2026: As novas incertezas do cenário eleitoral
Publicado 17/11/2025 às 18:02

Por Rômulo Paes de Souza | Imagem: Aroeira
Título original:
As incertezas quanto às chances eleitorais para 2026
Até março de 2025, a maioria dos cronistas políticos vaticinavam que este seria o último governo do presidente Lula. Os adversários de sempre não suportam sua política econômica. Os simpatizantes ou aqueles que não lhe eram hostis pontuavam que o governo estava travado pela condição de ser minoria no Congresso, pela comunicação deficitária e pela ausência de um conjunto de políticas públicas que empolgasse a sua base eleitoral. A eleição de Donald Trump se apresentava como mais uma evidência dessa profecia.
Nos EUA, diz-se que o primeiro mandato serve como ponte para o segundo, sendo este último o que assegura um lugar na história. Trump resolveu fazer história a sua maneira. Com uma política internacional semelhante à dos anos 30 do século passado, adicionada a muito improviso, o presidente da grande potência norte-americana introduziu seu país em um atoleiro de pressão inflacionária, desemprego crescente em vários ramos da economia e baixa credibilidade internacional. Tornou-se o rei das manchetes diárias dos grandes jornais de todo o mundo, seja pelas decisões perigosas que expõem outros países, seja por se encontrar na condição oposta àquela que havia prometido na campanha eleitoral. Ele nem lidera externamente, nem provoca o aumento do bem-estar interno.
A série de agressões tarifárias, seguidas de restrições diversas e de discursos mentirosos sobre os países e as suas lideranças políticas, trouxe crises, mas também oportunidades. Muitos chefes de Estado e líderes nacionais colheram bons resultados eleitorais neste combate, quando perceberam a chance de liderar os seus concidadãos. O Brasil, que por meses figurou como um dos alvos principais das investidas trumpistas, resistiu com altivez em defesa de sua soberania. No momento, os norte-americanos travam outra frente de combate com a China, abrindo espaço para uma etapa distinta nas negociações e nas relações entre Brasil e EUA.
O presidente Lula também agiu de forma certeira às atitudes adversas do parlamento, tendo se beneficiado de forma expressiva com a aprovação no Congresso da isenção do imposto de renda de quem ganha até cinco mil reais ao mês. A partir de agosto de 2025, o jogo virou em favor do governo federal. Logo, começou a especulação de vitória no 1º turno, nas eleições do ano que vem. Em contexto de julgamento do 08 de janeiro, o governador de São Paulo, que fora ungido pelo mercado para suceder a Lula, ajustou suas expectativas eleitorais e prometeu disputar um segundo mandato no estado que governa.
Entretanto, na política navegar não é preciso. No Rio de Janeiro, no dia 28 de outubro de 2025, uma operação do Governo Estadual realizada contra o Comando Vermelho, nos complexos da Penha e do Alemão, surpreendeu a todos pelo grande número de policiais envolvidos, pela repetição dos erros já cometidos em outras operações do gênero e pelo enorme número de vítimas. Uma ação que contou com um contingente de 2,5 mil policiais teve como saldo quatro policiais e 117 suspeitos mortos, muitos sem ficha criminal. A contundência da ação e da narrativa política justificadora desta ação indicam um novo patamar da intervenção violenta perpetrada pelo Estado. A avaliação positiva dos cariocas, mesmo de moradores das favelas, colocou momentaneamente o governador Claudio Castro em um novo patamar eleitoral. Até então, o amargava a dificuldade para conseguir legenda para concorrer ao senado pelo PL. No momento, ele acredita que essa ação o emancipou da família Bolsonaro e alterou a correlação de forcas no interior de seu partido. Para alguns, a ação policial no Rio de Janeiro teria inclusive recolocado o governador de São Paulo de volta a disputa presidencial1.
De imediato, vários analistas que nutrem afetos distintos pelo presidente Lula convergiram para o tema da segurança como a grande bandeira que dará coesão à direita brasileira até às eleições do ano que vem. Cinco argumentos são reiterados: 1) O medo tem funcionado historicamente como ponto de coesão em vários países, tendo a direita explorado repetidamente com mais competência essa capacidade; 2) A anistia dos golpistas de janeiro de 2023 perdeu força e nunca produziu adesões além da bolha da extrema direita; 3) A esquerda brasileira sempre se apresentou dividida em relação ao uso da repressão ostensiva no enfrentamento da criminalidade; 4) A presença das três mais importantes organizações criminosas do país (Comando Vermelho, Primeiro Comando da Capital e Terceiro Comando Puro) aliados ao crescimento das milícias tomou proporções gigantescas nas grandes e médias cidades do país; 5) O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, concedeu ao deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) a relatoria do projeto de lei (PL) Antifacção, que foi proposta pelo governo Lula. Trata-se de uma das iniciativas do governo federal frente à ascensão das facções e milícias.
Novamente os jornais, passam a especular quanto a volta do governador Tarcísio ao páreo presidencial2, ao tempo em que noticiam o crescimento da liderança internacional do presidente Lula, proporcionado pela grande exposição que receberá ao longo da COP 30.
O novo contexto não indica ainda uma uma mudança na tendência eleitoral. Contudo indica pontos importantes: como a agenda econômica da direita não tem grande apelo eleitoral, é de se esperar que o tema segurança pública seja o cimento das alianças políticas em torno de quem vier a defender o legado de Bolsonaro nas eleições; a descapitalização política acelerada de Bolsonaro e família pode fazer com que ele indique já em dezembro o seu representante nas eleições; o governo federal deverá apresentar uma proposta mais consistente sobre segurança pública. Um conjunto de iniciativas devem valorizar o tema, sem prejuízo de suas políticas sociais que dão lastro a sua reputação de presidente de ações que promovem a inclusão e reduzem as desigualdades.
De qualquer forma, o presidente Lula terá uma eleição difícil em 2026, ainda que seja o favorito a vencê-la. Já o governador Claudio Castro e seus aliados estão desafiados a mostrar que sua política de segurança é algo mais consistente do que operações que terminam em chacinas. Afinal, não somente segurança está na lista das prioridades dos eleitores. Para votar no Rio e nas maiores cidades brasileiras também importa a percepção de melhoria e a convicção de a vida pode ficar melhor. Nesse ponto, o presidente Lula tem entregas mais convincentes dos que seus adversários, e tem também mais chances de trazer soluções efetivas para a área de segurança pública.
1 https://oglobo.globo.com/blogs/bela-megale/post/2025/11/por-que-claudio-castro-acredita-que-recolocou-tarcisio-na-disputa-presidencial-de-2026.ghtml
2 https://oglobo.globo.com/blogs/lauro-jardim/post/2025/11/tarcisio-se-prepara-para-a-disputa-presidencial.ghtml
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