últimas décadas, enquanto achatavam direitos previdenciários e desmantelaram sistemas de saúde, educação e mesmo formação profissional para as maiorias.
  • We are the 99.9%“: O economista Paul Krugman, mostra, no New York Times, que o 0,1% mais rico é constituído não de grandes inovadores emergentes, mas de minorias capazes de preservar e ampliar seu poder e riqueza: executivos de instituições não-financeiras (43%), executivos financeiros (18%) e advogados ligados à propriedade imobiliária (12%).
  • The broken contract” (“O contrato rompido”): Um vasto ensaio do jornalista e escritor George Packer na prestigiosa revista Foreign Affairs. Ele expõe o ambiente político — de crescente descompromisso político das elites com o país — que levou à concentração de riqueza. E sustenta: a situação atual ameaça tanto o prestígio internacional dos EUA quanto a própria ideia de nação que compartilha objetivos comuns. No momento em que ela se desfizer, estará sob risco a própria democracia norte-americana.
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3 comentários para "Pobreza americana"

  1. Milton Guimaraes disse:

    Sr. Hermann por favor nao podemos de forma alguma fazer uma compração entre os EUA com um de PIB de 16 trilhões de dolares com o Brasil. Sei que o capitalismo, principalmente o dos EUA, ao contrário da Europa tem uma politica centrada no sistema fiananceiro, isto é, exploração e especulação.
    Estão agora em duas frentes de guerra, uma qua ainda não terminou, o Iraque e a outra em pleno andamento o Afeganistão. Mas já abriram outra frentes para exploração do petroleo -Siria e Irã. Nos ultimos dez anos os EUA ficaram mais ricos e o seu Povo mais pobre. A desigualdade econômico-social se acentuaram com as recentes “bolhas”, mas nao para os especuladores.
    Aqui Hermann e didfrerernte, o Povão vai a lata de lixo e come as sobras e fica satisfeito. Uma quadrilha domina tudo e a todos, Não ha solução a curto prazo.

  2. Luiz Fernando Resende disse:

    …uma reflexão! Porque que todas as vêzes que se analisa uma situação o critério é sempre o comparativo??? …Não tem comparação,alhos com bugalhos. Os UEA são dominados pela mesma classe de poderosos que em qualquer local do mundo! A comparação, pode, criar a ilusão de que existe uma Justiça e uma Verdade universais e que sendo analisada de acordo com indices de “desenvolvimento humano”…será que esse e todos os outros tipos de analises comparativos, não estariam colocados para que as analises e conclusões fossem sempre ,culpando ou absolvendo pessoas ou povos?! Será que soluções estão no expediente do melhor ou do pior; do mais capaz e do menos ou mesmo naquele “classico” : PERDEDORES E VENCEDORES???!!!…será que todas as vêzes que eu comparo,não estou desviando a questão do seu leito real: a estrutura de poder? A classe que domina?!…

  3. Hermann disse:

    Vídeo genial. Mesmo assim, se compararmos com a situação da desigualdade no Brasil, os americanos ainda estão melhores. Fico pensando: por que a população brasileira não enxerga isso?

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