Drogas: comércio eletrônico seria saída?

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Para evitar redes criminosas e produto adulterado, usuários de substâncias psicoativas migram para compras na internet. Movimento expõe fracasso do proibicionismo 

Por Henrique Antero

Divulgados há cerca de uma semana, os resultados da maior pesquisa mundial sobre uso de drogas proscritas podem ser um novo golpe contra as já cambaleantes políticas proibicionistas. A versão 2004 da Global Drug Survey — que entrevistou 80 mil usuários, em 43 países, inclusive o Brasil — revelou o rápido crescimento do comércio de substâncias psicoativas via internet. Diversos fatores explicam a mudança: dribla-se a polícia, o crime organizado e a má qualidade da droga que ele comercializa. Mas não se resolve o problema central.

Os dados da pesquisa são eloquentes. A maioria dos usuários de substâncias psicoativas ainda as compra de vendedores de rua; mas um número cada vez maior deles tem feito uso da internet para obter tais drogas. Sobre as compras online, observou-se que o Reino Unido é o que mais utiliza a ferramenta: 22% dos usuários entrevistados já fizeram. No Brasil, o número também é grande, apesar de a amostragem ser menor (1088 entrevistados): 11% já compraram drogas pela internet. 

Um dado da pesquisa foi importante para compreender o crescimento da tendência: dos 22% dos britânicos que já tinham feito compras pela internet, 44% o fizeram pela primeira vez em 2012 ou 2013. Este fato é apenas mais uma das evidências de que as políticas que criminalizam e proíbem as drogas, adotadas pela maior parte dos países nas últimas décadas, vão continuar falhando. O mercado virtual dos narcóticos opera de forma ainda menos controlável e oferece vantagens para o usuário.

As compras são realizadas por meio de mercados como o notório Silk Road, o maior site do tipo, chamado de “o Amazon das drogas”. Ele opera na Deep Web (nome dado à parte da internet que não pode ser indexada nos sites de busca), e foi derrubado pelo FBI em outubro do ano passado e seu dono preso por tráfico ilegal — mas há notícias de que tenha sido reaberto, semanas depois. Estima-se que tenha movimentado bilhões de dólares, até outubro. As drogas mais vendidas seriam maconha, MDMA (o “ecstasy”), LSD e Cetamina (um medicamento analgésico de efeito psicotrópico). Para acessar o site, é necessário utilizar um navegador de software livre que permite o anonimato, e as compras são feitas por meio da Bitcoin, uma moeda virtual encriptada. Isso dificulta a localização dos usuários, e não os compromete com compras feitas com cartão de crédito.

Entre as razões para o crescimento desse tipo de mercado, os usuários indicam que a qualidade superior, a conveniência, e a variedade de substâncias são os motivadores mais importantes. A compra online é mais segura e expõe menos o usuário ao tráfico, além de a qualidade da droga ser mais garantida que quando é comprada na rua — os vendedores recebiam avaliações dos usuários, o que os estimula a entregar o melhor produto possível. Naturalmente, a tendência é que a venda cresça, mesmo que ilegal e utilizando ferramentas obscuras. Se as drogas fossem regulamentadas, este mercado geraria impostos, e governos, tratando-as como problema de saúde pública, poderiam fazer campanhas para diminuir o risco do uso, sem hipocrisia.

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Um comentario para "Drogas: comércio eletrônico seria saída?"

  1. Esdras Pereira Alves Neto disse:

    Essa sugestão feita no final da reportagem,onde. “Se as drogas fossem regulamentadas, este mercado geraria impostos, e governos, tratando-as como problema de saúde pública, poderiam fazer campanhas para diminuir o risco do uso, sem hipocrisia.”
    Acredito eu que poderia se ter um controle melhor e os governos estariam mais engajados junto a sociedade para realizar trabalhos de saúde pública para diminuição de seus riscos de uso.

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