Homofobia: o que explica a sucessão de casos recentes de violência em SP?

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São Paulo, São José dos Campos e São Vicente tiveram espancamentos em fevereiro; Itanhaém, um assassinato; um dos casos sugere existência de subnotificação policial

Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

Ao reunir alguns casos recentes de violência homofóbica pelo Brasil, ocorridos no mês de fevereiro, observei que quase todos tinham acontecido em São Paulo: capital, interior e litoral. Terá sido só coincidência? Por causa da repercussão específica desses episódios, em meio a tantos outros que acontecem pelo estado e pelo país? Ou um pouco de tudo? Em qualquer hipótese, o número de casos mostra a extensão do problema no estado. Com vários casos de espancamento e um homicídio.

Vejamos.

1) Capital. Foi no sábado de carnaval, relatado aqui mesmo, junto com um caso ocorrido no Rio: “Dois casos de violência homofóbica, na mesma noite: em Ipanema e na Vila Madalena“. Em São Paulo, o estudante Vinícius Almeida, de 21 anos, ganhara naquele dia uma bolsa pra estudar a homossexualidade. Ao dar informação a dois jovens, escutou: “Vamos agredir o viadinho”. Foi espancado. Achou que fosse morrer.

A capital paulista também teve flagrante de violência movida por transfobia, em plena Rua Augusta: “Transexual é espancada por grupo de 20 pessoas na Rua Augusta, em São Paulo“. A promotora de eventos Melissa Hudson, de 22 anos, foi atacada na madrugada do dia 13. Estava com duas amigas quando levou duas garrafadas na nuca. Quando alguém tentava interceder, eles justificavam: “Não é mulher, é traveco”. Apesar de tudo, a polícia registrou o caso como “roubo a transeunte”.

2) Interior. Em São José dos Campos, um jovem de 18 anos saía da escola, por volta das 23 horas do dia 22, quando foi agredido com socos e chutes por ser homossexual. Lucas Salvattore desmaiou. Ele já vinha sendo ameaçado. “Desde o primeiro dia de aula eu soube que ia apanhar”, contou. O líder dos agressores tem 16 anos. A notícia foi publicada no UOL: “Aluno gay é espancado a pauladas por cinco jovens em frente a escola em SP“. Ele decidiu trocar de escola, que suspendeu os agressores.

lucassalvattore

Lucas Salvattore, espancado em São José.dos Campos (Reprodução/Facebook)

3) Litoral. No mesmo dia, em Itanhaém, também no litoral sul, Priscila Aparecida Santos da Costa, de 25 anos, foi assassinada, na frente da namorada e do irmão: “Mulher é morta na frente da namorada após ofensas homofóbicas em SP“. O acusado mexera com sua namorada, em um supermercado. Depois, reagiu com ofensas homofóbicas. Ela o enfrentou, ao lado do irmão. Depois foi para uma praça. Pouco depois o agressor voltou e atirou. Priscila chegou a ser encaminhada a uma Unidade de Pronto Atendimento, mas não resistiu.

Na madrugada do dia 13, um grupo de nove jovens estava em um quiosque em São Vicente. Houve um arrastão na praia – com furtos e agressões – e a polícia foi chamada. O alvo dos policiais? O grupo de lésbicas.  “Do nada a polícia brotou batendo em mim e em geral”, relatou uma das vítimas. Ela levou spray de pimenta no rosto e viu dois PMs batendo em sua amiga. Depois, também apanhou. Frase de um deles: “Vai embora, suas vagabunda sapatona”. E elas foram para o ponto de ônibus. Lá, passou uma viatura. Desceu um policial e disse: “Vão andando senão vão apanhar mais”.

O PAPEL DO ESTADO

Os casos acima não dizem, necessariamente, que aumentou a homotransfobia. Pode ser que tenha aumentado somente a visibilidade, que esses casos tenham chegado à imprensa, ou ganhado destaque nas redes sociais. Em qualquer hipótese o problema reclama ações do poder público – em particular, do governo paulista.

Em um dos casos a polícia foi apontada como agressora. Em outro, uma agressão por 20 pessoas a uma transexual foi registrada como “furto”. Ou seja, as estatísticas oficiais não refletem todo o problema. E aqueles que deveriam proteger os LGBT mostram-se, eles mesmos, homofóbicos.

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2015 – Homofobia ainda mata, persegue, apedreja e espanca

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4 comentários para "Homofobia: o que explica a sucessão de casos recentes de violência em SP?"

  1. Telmo disse:

    Estas ocorrências poderão ser menos frequentes se procurarmos a prevenção da homofobia. Bons exemplos vem do Canadá, da Alemanha e das pesquisas abaixo:
    http://saudepublicada.sul21.com.br/2016/02/21/homofobia-no-canada-querem-prevenir-e-aqui-quem-nao-quer/

  2. Telmo disse:

    Estas ocorrências poderão ser menos frequentes se procurarmos a prevenção da homofobia. Bons exemplos vem do Canadá, da Alemanha e das pesquisas abaixo:
    http://saudepublicada.sul21.com.br/2016/02/21/homofobia-no-canada-querem-prevenir-e-aqui-quem-nao-quer/

  3. Mauricio Viçosa disse:

    Alceu, sou de acordo que é uma problema do estado. Que para uns fins é propagandista e cria pandemônios e para tratar da homofobia prefere o silêncio. Moro em Natal/RN e leio sempre os mesmos casos por aqui. E ainda para salientar a importância do estado na temática, as agressões nos interiores muitas vezes são da própria família.

  4. Mauricio Viçosa disse:

    Alceu, sou de acordo que é uma problema do estado. Que para uns fins é propagandista e cria pandemônios e para tratar da homofobia prefere o silêncio. Moro em Natal/RN e leio sempre os mesmos casos por aqui. E ainda para salientar a importância do estado na temática, as agressões nos interiores muitas vezes são da própria família.

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