Dois documentários mostram o voo alto da arte periférica. Um com a trajetória do célebre grupo de rap: sua influência sobre jovens negros, a repressão policial e a reinvenção constante. Outro sobre o muralista Kobra e sua visão de cidade e política
Paloma retrata o amor entre um pedreiro e uma travesti no Brasil profundo. Ela sonha casar na igreja, mas a realidade amarga e repressora destroça finais felizes, num processo íntimo e coletivo, em que os corpos se entendem, mas as almas não
Carvão é um filme perturbador. Entre a crônica e a fábula moral, o olho implacável da câmera revela as hipocrisias de “cidadãos de bem” no interior paulista. E fogo de fragilidades, desejos reprimidos e torpezas não purifica: torna tudo cinzas
Filme com Ricardo Darín narra o processo judicial que puniu os ditadores do país. Tal como O segredo de seus olhos, atinge dois feitos de fazer inveja ao Brasil: abordagem matizada dos traumas políticos e habilidade em narrativas de entretenimento
Mostra Internacional de Cinema de SP volta ao presencial. Entre os filmes brasileiros, o universo de Exu, o grafite de Kobra, a resistência trans e um singular drama acreano: jovens encurralados entre a guerra de facções e a falta de oportunidades
Documentário assustador mostra a cruzada neopentecostal, muitas vezes articulada ao tráfico, para expulsar religiões afro-brasileiras da periferia. Uma guerra assimétrica em que Deus torna-se moeda de troca e esfacela a cultura popular
Em Vortex, Gaspar Noé narra o dia a dia de uma casal de idosos em processo de senilidade. Com ousadia de partir a tela ao meio, constrói espécie de poesia audiovisual sobre os labirintos da mente, a passagem do tempo e a fragilidade da condição humana
A vida e obra do maestro italiano que compôs trilha para mais de 500 filmes. Documentário não se reduz a hagiografia: explora experiências sonoras e conflito interno, entre a aspiração à música erudita e o trabalho genial com a canção popular
Lançado na internet, documentário investiga o culto à virilidade como fio condutor das mazelas bolsonaristas. Cineasta coloca-se de corpo e alma — e mostra que ressentimento e fascínio pelas armas e fardas forjaram o presidente
Godard foi renovador radical do porte de Picasso e Joyce. Sem concessões, sua obra paira entre o encantamento e a irritação, a admiração e o fastio. Rearticula imagem, palavra e música – e combina aventura estética pessoal e resistência política