O Livro, por Jorge Luís Borges

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Polêmico e genial, o escritor argentino — que morreu há trinta anos, quando nascia a internet — sustenta: “dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso, sem dúvida, é o livro”

Curadoria e Narração: Alexandre Machado

[Trechos do ensaio “O Livro”, parte da obra Borges Oral. O texto completo, no original em castelhano, pode ser lido aqui. Borges Oral foi publicado, no Brasil, no volume Oral & Sete Noites, traduzido por Heloisa Jahn e publicado pela Companhia das Letras. Pode ser encontrado aqui]

“Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso, sem dúvida, é o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua vista; o telefone é extensão da voz; depois temos o arado e a espada, extensões de seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

“Em César e Cleópatra, de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso, e é também outra coisa: a imaginação. Pois o que é nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Essa é a função realizada pelo livro.

(…) “Se lemos um livro antigo, é como se lêssemos todo o tempo que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. Por isso convém manter o culto do livro. O livro pode estar cheio de erratas, podemos não estar de acordo com as opiniões do autor, mas mesmo assim conserva alguma coisa de sagrado, algo de divino, não para ser objeto de respeito supersticioso, mas para que o abordemos com o desejo de encontrar felicidade, de encontrar sabedoria.”

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