Durban (II): os governos querem pouco

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Ainda que seja possível destravá-la, conferência é muito pouco ambiciosa, diante de um drama que se agrava

O surgimento de uma leve esperança, ao início da segunda semana da Conferência da ONU (na foto, a sessão de abertura) sobre aquecimento global, merece ser saudado. Se concretizado, ele evita o pior prognóstico possível: um grande desentendimento entre os governos, capaz de reverter até mesmo os acordos frágeis e insuficientes firmados até aqui. O problema é que as próprias ambições da COP 17, e de todo o processo de negociações conduzido pela ONU, são muito modestas, diante da gravidade da mudança climática.

Três objetivos principais estão na mesa, em Durban. O primeiro é desenhar um Fundo Verde internacional, necessário para financiar a adoção de processos e tecnologias menos poluentes nos países em desenvolvimento. Sequer se espera a liberação de recursos agora. Mas um ano após a criação do instrumento, é preciso, ao menos, desenhar os compromissos específicos de cada país. Deve-se, também, fugir de uma armadilha: os Estados Unidos desejam que a maior parte das contribuições venha de fontes privadas, estimulada por mecanismos de mercado. Significaria, na prática, desobrigar os governos.

Os dois pontos seguintes são o pós-Protocolo de Kyoto. Há um claro consenso de que o primeiro acordo internacional de redução das emissões de gás carbônico, firmado em 1997, é insuficiente para deter o aquecimento global. Kyoto parte do princípio de que uma elevação da temperatura média da Terra acima de 2ºC, ao longo deste século, pode ser catastrófica. E procura evitá-la propondo que todos os signatários reduzam, até 2012, em pelo menos 5,2% (15%, para blocos como a União Europeia) o lançamento de gases que produzem o efeito-estufa na atmosfera (o CO2 é o principal).

Mas a meta não compromete nem os países em desenvolvimento, nem os Estados Unidos — que se recusaram a assinar o Protocolo. Além disso, busca atingir seus objetivos por meio de mecanismos duvidosos, sempre vinculados a negociações de mercado. O mais polêmico são os chamados “créditos de carbono”, por meio do qual empresas podem comprar “direitos de poluir”. Os defensores da lógica asseguravam que o constrangimento econômico levaria os poluidores a adotar tecnologias “verdes”.

Os resultados mostram o contrário. De 1997 até hoje, reconhece a edição da revista Economist desta semana, as emissões globais de gases poluentes cresceram 25%. E mesmo que Kyoto tivesse sido cumprido na letra, o ser humano estaria lançando na atmosfera, em 2020, 11 gigatoneladas (bilhões de toneladas) a mais do limite que evitaria um aquecimento acima de 2ºC. Este volume equivale a toda a poluição lançada por automóveis, caminhões em ônibus no planeta, em 2005.

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