Catalunha: Madri exige rendição total
Governo espanhol ameaça prender líderes catalães; aposta na força das armas e na pressão das grandes empresas
Publicado 10/10/2017 às 12:38 - Atualizado 13/12/2018 às 15:23
.
Por Nuno Ramos de Almeida, de Barcelona, no ionline
O presidente da Generalitat vai esta terça-feira ao parlamento da Catalunha falar sobre a situação política. O edifício estará rodeado de milhares de pessoas a pedir a independência
Para garantir este cenário no terreno, Madrid reforça a presença militar na Catalunha, tendo enviado mais uma fragata para Barcelona e unidades especiais da Guarda Civil para pontos nevrálgicos da região rebelde, como o aeroporto internacional de Barcelona. A fragata Navarra e os navios caça-minas Segura e Sella chegam hoje ao porto de Barcelona, juntando-se aos mais de 10 mil efetivos da Guarda Civil e da Polícia Nacional, vindos de toda a Espanha, que já lá estão e à chegada recente das unidades militares de logística do Exército de Terra às localidades catalãs de Sant Boi e Llobregat, para dar apoio às forças policiais deslocadas para a Catalunha.
O presidente do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha já está a atuar em cenário de possível conflito e colocou a segurança das instalações dessa instância judicial, que tem atuado com mão pesada contra os independentistas, nas mãos da Polícia Nacional, retirando a competência exclusiva da missão aos Mossos d’Esquadra.
Resposta catalã A Assembleia Nacional Catalã convocou uma manifestação à frente do parlamento para as 18 horas (17h em Portugal), hora a que está prevista a intervenção de Carles Puigdemont perante os deputados sobre a “situação política”.
Segundo a lei do referendo, aprovada pelo parlamento catalão e considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional espanhol, esta sessão devia servir para comunicar os resultados do referendo e atuar em função disso.
“As exortações à repressão, os pedidos de prisão, assim como a repressão à nossa liberdade política, converteram a declaração de independência na única saída”, declara Jordi Sànchez, líder do ANC.
O governo de Madrid pretende humilhar o executivo catalão e parece querer deixar-lhe pouca margem para recuar. Mas o campo independentista não tem uma liderança unificada e os setores mais à direita ficaram assustados com a fuga das sedes sociais das principais empresas da Catalunha para fora da região.
O independentismo bate-se com um dilema: se avança sem força para garantir no terreno a independência – não tem poder militar para garantir essa decisão contra a vontade de Espanha, nem um plano económico que preveja a sua expulsão da União Europeia -, arrisca-se a perder tudo o que conquistou em termos de autonomia, sem ganhar nada. Mas se recua, arrisca-se a lançar a maioria da população que o apoiou na descrença e perder essas pessoas para o processo político durante gerações.
Uma das soluções possíveis de recuo, menos dura, é algo já feito, de certa forma, em 2015: antecipar as eleições para o parlamento catalão e fazer delas um referendo à independência, centrando toda a campanha no tema da independência.
Em 2015, isso deu 48% dos votos aos partidos independentistas e 38% aos espanholistas, incluindo-se nestes os federalistas do Partido Socialista da Catalunha. Seria um passo difícil para o independentismo, até porque não há nenhuma garantia de que a via judicial para criminalizar os políticos independentistas não fosse usada até às eleições. Provavelmente, tal como Artur Mas, os principais dirigentes independentistas seriam proibidos de concorrer e, a exemplo do País Basco, Madrid, para garantir uma vitória eleitoral, poderia até chegar a proibir partidos políticos. Há ainda outra questão: parte da população que apoia o referendo poderia recuar, para evitar mais problemas e conflitos, num país em que Madrid manda cada vez mais, mas em que se vive bem.
Talvez por isso, a agência de rating Moody’s divulgou um documento em que considera positivas as decisões do bancos Sabadell e CaixaBank de mudarem as suas sedes sociais para fora da Catalunha, “para restabelecer a confiança dos investidores”, embora preveja que a Catalunha não conseguirá a independência. “A nossa expetativa é que a Catalunha continue a ser parte de Espanha.”
3 comentários para "Catalunha: Madri exige rendição total"
Os comentários estão desabilitados.
Tranquilo, que nao voltarei a entrar. Foi divertido ler seus historias. Fiquem a vontade contando o que quiser.
Não sabia que neofranquistas leiam este blog. Tal vez temos que escrever mais artigos como o de Nuno para informar mais amplamente sobre as biografias dos membros do gabinete de ministros atuais da España. O trata-se de um membro da policia politica da Embaixada de España em Brasilia. Em todos os casos, recomendamos ao Carmelo de se limitar a ler o “Arriba”.
Interessante o articulo de ciencia fiçao. Deixa de mentir sobre Espanha!!! P