A narrativa incomum de Marco Oliveira
Publicado 28/10/2015 às 20:19
Em novo livro, sem diálogo algum, quadrinista flerta com espaços, tempos e perspectivas absurdas — talvez para mostrar como são possíveis a literatura gráfica e… uma vida menos banal
Por Gabriela Leite e João Rabello, na seção Outros Traços
Marco Oliveira gosta de dar nós em nossa cabeça. A começar pelo nome de seu blog de tiras em quadrinhos: Overdose Homeopática. E não é diferente com o seu novo livro, que será lançado nesse final de semana, em São Paulo. Chama-se Mute, e traz uma série com uma proposta bastante clara: quadrinhos em branco e preto sem nenhum diálogo. Mas, ao vê-la com mais atenção, é possível perceber que essa linguagem é apenas um ponto de partida. O que é realmente singular em Mute, é a maneira como Marco subverte noções de espaço, perspectiva, tempo e até lógica, utilizando com maestria a linguagem de quadrinhos.
As tiras não são fáceis. É necessário algum tempo e um olhar bastante atento para compreender sua narrativa incomum. Absurdas e intrigantes, mas com uma lógica própria que, quando captada, é bastante surpreendente. Mas o esforço não é apenas nosso: Marco afirma que a linguagem muda “é interessante porque exige mais do leitor e do autor, que precisa ser muito mais preciso na narrativa gráfica do que se fossem quadrinhos com texto.”
“O que me inspirou foi a vontade de ver algo novo, de experimentar sem medo e exacerbar no uso da linguagem dos quadrinhos. Buscar um resultado que levasse o leitor a um novo ponto de vista e a novas interpretações sobre os quadrinhos”, conta Marco. A obra levou um tempo relativamente grande para ser elaborada. O primeiro quadrinho Mute foi feito em 2011 e foi se desenvolvendo devagarinho. É seu terceiro livro: o primeiro é uma compilação de tiras de seu blog, e o segundo é a graphic novel Aos Cuidados de Rafaela, feito em parceria com Marcelo Saravá. Marco começou a publicar na internet no final de 2009, quando descobriu que esse é um bom veículo para divulgar seu trabalho e para ter contato com o público.
O quadrinista conta também um pouco sobre seu processo criativo: carrega um caderninho onde anota as ideias que surgem em situações do dia a dia. “a todo momento tem uma ideia no ar, só é preciso saber captá-la e depois transferir da melhor forma para o papel.” Como influência, cita a “velha guarda” dos quadrinhos brasileiros: Laerte, Adão, Fernando Gonsales, além dos mais atuais como André Dahmer e Galvão Bertazzi.
Mute será lançado no próximo sábado, 31/10, às 16h na Monkix, livraria especializada em quadrinhos na Vila Madalena, em São Paulo. Para ver mais quadrinhos, é só clicar aqui. Mais informações do evento aqui.