Eleições nos EUA: o que temos com isso?

Em condições normais, poderíamos assistir a elas como mera curiosidade, nos ocupando apenas em zombar de quem se comporta como se fosse votar por lá. Mas a articulação internacional do fascismo, e suas fores repercussões no Brasil, mudam tudo

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A direita liberal e a mídia corporativa normalizam o fascismo ao tratá-lo como alternativa política aceitável. Assim, tornam-se cúmplices do mal maior da modernidade: a gestão do capitalismo sem as conquistas civilizatórias da burguesia revolucionária dos inícios da modernidade e as das organizações dos trabalhadores e movimentos de esquerda dos séculos posteriores.

A articulação internacional do fascismo acende um alerta de ameaça de terror global, pior ainda do que o que já vivemos.

Dizer que “B é pior do que A” não significa dizer que A é bom. É angustiante ter de repetir uma afirmação tão óbvia, uma vez que “pior” significa, primeiramente, “mais ruim”. Quem insiste em dizer e repetir que uma coisa é ruim só porque alguém disse que uma outra é pior, erra grosseiramente no uso elementar da lógica. Alguém realmente acha que a afirmação de que chikungunya é pior que dengue faz a dengue deixar de ser uma doença e passe a ser uma bendição?

Porém, algo tem travado a capacidade de entendimento das pessoas e precisamos urgentemente identificar as causas para destruir essa trava. Além de irritante, essa falta de conexão de ideias é perigosa e bloqueia toda possibilidade de ação consequente e opinião sensata.

Além de cometer esse mesmo equívoco lógico, a esquerda repete o erro da direita liberal e da mídia corporativa quando insiste em equiparar as duas candidaturas à presidência dos EUA e nivelar seus resultados para o mundo. Isso equivale a admitir o fascismo como alternativa normal, sob o argumento (por sua vez, correto) de que ambas as candidaturas representam o imperialismo cruel e intervencionista dos EUA.

Pois, não foi algo semelhante que levou a direita e a mídia brasileira a aceitarem o capitão fascista como alternativa nas eleições nacionais de 2018, ou seja, por não enxergarem em Haddad o representante ideal de suas ideias políticas? Não foi “uma escolha difícil”, para elas?

O fato é que a articulação internacional do fascismo (muito mais coesa e ativa que qualquer articulação da esquerda mundial no presente) aposta suas fichas na eleição de Trump e será fortalecida com sua vitória. Mesmo que fosse apenas simbólico (mas não é!) o efeito da derrota de Trump para a extrema direita mundial já valeria a vitória da candidata democrata.

Os problemas do bloqueio à Cuba e Venezuela, do genocídio palestino, das guerras, do apoio ao capital financeiro, indústria de armas, petróleo, fármacos e biotecnologia, das espionagens e intervenções na soberania dos países do mundo, da violação do direito internacional etc. seguirão. Afinal, alguém imagina que esses problemas se resolvem apenas com eleições nos EUA? Para quem acredita que o governo estadunidense controla realmente o Estado, resta o famoso bordão do Compadre Washington: “sabe de nada, inocente!”.

Não fosse o DNA nazi-fascista de Trump e dos trumpistas e a articulação internacional da extrema-direita, que terá um enorme reforço com a eleição do candidato republicano, poderíamos assistir a eleição dos EUA como mera curiosidade, ou sequer nos preocuparmos com ela, como muitos faziam no passado. Poderíamos nos ocupar apenas em zombar de quem se comporta como se fosse votar em um dos candidatos de lá.

Realmente, nossa opinião ou posicionamentos não têm absolutamente nenhum impacto nas eleições estadunidenses, mas nem por isso precisamos exercitar a cegueira analítica de forma tão despreocupada. Isso pode viciar e afetar nossas opções para as eleições locais.

O mais importante é que teremos eleições municipais no Brasil este ano e é aqui que votamos. Em nosso país também precisamos deter o avanço da extrema-direita. Mas em um mundo cada vez mais integrado, não podemos deixar de pensar globalmente e nas consequências locais da política internacional.

Inclusive, os desafios das nossas eleições municipais se conectam com o projeto do fascismo mundial, do qual Trump é um poderoso representante. Isso é assunto para outra reflexão.

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