Os velhos jornais suicidam-se no altar do Facebook?

A man is silhouetted against a video screen with an Facebook logo as he poses with an Dell laptop in this photo illustration taken in the central Bosnian town of Zenica

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Ao publicarem matérias inteiras numa plataforma que mistura propositadamente informação e entretenimento, “New York Times”, “Guardian” e outros podem estar chocando o ovo da serpente

Por Bruno Torturra, em sua página no Facebook

Comercialmente talvez – nada mais que talvez – faça sentido o NYT e outros grandes veículos entrarem nessa de fornecer conteúdo direto ao Facebook. Ainda espero os detalhes das condições e fontes de receita para os jornais para fazer um juízo menos precipitado.

Mas por enquanto me parece um erro grave.

Em parte entendo a capitulação. “Una-se a eles”, diz quem entende que já não pode vencê-los. Mas ao dar ainda mais força, consolidar ainda mais essa rede social como o feixe central da troca e difusão de informação no mundo, esses veículos podem não estar entrando no time vencedor. Mas chocando o ovo da serpente.

Porque para mim a arquitetura do Facebook é a exata corrosão de muitos fundamentos jornalísticos – justamente os que instituições como NYT e Guardian deveriam preservar – em prol de uma dinâmica que dissolve as barreiras do entretenimento e do jornalismo, da mera distração e da notícia, da relevância social e dos interesses estritamente pessoais.

E isso tem efeito especialmente nefasto, me parece, no papel mais importante do jornalismo. Que não é gerar audiência ou tráfego. Mas impacto. E é justamente isso que tenho sentido ultimamente. Um acelerado processo de erosão do impacto que o jornalismo causa na sociedade. E a ascensão do ruído, da falta de contexto, do buzz e da cultura de trends e hashtags como os maiores influenciadores da opinião pública. Isso muda a forma como público entende e consome jornalismo. E tende, a curto prazo, a transformar tudo nessa palavra leve, porém perigosa: conteúdo.

Claro que o processo é bem mais complexo do que isso. Mas o Facebook é protagonista nisso. E sua estrutura não indexada, sem mecanismo de busca, compulsiva e impermeável, tende a aprofundar esse cenário.

Claro que posso – e no fundo espero – estar errado. Mas ao abraçar o Facebook como parceiro, o NYT e grande elenco podem estar cometendo um erro equivalente, digamos, ao do PT dando os braços ao PMDB. Você pode até chamá-lo de parceiro. Mas quando você olhar pro lado… eles tomaram algo que não estava no contrato: a sua alma.

Agora, pronto. Dá um like aí.

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Um comentario para "Os velhos jornais suicidam-se no altar do Facebook?"

  1. Essa iniciativa, inclusive, ajuda a tornar mais palatável o Internet.org do Facebook, já que poderão dizer que a internet está contida no FB (e não será uma mentira de todo). É um passo perigoso, pois não apenas confunde ainda mais notícias e entretenimento como também centraliza tudo em uma só plataforma. O FB passa a ser o “dono” efetivo de tudo que se publica, de todas as notícias e pode prejudicar a concorrência, pois quem estiver fora estará fora da “internet”. E parece piada, mas tem muita gente que realmente acha que o FB é A internet. Vai piorar.
    http://www.brasilpost.com.br/raphael-tsavkko-garcia/internetorg-dilma-e-faceb_b_7088184.html

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