No delicado — e assumido — melodrama de Karim Aïnouz sobre duas irmãs apartadas nos anos 50, o machismo que esfacela histórias. Mas, quando se afasta de personificação e retrata cultura opressora, denúncia ganha mais contundência
Em Azougue Nazaré, espiritualidades em conflito: dionisíacos caboclos de lança e neopentecostais gris. Transcende a elegia folclórica e, em meio a intolerância religiosa, mostra o potente encontro entre o documental e o fantástico
É raro encontrar em cartaz filmes de muitas línguas diferentes. Concorrendo ao Oscar de produção estrangeiro, os latinos A odisseia dos tontos e Retablo; e o africano Papicha permitem que nos enxerguemos em outros tempos e lugares
Mostra de São Paulo trouxe densas comédias e dramas humanos de todos os continentes. Entre elas, O paraíso deve ser aqui, de Elia Suleiman: um palestino, em meio às paranoias de segurança, escancara — em silêncio — o absurdo que o cerca
A vida invisível, de Karim Aïnouz, é delicado melodrama: nos anos 40, duas irmãs, anuladas pelo machismo, são separadas; amam-se com intensidade e, assombradas pelo remorso, tentam construir uma existência imaginária para a outra
Baseado em livro-reportagem de Fernando Moraes, Wasp Network é melodrama de espionagem: dissidentes cubanos, nos anos 90, tentavam minar governo, mas Havana responde. Em Morto não fala, paixão pelo terror transborda
Filme de Todd Phillips é blockbuster que surpreende ao resgatar a tradição do realismo social. Sua Gotham City é síntese dos EUA: premia as elites, culta as celebridades, corta serviços sociais e joga os excluídos na sarjeta ou no crime
Na comédia de Fellipe Barbosa e Clara Linhart, o doméstico e o político: quando Lula toma posse, em 2003, duas famílias vão para uma fazenda. Sob o mesmo teto, conflitos de classe e gênero — e uma elite, assustada e debochada
Filme de Zeca Brito retrata contexto histórico em que governador rechaçou golpe. Mas escorrega: insípido na forma, é didático quando deveria provocar e sugerir — o que poderia aprender com Bacurau e seu “saqueio antropofágico”