Para estudar a Tecnopolítica e sua relação com a democracia

Curso oferece uma introdução crítica, acessível e atualizada dos principais dilemas da Era Digital. Temas abrangem papel da cidadania na inovação, modelos de governança digital e ecossistemas de manipulação das bigs techs Também trata-se das possíveis resistências

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A cada semana, novas ferramentas de inteligência artificial, plataformas de extração de dados e sistemas algorítmicos são lançadas no mercado e incorporadas ao cotidiano, transformando o trabalho, a política, a comunicação e a vida social. Esse fluxo incessante ocorre em uma nova fase de dependência tecnológica do Brasil, marcada pela hegemonia de polos como Estados Unidos e China e pela centralização do poder informacional em plataformas globais. Nesse cenário, os paradigmas tecnoeconômicos emergentes tornam obsoletos os marcos institucionais estabelecidos, gerando um descompasso entre a velocidade das inovações e a capacidade de regulação democrática. O debate público, por sua vez, permanece capturado por narrativas tecnodeterministas, que apresentam as inovações como neutras, inevitáveis e intrinsecamente desejáveis, omitindo que são produtos de decisões econômicas, políticas e sociais.

A formação de uma massa crítica tecnopolítica, capaz de enfrentar essas assimetrias de poder, enfrenta barreiras econômicas, informacionais e institucionais. As barreiras econômicas manifestam-se na hegemonia das big techs e na inserção subordinada do Brasil nas cadeias globais da economia digital. As informacionais referem-se à concentração da mediação do debate público em plataformas corporativas que operam por mecanismos opacos. Já as barreiras institucionais dizem respeito à fragilidade das políticas reguladoras que deveriam garantir transparência, pluralidade e soberania nas decisões tecnológicas.

Celso Furtado, em “Criatividade e dependência na civilização industrial1, já alertava que o acesso à tecnologia não basta para romper com a dependência estrutural. É necessário construir projetos autônomos de inovação, capazes de recuperar a criatividade bloqueada pelas assimetrias globais e orientar o desenvolvimento segundo interesses sociais próprios. Formar uma consciência tecnopolítica significa fortalecer a imaginação coletiva e a capacidade de disputar modelos de inovação orientados por interesses públicos, e não apenas pelas lógicas do mercado.

É nesse horizonte que se inscreve o minicurso de extensão “Tecnologias Digitais e Democracia: IA, Dados e Plataformas em Disputa”, promovido pela FESPSP. Inserido em uma proposta de formação interdisciplinar e cidadã, o curso visa contribuir para o fortalecimento da massa crítica tecnopolítica, abordando os impactos das tecnologias sobre os direitos, a democracia e a soberania. Com cinco aulas online entre os dias 21 e 25 de julho, o minicurso reúne docentes de diversas áreas para oferecer uma introdução crítica, acessível e atualizada aos principais dilemas das tecnologias digitais contemporâneas.

A programação contempla diferentes ângulos do problema.

A aula de abertura, no dia 21, “Crises de regulação na Quarta Revolução Industrial e panorama da ética aplicada às tecnologias digitais”, ministrada por Luis Eduardo Tavares, analisa o descompasso entre tecnologias emergentes e instituições herdadas. A partir da teoria dos ciclos tecnológicos, são discutidos os dilemas éticos e políticos que colocados pela tecnociência atual e seus impactos sobre os marcos institucionais que orientam as políticas públicas.

No dia 22, a aula de Fernanda K. Martins “Integridade e Segurança nas Plataformas Digitais: moderação, algoritmos e desigualdades” trata das formas de moderação de conteúdo e desigualdades produzidas ou aprofundadas por essas tecnologias. São discutidos temas como discurso de ódio, violência política de gênero e a responsabilidade das empresas de tecnologia na gestão de seus ambientes digitais.

No dia 23, a aula “Ética, Inteligência Artificial e Ciência de Dados: viés, opacidade e regulação”, com João Guilherme Bastos, analisa, a partir de casos concretos, problemas como o viés algorítmico, a opacidade decisional e as assimetrias de poder que colocam em risco princípios fundamentais como justiça, autonomia e transparência.

No dia 24, a aula “Comunicação Digital e Desinformação: ecossistemas de manipulação e resistência” com Liz Nóbrega aborda como os ecossistemas de plataformas moldam a opinião pública com práticas de manipulação; e reflete sobre os esforços de identificação de dinâmicas de desinformação e sobre estratégias de enfrentamento e regulação, em especial no ambiente das redes sociais.

E no dia 25, encerrando o curso, Ana Bárbara Gomes com “Governança Tecnológica e Participação Social: quem decide sobre as tecnologias que nos governam?” discute políticas públicas, modelos institucionais e iniciativas colaborativas voltadas à regulação responsável das tecnologias, enfatizando o papel da cidadania na definição dos rumos da inovação e na defesa de um futuro digital orientado por direitos e pelo interesse público.

Destinado a profissionais das áreas de comunicação, ciências sociais, direito, políticas públicas, educação, tecnologia e ativismo digital, bem como a todas as pessoas interessadas no tema, o minicurso é uma resposta às demandas tecnopolíticas contemporâneas. Seu propósito é ampliar os espaços de formação multidisciplinar, qualificar o debate público e fortalecer a capacidade de intervenção democrática no campo tecnológico.

É preciso imaginar com responsabilidade os riscos associados às inovações tecnológicas e formar sujeitos capazes de deliberar criticamente sobre o que desenvolver, como e para quem. Do contrário, o país continuará vulnerável à captura corporativa e estrangeira de seu futuro digital.

As inscrições para o curso de extensão “Tecnologias Digitais e Democracia: IA, Dados e Plataformas em Disputa” estão abertas e podem ser feitas pelo site da FESPSP:

https://fespsp.org.br/cursos/tecnologias-digitais-e-democracia-ia-dados-e-plataformas-em-disputa

1 FURTADO, Celso. Criatividade e dependência na civilização industrial. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

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