Atentado: Cinco perguntas incômodas

Por que um prédio tão próximo ao palanque de Trump não foi vigiado? Que levou os contra-atiradores a esperar? Como os agentes, embora alertados, nada fizeram? Qual o grau de proximidade política entre o Serviço Secreto e a campanha de Donald Trump?

Foto: Evan Vucci/AP
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Por Juliette Kayenn, no The Atlantic | Tradução: Antonio Martins

O presidente Joe Biden prometeu uma apuração completa de como um homem de 20 anos quase conseguiu assassinar o ex-presidente Donald Trump. Esta será uma “revisão independente” – como necessário, porque o Serviço Secreto dos Estados Unidos não pode julgar a si mesmo. Audiências no Congresso também ocorrerão. Ambas as formas de investigação exigirão um relato sério de tudo o que aconteceu, ou não aconteceu. A agência tinha uma tarefa – proteger uma figura política importante de danos físicos – e falhou.

Cinco perguntas devem guiar essas revisões:

Por que a posição do atirador estava fora do perímetro de segurança?

O prédio usado pelo atirador parece muito próximo ao palanque de Trump, e a linha de visão de um potencial assassino do telhado era surpreendentemente clara. Perímetros de segurança são tipicamente estabelecidos para conter a multidão. Quem estiver dentro do perímetro estará sujeito a escrutínio adicional, incluindo (como foi o caso no sábado) a detecção de armas. Ameaças fora do perímetro de segurança existem. De alguma forma, um atirador com uma arma do tipo AR conseguiu chegar a 150 metros do personagem protegido. Investigadores e o público precisam entender as qualificações do agente que escolheu o perímetro daquele local, incluindo se ele ou ela era um agente local do Serviço Secreto de Pittsburgh ou um membro do efetivo presidencial. (Agentes locais conhecem melhor o terreno; membros do efetivo presidencial têm muito mais prática.)

Como foi entendida e enfrentada a ameaça do atirador?

O Serviço Secreto implantou contra-atiradores no evento. Essa equipe neutralizou o atirador. Mas isso também deve significar que a agência entendeu que um atirador poderia, possivelmente, mirar no ex-presidente. “A implantação é a prova de que eles sabiam da probabilidade de uma ameaça de grave no comício no sábado,” disse-me Jonathan Wackrow, um ex-agente do Serviço Secreto no efetivo presidencial do presidente Barack Obama. “Então, por que não tentar eliminá-la antes que chegasse onde chegou?”

Planos de segurança para eventos envolvendo um presidente ou ex-presidente tipicamente envolvem uma combinação de agências federais, estaduais e locais. Se a investigação confirmar que, como autoridades policiais disseram à Associated Press, pelo menos um policial local recuou após o suspeito apontar uma arma para ele, então talvez essa dependência de equipes locais deva ser reconsiderada.

Quem disse o quê a quem?

Relatórios iniciais sugerem que a polícia local, pelo menos, considerou o agressor como suspeito, embora ele não tenha entrado no perímetro de segurança. Participantes do comício também tentaram alertar a polícia. Que nenhum agente tenha parado uma pessoa que despertou suspeitas ou a seguido é uma grande falha de comunicação. A consciência situacional é um dos aspectos que mais se treina em qualquer plano de segurança, mas neste caso ela pareceu simplesmente não existir.

Por que os agentes pareciam se mover tão devagar?

Depois que os tiros foram disparados, pareceram passar segundos antes que os agentes interviessem. Trump conseguiu ter tempo suficiente para se virar para a multidão com um gesto desafiador com o punho, o que leva à questão de se os agentes seguiram protocolos básicos para protegê-lo de qualquer ameaça adicional. Há muito tempo há rumores – reforçados por testemunhos na investigação do Congresso de 6 de janeiro – de que havia membros do Serviço Secreto próximos demais de Trump. Embora se esperasse que agentes que nutrem lealdade pessoal ao ex-presidente o protegessem vigorosamente, eles também poderiam estar mais inclinados a aceitar exceções às regras que muitos dos protegidos acham sufocantes.

Que tipo de agência o Serviço Secreto quer ser?

O Serviço Secreto foi criado em 1865 para combater a falsificação generalizada. Atualmente, sua missão é dividida em serviços de proteção e investigações financeiras, em muitos casos envolvendo crimes cibernéticos e bancários. Este último papel é um legado de sua posição original no Departamento do Tesouro, mas toda a agência foi transferida para o Departamento de Segurança Interna. Trump, quando presidente, brincou com a ideia de reverter a transferência; a questão real, no entanto, não é a qual departamento o Serviço Secreto pertence, mas sua missão dupla. Talvez o ele deva transferir suas funções de investigação financeira para outra agência e se concentrar exclusivamente em defender presidentes, ex-presidentes e outros protegidos importantes de agressores que tentariam alterar o curso da política pela força.

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