Projeto abre roda de conversação sobre o samba paulistano
Publicado 16/08/2012 às 12:36
“Desde que o Samba é Sampa”, da jornalista Maitê Freitas, promove debates, exposição de fotos, exibição de filmes, mapa das rodas paulistanas e documentário
Por Bruna Bernacchio
Foi numa roda de samba que o projeto nasceu. Nada mais justo. A nega estava no Samba do Monte, com a Velha Guarda das Rosas de Ouro, quando ouviu se perguntando: “O que faz uma roda de samba ser uma roda de samba?”. Seu pensamento logo emendou: “Isso dá samba. Mas não sou sambista, sou da pesquisa. Vou fazer.” Assim a luz da ideia chegou, como o poder da criação.
Mas então a menina, crescida no Grajaú, zona sul de São Paulo, percebeu que quase tudo o que ela ouvira desde pequena vinha do Rio de Janeiro. Cartola e Paulinho sempre foram velhos amigos companheiros. E aí então ela se voltou pra sua própria cidade, quis redescobrir o samba nas vielas e botequins desse cinza que tantas cores esconde. O que há por trás dessas rodas, espaços tão genuínos de manifestação popular? Como que a cultura afro-descendente se constrói junto com o crescimento da cidade?
O samba, que já encantava a morena Maitê, passou a ser o seu respiro, o seu balanço, que cadenciado foi indo devagarinho, crendo na intuição. Um pedido ao preto velho, e as portas se abriram. O projeto “Desde que o Samba é Sampa”, ou somente “Samba Sampa”, aflorou e conseguiu recursos essenciais. E na mandinga, o que é problema vira solução; se não tem pandeiro, vai no fósforo. Afinal, pra falar de samba também tem que ter jogo de cintura.
E de sambamor, os sambistas foram se achegando e aceitando parceria sem titubear. Porque samba não é só um gênero. É sentimento, encontro. A palavra, de origem bantu, significa “dar” e “receber”. E assim, com toda a magia que só o samba tem, chegou o dia. A primeira das três partes do projeto está acontecendo entre esta quinta-feira e sábado.
Na Galeria Olido, o “samba-conversação”: um ciclo de rodas-debates, samba-reflexão, cheio de ilustres presenças, encontro da velha com a nova guarda [flyer abaixo e programação completa aqui]. Ao mesmo tempo, uma homenagem àquela que é a Clemência do Samba, a Rainha de Quelé – Clementina de Jesus-, com exibição de documentários e exposição de fotos. No sábado, o “samba-paralelo”, na Casa de Cultura do Grajaú, terá exibição dos filmes “Sou Negro, Não sei Sambar” e “Geraldo Filme”, além de, é claro, uma roda de música pra encerrar, com improvisação do Virado a Paulista.
E essa é só a primeira parte do projeto, que terá como materialização a edição de uma revista online [no site do projeto] e impressa, onde serão publicados textos, entrevistas, fotos e vídeos das rodas-debates. Depois disso, o plano é fazer uma pesquisa de campo – aproveitando também, é claro, o que já foi feito -, para delinear um mapa das rodas de samba paulistanas e suas histórias – que deve render um livro -; e um documentário, reunindo todos os registros feitos ao longo do trabalho. Não há quem possa resistir.
Salve Semba! Saravá!
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