Os obstáculos para tratar doenças não-transmissíveis

As doenças crônicas não-transmissíveis – as maiores causadoras de morte – no mundo foram uma das pautas da Assembleia Mundial da Saúde. O que planeja a OMS a respeito desses males?

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Um dos temas principais da Assembleia Mundial da Saúde (AMS), que acontece em Genebra, na Suíça, até amanhã (27), foram as chamadas doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs). São condições de saúde de longa duração, não causadas por infecções, mas por fatores como estilo de vida, ambiente e genética, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças respiratórias crônicas. O que planeja a OMS a respeito desses males, que são os maiores causadores de morte no mundo?

Na Assembleia, países se comprometeram a criar iniciativas para que doenças do fígado, dos pulmões, da visão e da audição sejam melhor tratadas na Atenção Primária. Mas, alerta matéria extensa do Health Policy Watch, a interferência da indústria e a falta de financiamento a políticas públicas são entraves para o avanço de reduzir doenças não-transmissíveis a um terço até 2030. O quadro global está em estagnação desde 2015.

Um dos pontos-chave para reduzir essas doenças, segundo a OMS, é a tributação de produtos nocivos, como tabaco, álcool e bebidas açucaradas. Medidas do tipo foram aprovadas na reforma tributária de 2023 no Brasil, embora os alimentos ultraprocessados, de forma geral, tenham ficado de fora.

Outro debate importante a respeito do controle de doenças crônicas não-transmissíveis diz respeito às mudanças climáticas: eventos extremos, como enchentes e queimadas, podem agravar essas condições. A poluição do ar, por exemplo, é um grande fator de piora de doenças cardiovasculares e pulmonares. E o calor extremo também afeta populações, que podem desenvolver problemas como insuficiência renal. Mas mudanças nesse âmbito sofrem resistência dos grandes produtores de petróleo.

O paradoxo das DCNTs está em sua prevenção ser tecnicamente viável – com medidas como tributação e atenção primária – mas politicamente frágil. Enquanto a OMS pressiona por ações globais, a falta de coordenação entre países e a propagação de desinformação, por indústrias de alimentos e combustíveis fósseis, minam progressos. Um exemplo silencioso: o açúcar oculto em alimentos infantis (associado à diabetes tipo 2 precoce) ainda escapa de regulações na maioria dos países, incluindo o Brasil. Se a AMS quer cumprir suas metas, precisará enfrentar não apenas a crise climática, mas a geopolítica da saúde – e os interesses nacionais e corporativos que frequentemente se sobrepõem à ciência.

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