A França em chamas e uma resposta política

Revolta explode em dezenas de cidades, após novo assassinato de jovem negro pela polícia. Governo Macron reage com mais polícia e violência. Partido-movimento liderado por Jean-Luc Mélenchon propõe investimentos públicos e democracia real

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Um documento da LFI – Nupes | Tradução: Marcos Montenegro

“Os cães de guarda mandam a gente pedir calma. Nós pedimos justiça”. Foi o que disse Jean-Luc Mélenchon, líder do partido movimento A França Insubmissa (LFI), a propósito da verdadeira revolta social em curso no país , depois de mais um assassinato de um jovem negro, morador dos subúrbios de Nanterre pela polícia.

Na tarde de hoje sexta-feira (30/06), depois de três noites de manifestações populares, o governo conservador de Emmanuel Macron reforçava de forma inédita os dispositivos de repressão policial e examinava a alternativa de decretar estado de urgência (um regime de exceção). Já a aliança A França Insubmissa – NUPES (Nova União Popular Ecológica e Social) divulgou documento a seguir propondo que a Assembleia Nacional discuta um plano de emergência denominado “Justiça em todos os lugares”. Veja íntegra: (Marcos Montenegro)

POR UM PLANO DE EMERGÊNCIA “JUSTIÇA EM toda parte

A morte do jovem Nahel na manhã de 27 de junho, em Nanterre, desencadeou uma onda de emoção e raiva no país. Também funcionou como uma faísca, desencadeando em muitas cidades uma revolta em muitas cidades que exige urgentemente uma resposta política.

Diante dessa situação, o governo está preso a uma escalada verbal de segurança que só agrava a situação. Procura fugir à sua própria responsabilidade, atacando a França Insubmissa para mascarar a sua incompetência e incapacidade de agir. Ao mesmo tempo, renuncia à busca de uma saída para a crise e abandona os habitantes a uma inquietação que partilhamos em face da degradação dos bens públicos, da habitação e do comércio essenciais à vida quotidiana.

Como não defendemos nenhuma estratégia de violência, queremos que as causas da situação sejam enfrentadas, porque os problemas não são novos. Para os bairros populares, o racismo, a violência policial ou a discriminação no acesso ao emprego ou à moradia são o destino diário dos moradores. A destruição dos serviços públicos, da proteção social e da solidariedade associativa, pelas políticas de austeridade neoliberal, está ocorrendo há décadas. Para que haja concórdia, precisamos de ações efetivas por parte do governo – que hoje, como no passado, estão ausentes. Desde as revoltas de 2005, a conta não fecha.

Restaurar a confiança é mais difícil na medida em que o governo se distinguiu nos últimos anos por sua incapacidade de tratar as demandas populares para além do desprezo e da ignorância – tanto durante a mobilização dos coletes amarelos quanto nas lutas contra a aposentadoria aos 64 anos, incentivando assim a ideia de que nenhuma mudança é possível no quadro atual. Precisamos, portanto, de uma ruptura completa e de respostas excepcionais.

Para isso, solicitamos um debate na Assembleia Nacional, nos termos do artigo 50-1 da Constituição, para propor um plano de emergência que inclua:

  • A revogação imediata das disposições da “licença para matar” da lei Cazeneuve de 2017, responsável pela explosão de mortes após “recusas em cumprir” ordem policial;
  • A criação de uma comissão “Verdade e Justiça” sobre as violências policiais que resultem na morte ou mutilação de cidadãos para estabelecer todas as responsabilidades
  • O desaforamento de qualquer caso de violência policial, a reforma completa da Inspeção Geral da Polícia Nacional (IGPN) e a criação de um serviço de investigação independente.
  • O pagamento pelo Estado de indenizações a lojas, habitações e locais públicos danificados nos últimos dias.
  • Uma reforma profunda da Polícia Nacional para reconstruir uma polícia republicana bem treinada e livre de todas as formas de racismo, incluindo a dissolução das Bragadas Anticriminalidade (BAC), o restabelecimento do Código de Ética de 1986, o reforço da formação, a criação de uma verdadeira polícia comunitária e o fim das técnicas de imobilização letal. Temos de encerrar o período aberto por Sarkozy em 2002 que trata os jovens dos bairros operários como inimigo interno.
  • Um programa de ação abrangente contra a discriminação, incluindo a criação de um Gabinete para a Igualdade, unidades especializadas nos tribunais de recurso e a introdução do recibo de verificação de identidade para combater a abordagem policial a partir do controle facial.
  • Um plano de investimento público nos bairros operários para a recuperação dos serviços públicos, da habitação, das escolas públicas, do acesso à saúde e à cultura e do financiamento de associações e centros sociais

Grupo Parlamentar A França Insubmissa – Nova União Popular Ecológica e social (NUPES)

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Um comentario para "A França em chamas e uma resposta política"

  1. José Mario Ferraz disse:

    À medida que o povo se conscientize de que é o verdadeiro senhor, mais se aproxima o tempo da substituição da cultura do venha a mim e os outros que se danem. Os franceses já iniciaram um movimento nesse sentido.

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