BNDES: Por que apoiar a Economia Solidária

Em resposta a artigo publicado em Outras Palavras, economista se junta à defesa do banco contra a narrativa que o criminaliza, e aponta: não pode abdicar de impulsionar empreendimentos sociais com base em novos arranjos produtivos

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Muito bem fundamentado e convincente o artigo “Por que é urgente descriminalizar o BNDES”, publicado por Outras Palavras. Extremamente oportuno, ademais, dada a conjuntura em que o nosso governo vem desmentindo cabalmente muitas outras falácias de vários tipos que dominaram a narrativa da ultradireita a respeito dos governos de esquerda.

Mais importante seria a contribuição das companheiras e companheiros que assinam o artigo caso tivessem tido a oportunidade, no espaço que sempre é escasso em artigos dessa natureza, de analisar qual seria o papel do BNDES no âmbito de um projeto de desenvolvimento distinto daquele que transparece da análise que fizeram.

Esse outro projeto de desenvolvimento está sendo expressado no nível global pela crescente preocupação das organizações que representam os interesses menos imediatistas do establishment capitalista. A insuspeita ONU há poucas semanas ressaltou o significado da emergência de novos arranjos econômico-produtivos na cena internacional.

Distinguindo-os da empresa baseada na propriedade privada dos meios de produção, na heterogestão e na competição, elas estão chamando a atenção para a importância daquilo que nós aqui denominamos redes de Economia Solidária, baseadas na propriedade coletiva dos meios de produção, na autogestão e na solidariedade.

Argumentos e evidência empírica substantivos e crescentes no plano global estão mostrando que a empresa, com sua lógica autocentrada, atomizada e, numa palavra, inerentemente privada, não será capaz de internalizar as externalidades negativas de natureza econômica, social, ambiental e até civilizacional que estão abreviando nossa existência neste planeta. 

No nosso país, somando-se a esses argumentos e evidências, existem outros talvez ainda mais convincentes indicando a necessidade de ação imediata. Entre eles a de que dos 180 milhões de brasileiros capazes de trabalhar e gerar renda e riqueza (População em Idade Ativa), apenas 30 milhões têm carteira assinada; e que existem 80 milhões que nunca tiveram e provavelmente nunca terão emprego. Ou seja, que existem muitos milhões de trabalhadores que nunca poderão desfrutar daquilo que as empresas e seus proprietários acenam como uma recompensa, ainda que bem menor do que sua contribuição para a geração de renda, como compensação pelo esforço que significa sobreviver num país onde as taxas de juros e de lucro são as maiores do mundo.

Urge, por isso, que equipes da qualidade como aquela que assina aquele artigo abracem a tarefa de refletir acerca de como adequar nossas instituições ao novo cenário que está sendo em todo o mundo construído. E não há dúvida de que o BNDES, honrando o seu “S”, deve aliar-se à classe trabalhadora que o sustenta para viabilizar a expansão e consolidação da economia solidária. Em particular, tornando-a capaz de disputar com a empresa privada uma parcela menos ínfima da compra pública.

É importante que essas equipes tirem proveito de movimentos em curso. Entre eles o que está gerando a proposta da reindustrialização solidária em alguns círculos da esquerda e a adaptação das agendas de ensino, pesquisa e extensão de nossas instituições para satisfazer à demanda tecnocientífica – complexa e original – embutida nas necessidades materiais coletivas por bens e serviços hoje insatisfeitas.

Coerentemente com a viabilização da utopia em construção que é a reindustrialização solidária, é importante evitar que ela seja esquecida devido ao impulso que se quer dar à Neoindustrialização.

Como sugerido num artigo aqui mesmo publicado, é necessário que essas equipes conheçam o que o Estado compra, de quem ele compra e quanto custa o que ele compra. Afinal, isso é quase 18% do PIB; e com os 0,5% do Bolsa Família foi possível tirar 30 milhões da miséria.

E a partir de informações como essas que os agentes públicos serão estimulados a driblar (e remover) o que ali se chama “entulho burocrático-fiscal” e, com segurança e compromisso público, alocar o poder de compra do Estado para alavancar um ator distinto da empresa, a Economia Solidária.

Paulatinamente, mediante o esforço concertado em que participarão muitas trabalhadoras e trabalhadores do conhecimento, reprojetando a Tecnociência Capitalista na direção da Tecnociência Solidária, iremos construindo o cenário que o país e o mundo necessitam.

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2 comentários para "BNDES: Por que apoiar a Economia Solidária"

  1. Ajuda sempre bom pois sou mãe solteira preciso muito

  2. Jéssica Pires Passos disse:

    Seria muito bom trazer um pouco disso pra ilha grande

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