A responsabilidade do 1% mais rico pela crise climática

• Mais ricos emite 26 vezes mais carbono que média global • Fome em Gaza beira o insuportável • Alta em câncer de mama e colo do útero • Fiocruz trabalha em vacina com mRNA • Precarização sanitária na Amazônia • Como um lixão virou aldeia •

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Um estudo publicado na revista Nature Climate Change mostra que indivíduos mais ricos possuem uma pegada de carbono significativamente maior, impactando o agravamento da crise climática. A disparidade é clara: somente o 1% mais rico emite 26 vezes mais carbono que a média global. Quantificando os impactos climáticos causados pelos grupos com maiores emissões dentro das sociedades, a pesquisa revelou que esse 1% contribuiu 17 vezes mais para a intensificação das secas na Amazônia, além de auxiliarem no aumento de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e secas.

A pesquisa lança luz sobre as conexões entre desigualdade de emissões baseada na renda e injustiça climática, demonstrando como os padrões de consumo e os investimentos dos mais ricos têm impactos desproporcionais nos eventos extremos. Sarah Schöngart, autora principal do estudo, explica que impactos climáticos extremos não são apenas resultado de emissões globais abstratas. A análise mostra que é possível ligá-los diretamente às escolhas de estilo de vida e investimento, que, por sua vez, estão relacionadas à riqueza. Utilizando de uma metodologia inovadora, que combina dados econômicos e simulações climáticas, os pesquisadores sugerem que seus achados podem embasar instrumentos de política pública progressiva, direcionados às elites, reequilibrando a responsabilidade climática e aumentando a aceitação social das ações climáticas.

Crianças passam fome em Gaza após novo bloqueio israelense

Correspondente da BBC News em Jerusalém, Fergal Keane relata o caso de Najwa e sua filha de 6 meses de vida, Siwar – uma das milhares de crianças em situação de desnutrição aguda na Faixa de Gaza, só em 2025. Há 2 meses, Israel interrompeu toda a ajuda humanitária e o fornecimento de suprimentos para Gaza, bloqueio que a ONU classificou como uma “punição coletiva cruel” contra os civis palestinos. Desde então, a desnutrição, sobretudo de crianças, vem aumentando.

As cozinhas solidárias que alimentavam centenas de milhares de pessoas em Gaza, tendo em vista o disparo de mais de 1.000% dos preços dos alimentos, estão fechando devido à falta de suprimentos – sem mencionar os saques cometidos por gangues criminosas e civis desesperados. Confrontado com relatos e imagens de crianças famintas, Boaz Bismuth, aliado de Netanyahu, insistiu não haver crianças famintas em Gaza, enfatizando que denúncias sobre fome, limpeza étnica e genocídio na Palestina são “uma besteira”.

Alta na mortalidade por câncer de mama e de colo do útero

No Brasil, a mortalidade por câncer de mama e colo de útero está crescendo, sugerem dados reunidos por levantamentos noticiados na Revista Pesquisa Fapesp. No caso dos tumores de mama, a taxa “passou de 10,5 óbitos a cada 100 mil mulheres em 2000 para 11,8 por 100 mil em 2021”, apontam os pesquisadores. Enquanto isso, a taxa de mortalidade por câncer de colo de útero parou de cair e se tornou estável em 2014 – mas cresce a um ritmo de 1,2% ao ano no estado de São Paulo. 

As razões são múltiplas. Mas especialistas sugerem que a associação entre uma queda na incidência e um crescimento na mortalidade indica que é preciso melhorar os índices de rastreamento. Uma promissora experiência na cidade interiorana de Mococa (SP), descrita na reportagem, propõe caminhos para fazê-lo, identificando a partir de um sistema informatizado nas UBS com as mulheres em situação de maior risco.

Como anda a vacina contra covid com RNA mensageiro da Fiocruz?

A vacina contra a covid-19 com tecnologia de RNA mensageiro que está sendo desenvolvida pela Fiocruz apresentou excelente eficácia nos testes em animais. Os resultados foram semelhantes aos demonstrados pelas vacinas de mRNA já disponíveis no mercado, como as da Pfizer. Neste momento, o instituto está fazendo os testes laboratoriais de segurança, que devem ser concluídos em julho.

A coordenadora de Desenvolvimento e Produção de Produtos RNA de Bio-Manguinhos-Fiocruz, Patrícia Neves, afirmou que este representa um grande avanço para o Brasil. Afinal, com essa nova vacina que está sendo produzida, foi instalada a primeira área de produção de boas práticas de fabricação de produtos mRNA da América Latina. Mesmo que não haja previsão para o término do processo, a expectativa é que até o final do ano a Anvisa conceda a autorização para o início da fase 1 dos testes em voluntários, já que os primeiros resultados são animadores.

Cientistas alertam para “precarização sanitária” da Amazônia

Lançado no mês de abril, o Atlas da Amazônia Brasileira (acesse o PDF) conta com um capítulo sobre Saúde e Medicinas que alerta para a “precarização sanitária” do bioma. Os 32 artigos do documento da Fundação Heinrich Böll, associada ao Partido Verde alemão, também abordam temas como agroecologia, greenwashing e questão fundiária. 

A contribuição de Jesem Orellana, pesquisador da Fiocruz Amazônia, destaca que o avanço predatório do agronegócio e das atividades extrativistas “têm impactado negativamente a saúde humana, seja mediante resíduos potencialmente tóxicos no ar, água e solo ou mesmo alterando a relação entre humanos e diferentes seres vivos, a exemplo do que ocorre com doenças endêmicas”. O cenário de precarização se expressa, por exemplo, no aumento das infecções associadas à falta de saneamento – e também na carga de doenças negligenciadas, como malária, tuberculose e HIV/aids.

De área de descarte irregular a aldeia indígena

De outra parte do país, a Agência Mural conta uma história que reforça o notável papel cumprido pelos povos originários na defesa e preservação do meio ambiente. Na cidade de Guarulhos, situada na Região Metropolitana de São Paulo, foi fundada uma aldeia indígena em um local que já foi um aterro sanitário irregular. Onde já foi descartado lixo de todo tipo e mesmo animais mortos, agora se veem árvores frutíferas, assim como ocas culturais e de moradia. A aldeia Filhos Desta Terra – habitada pelos indígenas desde 2017 – já colhe abacate, banana e chuchu. 

No entanto, a comunidade busca visibilidade para suas demandas junto ao poder público, como um polo básico de saúde, uma escola e um criadouro de peixes. “São 525 anos de resistência, a gente vem lutando para manter essa cultura, o que não é fácil. Quando chegamos nesta terra, em Guarulhos, não seria diferente”, afirma Awa Tupi, uma das lideranças.

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