Brasil, um foco da mudança climática?

O aquecimento é global, mas as mudanças em curso no país chamam atenção. E há nexo claro com o Agro

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Depois de ondas de calor tórrido entre setembro novembro no Sudeste e Centro-Oeste, cidades como São Paulo estão vivendo esta semana tempestades incomuns, acompanhadas de rajadas de vento de até 94 km/h. O Brasil poderia se tornar um dos pontos do globo em que os transtornos climáticos se manifestam de maneira mais aguda?

Dados reunidos pelo centro de pesquisas meteorológicas MetSul sugerem que sim. No final do ano passado, por exemplo, as anomalias de temperatura foram muito superiores às registradas em outras partes do mundo. Em outubro, a média das temperaturas máximas em Cuiabá (39,4ºC!) foi 4,3ºC acima das marcas históricas. Em Campo Grande, a diferença chegou a 3,6ºC; em Belo Horizonte, a 2,5ºC e em São Paulo (em setembro) o aumento foi de 5ºC. Além destes casos extremos, os desvios estenderam-se por todo o território, a ponto de a média nacional de temperaturas, em outubro, (26,4ºC) situar-se 1,2ºC acima da registrada há em período muito recente (1991-2020).

As alterações concentram-se nas partes do território mais expostas à ação do agronegócio. Um estudo recente da OCDE, relatado pelo jornalista Assis Moreira no Valor, relaciona os dois fenômenos. Os subsídios concedidos pelos Estados nacionais à agropecuária atingiram US$ 851 bilhões, em média, no período entre 2020 e 2022. Cresceram 2,5 vezes, em relação a 2000-02. E há o risco de provocarem efeito contrário ao esperado até mesmo por quem os patrocina, prossegue o relatório.

Em alguns casos, os avanços na tecnologia agrícola já não são suficientes para compensar as perdas decorrentes da mudança climática. O aumento da produtividade agrícola, ano a ano, caiu 21% desde 1961. “A frequência de secas quase dobrou, de tempestades quase triplicou e de inundações aumentou seis vezes. A previsão é de que serão cada vez mais fontes de problemas para a agricultura nas próximas décadas”, relata Moreira. O modelo agrícola atual é como uma serpente prestes a ferroar o próprio rabo.

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