Em mapas, retrato do aprisionamento de trabalhadores, 134 anos após a “abolição”. Por trás de lavouras de cana e usinas, 11,3 mil resgatados das senzalas contemporâneas em 25 anos. É a face oculta do setor “mais moderno” do agro

José ousou cobrar dívida trabalhista. Levou tiro na nuca. Por milagre, sobreviveu. Sua denúncia levou ao resgate de outros trabalhadores: desnutridos, sem salários e vivendo com porcos no Maranhão. Fazenda também arrendava terra à Suzano

Meu avô nunca comeu chocolate, conta um camponês cacaueiro. Outra diz que era proibido provar caroços da fruta. Em 2007, após gerações sob trabalho escravo, eles ocuparam fazenda na BA. Agora, abrem sua própria fábrica da guloseima

Por trás dos hambúrgueres, desmatamento, incêndios florestais e trabalho escravo. McDonald’s e Burger King dizem “monitorar origem da carne”, mas crimes podem vir mais de “terceirizados” da JBS, a principal fornecedor destas redes

Em 7 prisioneiros, o drama de rapazes pobres do interior explorados num ferro-velho de São Paulo. Enxuto e sem maniqueísmos, o filme é brutal sem abusar da violência física: nele, o “mocinho” se deforma e os monstros são demasiados humanos

Investigação rastreou US$ 2,3 bi do BNDES concedidos a grupos que adquirem gado de fazendas envolvidas com desmatamento e trabalho escravo. Itaú, Bradesco e BB, na ponta dos empréstimos, repassam dinheiro sem certificar conformidades

Por trás de colheita e exportações recordes no Brasil, há salários baixíssimos, alta informalidade, desrespeito às mulheres e trabalho escravo. Sem transparência e fiscalização, supermercados e marcas de café são coniventes com as violações

Casos extremos repetem-se: país continua exportando “gado em pé” para o abate. Dois episódios do sofrimento de animais vivos levados de navio, mortos afogados. Em comum, gigantes do setor envolvidas em desmatamento e uso mão de obra escrava

Sem acesso ao ensino remoto, e com famílias abatidas por mortes e desemprego, cresce o número de crianças expostas ao trabalho precoce. Estima-se que 10% dos estudantes das classes mais empobrecidas deixaram a escola na pandemia

Em ensaio notável, antropóloga examina palavras – “mulata”, “mucama”, “mãe-preta” – que expõem racismo e sexismo brasileiros. Ela provoca: certos traços de nossa formação não cabem nem em Freud e Lacan, nem em intelectuais como Caio Prado