Os monstros que assombram a humanidade

Livro reúne cartas do filósofo judeu Günther Anders ao filho de Adolf Eichmann, o “arquiteto do holocausto”. Escritos debatem o avanço acrítico da técnica e a normalização da violência que podem levar a outras catástrofes. Sorteamos dois exemplares

Otto Dix; Essenholer bei Pilkem (Buscando rações perto de Pilkem) [1924]. Fonte: Institut für Auslandsbeziehungen, 2024
.

O holocausto foi sem dúvida um dos marcos mais sombrios na história da humanidade. Infelizmente, hoje a catástrofe se repete em Gaza, milhares de vidas palestinas já foram ceifadas e o número não para de aumentar. Além disso, a ameaça de outra Guerra Mundial também parece avançar.

A tragédia se repete e enquanto seguimos nossas vidas, será que questionamos mesmo a destruição?


“O que tornou o monstruoso possível”?


Essa é a pergunta que orientou o filósofo Günther Anders em sua trajetória investigativa e em suas cartas à Eichmann, filho do “arquiteto do holocausto”: Adolf Eichmann.

No ano passado, a Editora Elefante deu início ao projeto de trazer a obra do autor ao Brasil, lançando o livro Nós, filhos de Eichmann: carta aberta a Klaus Eichmann.

Outras Palavras e Editora Elefante irão sortear 2 exemplares de Nós, filhos de Eichmann: carta aberta a Klaus Eichmann, de Günther Anders, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 19/12, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Adolf Eichmann foi um dos principais responsáveis pela máquina de extermínio nazista, sendo organizador e coordenador da logística de deportação das vítimas aos campos de concentração. Após a guerra, foi caçado, julgado e condenado à forca por Israel no início dos anos 1960.

No livro, percebemos a preocupação e o medo de Anders com uma possível repetição da catástrofe como a que ceifou milhares de vidas na Segunda Guerra Mundial.

Um dos pontos do pensador é que com o avanço desenfreado da técnica, podemos perder o controle sobre o que criamos. Como o aprendiz de feiticeiro que ao ir além dos limites mágicos que pode controlar, abre as portas para uma avalanche de infortúnios.


“os objetos que estamos acostumados a produzir com o auxílio de nossa técnica, impossível de ser contida, e os efeitos que somos capazes de desencadear são tão grandes e tão explosivos que nós não mais conseguimos compreendê-los, que dirá então identificá-los como nossos”


No entanto, o autor não tira nossa agência individual – e coletiva –, ressaltando que quando não aceitamos o horror em nosso cotidiano, clamando por nossa consciência, podemos combater o avanço de um futuro banhado de sangue.

Nas cartas, o filósofo apela ao pensamento crítico e consciente, levantando um alerta muito pertinente: no mundo fordista em que o trabalhador se distancia do fruto de seu trabalho e se perde nas horas repetitivas e maçantes da rotina, o ser humano pode inocentemente ser mais uma engrenagem das máquinas que criamos e que destroem o mundo. Portanto, as palavras do autor parecem não ser destinadas apenas a Klauss, se estendendo a todos nós.

Anders ainda alerta que nunca se sabe se na próxima tragédia não seremos nós os agentes ou, talvez, as vítimas. 


“amanhã a tempestade já poderá irromper novamente. E depois de amanhã poderá outra vez ocorrer que nós, caso pareça oportuno à máquina, sejamos novamente empregados como suas equipes de serviço ou como vítimas de seus objetivos de extermínio. Em todos os casos, é claro, como vítimas”.


Em tempos de genocídio assistido, as palavras do filósofo podem ter um sabor amargo de profecia que se concretiza. Guerras explodem em um ritmo avassalador e a Terceira Grande Guerra parece se anunciar. Diante disso, essa leitura fornece insumos à nossa consciência, para não permitirmos o avanço da catástrofe.


SOBRE O AUTOR

Pseudônimo de Günther Siegmund Stern, nasceu em 1902, na Breslávia, então território do Império Alemão. Doutor em filosofia pela Universidade de Freiburg, foi reconhecido como um fenomenólogo brilhante por seus professores Edmund Husserl — aliás, orientador de sua tese de doutorado, defendida em 1924 — e Martin Heidegger — em cujas aulas conheceu Hannah Arendt, com quem foi casado entre 1929 e 1937. Nesse período, aproximou-se dos círculos da vanguarda literária da República de Weimar e manteve contato com escritores como Bertolt Brecht e Alfred Döblin. Com o avanço do nazismo, exilou-se primeiro na França, em 1933, onde conviveu com Walter Benjamin, seu primo de segundo grau, e, três anos depois, nos Estados Unidos. Trabalhou em ramos diversos, inclusive como operário de fábrica — experiência determinante para suas análises da automação na sociedade industrial, desdobradas em seu principal livro, Die Antiquiertheit des Menschen [A obsolescência do homem]. Escritor polivalente, teve uma obra vasta e diversificada: além de textos filosóficos e ensaios de crítica da cultura, dedicou-se a gêneros diversos (romance, poema, fábula, diálogo de ficção, carta e diário), não raramente incorporados em sua prosa teórica. Enquanto crítico literário, seu livro Kafka: pró e contra (Cosac Naify, 2007) impactou autores como Geörgy Lukács e Theodor Adorno. Testemunha da destruição civilizacional generalizada do século XX, dedicou suas reflexões ao potencial de autoaniquilamento da humanidade e à “mutação da alma” no capitalismo tardio. Além de escritor e teórico, foi militante antifascista na juventude e, no pós-guerra, engajou-se profundamente na luta antinuclear, tendo dedicado parte significativa de sua obra à ameaça atômica. Faleceu aos noventa anos em Viena, na Áustria, em 1992.


Em parceria com Editora Elefante, Outras Palavras irá sortear 2 exemplares de Nós, filhos de Eichmann: carta aberta a Klaus Eichmann, de Günther Anders, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 19/12, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

E não se esqueça! Quem apoia o jornalismo de Outras Palavras garante 25% de desconto no site da Editora Elefante. Faça parte da rede Outros Quinhentos em nosso Apoia.se e acesse as recompensas!

Outras Palavras disponibiliza sorteios, descontos e gratuidades para os leitores que contribuem todos os meses com a continuidade de seu projeto de jornalismo de profundidade e pós-capitalismo. Outros Quinhentos é a ferramenta através da qual é possível construir conosco um projeto de jornalismo de profundidade e pós-capitalista. Pela colaboração, diversas contrapartidas são disponibilizadas: sorteios, descontos e gratuidades oferecidas por nossos parceiros – são mais de vinte parcerias! Participe!

NÃO SABE O QUE É O OUTROS QUINHENTOS?
• Desde 2013, Outras Palavras é o primeiro site brasileiro sustentado essencialmente por seus leitores. O nome do nosso programa de financiamento coletivo é Outros Quinhentos. Hoje, ele está sediado aqui: apoia.se/outraspalavras/
• O Outros Quinhentos funciona assim: disponibilizamos espaço em nosso site para parceiros que compartilham conosco aquilo que produzem – esses produtos e serviços são oferecidos, logo em seguida, para nossos apoiadores. São sorteios, descontos e gratuidades em livros, cursos, revistas, espetáculos culturais e cestas agroecológicas! Convidamos você a fazer parte dessa rede.
• Se interessou? Clica aqui!

Leia Também: