Num cenário em mutação, homens e mulheres constroem com o que há por perto, integrando cultura e natureza e empregando conhecimentos milenares
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Num cenário em mutação, homens e mulheres constroem com o que há por perto, integrando cultura e natureza e empregando conhecimentos milenares
Por Leticia Freire
Por milhares de anos, grupos humanos se movimentaram pela superfície da Terra. Normalmente isso era provocado por mudanças climáticas, ainda que a alteração fosse gradual e levasse muitos anos.
Na região da Amazônia, contudo, as mudanças ocorreram mais rapidamente que em outras áreas do globo. Chuvas torrenciais traziam grandes inundações e com certa regularidade mudavam o curso e até as direções dos rios. Com certeza não era um ambiente adequado para grandes populações estabelecerem aldeias permanentes em forma de cidades ou vilarejos.
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No entanto, existiam áreas diversificadas para que as populações tradicionais e indígenas pudessem fixar suas moradas. Também havia fartura de comida e de material; muitas eram as praias e no interior do território estavam as matas ciliares que proporcionavam um excelente solo, bem como materiais de construção.
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Assim, dentro de realidades muito particulares de clima e vegetação, os ribeirinhos da Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, foram capazes de se ajustar às transformações climáticas da Terra e criar ambientes onde pudessem
viver.
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Nesse cenário de mutação constante, homens e mulheres aprenderam a construir com o que há por perto, utilizando-se de conhecimentos milenares para fazer da casa a moradia de toda a família. E a variedade de materiais e técnicas construtivas empregadas nas estruturas saltam aos olhos: madeira, palha, barro, tudo é aproveitado para o conforto ou a beleza do espaço. Nada é descartado. Na ausência de algum material ou utensílio, usa-se a criatividade.
O que prevalece no projeto desses construtores é a ideia de harmonia com o ambiente e com a comunidade. Nesse sentido, a casa se torna, ao mesmo tempo, parte do ambiente natural e social onde foi construída.
Este ensaio é, assim, um exercício de contemplação das combinações de técnicas tradicionais e modernas na arquitetura. Frente aos desafios atuais da questão habitacional, acredito que olhar para o modo como alguns povos tradicionais da Amazônia se relacionam com o entorno é buscar inspiração para adaptar nosso próprio ambiente de uma forma menos destrutiva.
(Fotografias tiradas em comunidades da Floresta Nacional do Tapajós, entre 2013 e 2014)
Pasmem, em algumas áreas as comunidades são impedidas de usar materiais da floresta. O motivo? Preservação! Enquanto isso, os verdadeiros exploradores da floresta ‘exportam’ com permissão governamental.
Muito legal!!!