Poder Judiciário, por que Bolsonaro pode ameaçar jornalistas?

Para defendermos a liberdade de imprensa não basta repetirmos a pergunta feita pelo jornalista de O Globo sobre cheques para Michelle. Terão o STF e a PGR motivos de foro íntimo para não barrar de vez a truculência do sociopata instalado na Presidência da República?

Massaranduba, do Casseta e Planeta: “Eu vou dar… porrada”. (Imagem: Reprodução)

Jornalistas de todo o Brasil estão a repetir a pergunta feita por repórter de O Globo a Jair Bolsonaro: “Por que Michelle recebeu R$ 89 mil em cheques de Fabrício Queiroz?” O presidente reagiu a ele com uma ameaça: “Vontade é encher tua boca com porrada”.

Não é a primeira vez que o presidente Jair Massaranduba enche a boca para utilizar a palavra “porrada”. Ele já disse que utilizaria esse recurso caso tivesse um filho gay. (Será que o presidente se inspira apenas no instrumento medieval para a escolha do vocábulo?)

Ocorre que não basta repetir a pergunta. O enfrentamento a um político fascista não pode partir do pressuposto, a esta altura ingênuo, que estaríamos em uma democracia plena onde apenas deveríamos voltar a um estágio anterior de civilidade, após algo que seria somente um deslize do principal homem da República.

Os limites foram ultrapassados há tempos e estamos sob coação. Diante disso, há outra pergunta a ser feita: Judiciário, por que o presidente ainda pode ameaçar jornalistas? Caro ministro do Supremo Tribunal Federal (podemos aqui repetir a pergunta aos nove senhores e duas senhoras), por que Bolsonaro ainda tem carta branca para suas violências? Excelentíssimo senhor procurador-Geral da República, que interesses exatamente o senhor defende?

Ou Gilmar Mendes e Augusto Aras terão motivos de foro íntimo para liberar o presidente para suas estripulias verbais que não são apenas estripulias verbais, não apenas um escárnio, e sim atentados contra a democracia e a liberdade de expressão, incitação à violência por parte de seus seguidores fanáticos e ataques diretos à integridade física de cada jornalista e de cada cidadão que discorde dele e de sua matilha?

A ausência de reações contundentes (e não protocolares) de cada instituição brasileira não assusta apenas por não acontecer na medida devida agora, no fim de agosto de 2020, quando já temos 115 mil mortos por ação direta do presidente genocida. Assusta por não ter ocorrido lá atrás, quando esse psicopata era apenas um deputado federal do baixo clero, a atacar mulheres (deputada, repórteres) e ganhar espaço no CQC, comandado por aquele apresentador triste e cínico.

Foram toneladas de ovos da serpente cultivados também pelo Judiciário e pelos principais meios de comunicação brasileiros, que ainda toleram essa violência contra seus jornalistas e contra a própria liberdade de imprensa porque estão a serviço de outros Massarandubas, estes mais disfarçados, os supostos liberais (Paulo Guedes e companhia) que também não se importam em dar porrada, desde que essas porradas estejam disfarçadas.

Bolsonaro ameaça repórteres e o Judiciário fica em silêncio porque ele e os ministros do STF e Augusto Aras e os donos da mídia estão amalgamados nos mesmos propósitos. Tolera-se o que aquele cafajeste diz, por piores que sejam as barbaridades, porque é preciso acabar de passar o caminhão maquiavélico de implosão de direitos.

Massaranduba também usa gravata e toga.

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