Inglaterra questiona política anti-drogas

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Diante da explosão de psicoativos sintéticos, “o proibicionismo é tão ridículo como um gato correndo atrás do próprio rabo”, diz porta-voz de fundação britânica

Um movimento quase ignorado pela maior parte público está transformando o mercado das drogas psicoativas, na Europa e Estados Unidos. Diante da proibição de certas plantas — maconha, coca e papoula, e seus derivados — e da extrema liberalidade com que a indústria farmacêutica é tratada, surgem psicoativos sintéticos. Imitam, com grande realismo, os efeitos das substâncias proscritas. Desfrutam do status de fármacos — são vendidas livremente, inclusive pela internet — até que seu caráter de imitação seja percebido. São, então, proibidas.

Apenas para serem, dias depois, substituídas por outras, quase idênticas. Só nos quatro primeiros meses deste ano, revela numa reportagem recente o jornal The Guardian, apareceram vinte novas. Quase todas imitam os efeitos da cocaína, ecstasy e anfetaminas. Os nomes de algumas chegaram a se popularizar — mefedrona, (miau miau, usado na foto), nafirona, fenazepan e onda de marfim, por exemplo.

As drogas “legais” são liberadas, num primeiro momento, porque agem como centenas de outros fármacos, que também produzem efeitos psicoativos e são vastamente receitados por médicos e psicanalistas. A proibição que vem a seguir revela um tabu sem base racional. Não são banidas por seus efeitos ou composição — mas apenas por sua semelhança com plantas proscritas. As agências anti-drogas não estão interessadas em analisar como as substâncias interagem com o corpo humano e sua saúde. São monotemáticas: para elas, a ideia fixa é banir qualquer coisa que se assemelhe a maconha, cocaína ou ópio.

The Guardian revela: na Inglaterra, este comportamento absurdo já levou figuras públicas — inclusive ex-dirigentes do Serviço de Investigação da Corôa (Crown Prosecution Service, uma espécie de polícia judiciária federal ) e do MI5 (um dos braços do serviço secreto) — a afirmar publicamente que a “guerra contra as drogas” fracassou. Eles sugeriram substituí-la por políticas de Saúde Pública, baseadas no combate aos abusos e na proteção aos usuários de psicoativos. Algo semelhante ao que se faz com o álcool: ao invés de se tratar todo consumidor como ameaça pública, combate-se o uso compulsivo, com campanhas e terapias.

 

 

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2 comentários para "Inglaterra questiona política anti-drogas"

  1. Zenia Chaves disse:

    O proibicionismo é a mais ineficaz e hipócrita das politicas de controle sobre drogas. A descriminalização com controle governamental e associada a ações de redução de danos tem provado ser a ação mais eficaz: vejamos o caso de Portugal que recentemente comemorou dez anos de descriminalização de todas as drogas e onde o consumo de maconha, cocaína e heroína caiu substancialmente, sendo hoje o menor dentre todos os países europeus.
    Hipócrita porque trata da questão sob uma perspectiva dogmática, moralista, maniqueista, intervencionista, e na prática, seu controle torna-se medida de controle social das populações mais pobres.
    Nas smartshops da Europa a livre venda de incensos, aromatizantes e outros produtos que emulam efeitos da maconha e cocaína, por exemplo, associados aos clubes de plantadores de maconha na Espanha (também legais) são a prova maior da impossibilidade de banimento total de substância psicoativas.
    Afinal, além da necessidade humana de transcendência, todos cansamos de ver e comemorar, desde criancinhas, a paz celebrada nos cachimbos dos indios e brancos nos faroestes americanos, lembram?

  2. Arthur Ferreira disse:

    Triste sociedade que não pode perceber o desejo pelo transcendental dos membros que a compõem. Deixando o lamento um pouco a parte, as drogas são uma agenda mundial, encampada em guerra por uma política puritano neocon norte-americana, que por mais que autoridades inglesas, russas ou bolivianas estejam francamente dispostas a estabelecer soluções sensatas, são barrados por um conjunto de medidas internacionais com apoio da mídia (local-burguesa-vendida como no Brasil , internacional e/ou religiosa), da indústria bélica e, claro, das indústrias farmacêuticas. Exemplos como do Canadá, Suíça e Escandinávia na relação com os entorpecentes são frutos de sociedades maduras, que conseguiram debater os entorpecentes sem influência da moral religiosa e/ou lobby desmesurado. Por fim, não resta dúvida do tabu e da falta de educação/conscientização política para refletir sobre o tema. Nem os DCE’s, onde 80% dos membros fumam “um”, discutem o assunto, o que imaginar dos outros 75% dos brasileiros que não frequentam a universidade?

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