Flotilha: Como o mundo reage ao crime de Israel
Em vários países, população sai às ruas para rechaçar o sequestro das embarcações que levavam ajuda a Gaza. Mais de 400 ativistas estão presos. Com o genocídio impune, Tel Aviv se sente livre para violar o direito marítimo internacional e tratados de direitos humanos
Publicado 02/10/2025 às 20:06

No Mediterrâneo, por volta das 20h30 desta quarta-feira, as forças navais israelenses iniciaram a interceptação, em águas internacionais, de embarcações da flotilha que tentava furar o cerco aos palestinos e levar ajuda humanitária à Gaza. Já no dia seguinte, o Ministério das Relações Exteriores de Israel confirmou que todos, exceto um navio, haviam sido “neutralizados”. Movimentos confirmam que 443 voluntários de 47 países foram capturados pelas forças israelenses. Brasil, Cuba, Venezuela, França, Irã, Colômbia, entre outras nações, condenam ação.

Várias missões de flotilha partem para desafiar o bloqueio naval de Israel desde 2010. A mais emblemática ficou conhecida quando Israel invadiu o navio turco Mavi Marmara — parte da Flotilha da Liberdade — e cometeu um de seus inúmeros crimes de guerra, matando dez ativistas.
A frota de cerca de 40 embarcações civis e 500 ativistas havia partido de portos de diversos países do Mar Mediterrâneo, no final de agosto. Desde então, os tripulantes denunciaram intimidações com drones e bombas de efeito moral contra os navios. Agora, organizadores da flotilha relatam que israelenses invadiram os barcos a cerca de 70 milhas náuticas (130 km) da costa de Gaza, cortando as comunicações e bloqueando os sinais quando a frota se aproximou do enclave sionista.
Segundo informou a Agência Brasil, a delegação brasileira era composta por 17 integrantes e 11 foram capturados por Israel. Nas redes sociais, o movimento internacional Global Sumud Flotilla confirmou que entre os capturados estão o ativista Thiago de Ávila e Silva Oliveira, a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) e a vereadora de Campinas, Mariana Conti (PSOL-SP), além de outros oito brasileiros: Bruno Gilga. O Itamaraty se pronunciou:
“Este é um sequestro ilegal, em violação direta ao direito internacional e aos direitos humanos básicos. Interceptar embarcações humanitárias em águas internacionais é um crime de guerra, negar acesso à assessoria jurídica e ocultar paradeiro dos detidos agrava ainda mais esse crime”, destaca o comunicado.

Em várias capitais do mundo, protestos tomam as ruas contra a interceptação. Roma, Berlim, Londres, Atenas, Bruxelas, Ancara, Buenos Aires e outras cidades registraram atos exigindo libertação de ativistas e fim do genocídio em Gaza. Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro anunciou no X que seu governo estava expulsando diplomatas israelenses e cancelando o acordo de livre comércio com o país. Na Itália, que recentemente levou 500 mil às ruas e paralisou setores-chave da economia — e com apoio estratégico dos estivadores que bloquearam o transporte de armas, segundo detalho relato enviado ao Outras Palavras —, as centrais sindicais convocaram uma greve geral nacional para esta sexta (3/10).

Como Israel viola o direito marítimo internacional
Ainda na quarta-feira, a emissora pública de Israel KAN já adiantava que os militares israelenses estavam se preparando para “assumir o controle” da flotilha. De acordo com o direito internacional, os países costeiros controlam as águas mais próximas de suas costas, que se estendem por 12 milhas náuticas (22 km) de seu litoral. Considerada a maior missão marítima para Gaza até hoje, a Flotilha Sumud estava navegando em águas internacionais e… palestinas, sem violar nenhuma lei ao levar ajuda humanitária às vítimas do genocídio.
Ainda em 2024, em meio a missões de ajuda humanitária via oceano com destino ao território palestino, a ONU já havia afirmado que “[a flotilha] tem o direito de livre passagem em águas internacionais, e Israel não deve interferir em sua liberdade de navegação, há muito reconhecida pelo direito internacional”.
Episódio é apenas mais um da vasta lista de violações de tratados internacionais por Israel. Por exemplo, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS), que garante a liberdade de navegação em alto mar; o Manual San Remo sobre Direito Internacional Aplicável a Conflitos Armados no Mar, que proíbe bloqueios que causam fome ou sofrimento desproporcional ou atravancam missões humanitárias neutras; a Resolução 2720 e 2728 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que determina o acesso humanitário desimpedido e a eliminação de todas as barreiras à prestação de ajuda; a Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio; e a Quarta Convenção de Genebra, que impõe obrigações dos países para de permitir a livre passagem da ajuda humanitária e proibir a interferência nas operações de socorro e no direcionamento de infraestrutura civil e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.

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