Um pé-de-cabra para resgatar o Brasil
Miséria espraiou-se a dezenas de milhões; 2021 pode ser pior. Setores do empresariado mostram-se temerosos: sem R$600 e socorro ao comércio, economia travará. Escapar da tragédia requererá oposição robusta contra o pesadelo ultraliberal
Publicado 26/04/2021 às 15:53 - Atualizado 26/04/2021 às 15:55
Um dos editores mais enrabichados com o mercado no plantel do InsperNews, Fernando Canzian, assina reportagem cuja conclusão é cristalina, ainda que, por motivos óbvios, ele não a redija: sem R$600 até o fim da pandemia para todos que precisam (mais socorro para valer aos MEIs, MPMEs, SUS, prefeituras e estados), o Brasil se desfará.
O Brasil, na ausência desses programas vigorando desde ontem, se desfará por uma composição de horrores:
i) a impossibilidade de haver isolamento social sério sem dinheiro para comer, mantendo a pandemia em níveis estratosféricos de contaminação e letalidade;
ii) a fome endêmica e espraiada garantida pelo auxílio-merreca matando muitos mais, principalmente crianças;
iii) o colapso de vendas no varejo, que evidentemente resultará em trava na produção industrial voltada ao atendimento do mercado interno e, em efeito cascata, na queda acentuada do PIB e da arrecadação tributária.
A íntegra da matéria está acessívelaqui. Abaixo, alguns trechos antecedendo um alerta a nós mesmos, os da oposição.
“Maior novidade da paisagem econômica brasileira no início deste século, a chamada classe C está sendo empurrada rapidamente de volta às classes D e E.
Ou, o que é pior, indo direto para a miséria pelas consequências da Covid-19 e da desorganização das políticas de mitigação da pandemia do governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Pesquisas de diferentes órgãos revelam não só que dezenas de milhões de brasileiros retrocedem a situações mais precárias desde o ano passado mas que suas vidas podem continuar piorando em 2021.
(…)
Com renda domiciliar de quase R$ 4.000 antes da pandemia, ela, o marido e duas filhas agora vivem de doações para comer e moram em um terreno invadido no Jardim Julieta, na zona norte de São Paulo.
Ali, com redes de água e luz irregulares, ao lado de centenas de casas improvisadas, temem, dia e noite, acabar despejados e sem ter para onde ir.
Antes da pandemia, Noemi vendia quentinhas a alunos de uma faculdade na Vila Maria enquanto o marido trabalhava como garçom.
(…)
Segundo Lucas Assis, economista da Tendências, a massa de rendimentos (salários, Previdência, programas sociais, etc.) das classes D e E deve encolher 14,4% neste 2021.
Já a da classe A (empresários, funcionários públicos, etc.) pode crescer 2,8%, sobretudo por causa da recomposição das margens de lucro que os empregadores vêm perseguindo.
Com menos renda disponível e cada vez mais numerosas, as classes D e E, que normalmente gastam imediatamente quase tudo o que ganham, não devem funcionar como grandes propulsoras da atividade econômica neste ano.
‘Pior remuneradas, ainda mais informais do que antes e diante da inflação de alimentos e combustíveis, essas parcelas da população terão pouca renda disponível’’, afirma Assis.”
Corretamente, as oposições no Congresso operaram para viabilizar recursos, ainda que muito inferiores ao necessário, para pequenas empresas, suporte a empregos e para o SUS, atropelando na prática as travas fiscais absurdas (teto de gastos, meta de primário, regra de ouro et caterva).
Ora, se abriu-se essa porta (não, não sou inocente, sei que a força motriz foi a farra das emendas), passa muito da hora de arrombá-la, usando a exigência de entrada em pauta da MP 1039 como o pé-de-cabra para derrogar a loucura ultraliberal de constitucionalização do limite de R$ 44 bi para o auxílio emergencial e passar a pagar já os R$600 para todos que deles dependam e até quando forem necessários.
Uma oposição que pretenda de fato deter nossa marcha para o precipício sem fundo deve essa atuação ao povo e à Nação.
Já.