Com linguagem sofisticada, filme adquire também uma dimensão metafórica. Nas cenas de escuridão, sob o capuz ou as cortinas de casa fechada, revela-se a clareza da ditadura. E na revelação de seu sequestro, a turva possibilidade de ver o corpo do ex-deputado
Sem pertencer às vanguardas da forma ou reduzir-se a filme-panfleto, obra de Walter Salles tem forte carga política, mas liga passado e presente por meio de um nó: o da história íntima. E a plateia sente um pouco de tudo: o choro, a fúria, esperança, aplauso e memória
Uma análise da filmografia do diretor de Ainda Estou Aqui. Ele debruça-se nas fraturas sociais do Brasil, em elegia a um humanismo quase utópico. Seus olhares são preciosos, mas não veem quem mantém estruturas de poder. O público se comove, mas sai com uma indignação sem alvo
Em tempos de fluxo frenético de imagens, Ainda Estou Aqui conquista públicos com outro tempo de fruição. E faz da “casa burguesa” algo vivo, pulsante. Mas deixa certa sensação de vazio, por não podermos ver a resistência além da classe média branca
Autor do livro que originou o já premiado filme Ainda Estou Aqui fala muito: do rock, ao ranço de Bolsonaro por sua família, violentada pela ditadura. E afirma: “papel da arte é, também, recontar histórias que muita gente quer cicatrizar, ou cicatriza de forma errada”
Ainda estou aqui narra uma tragédia – de uma mulher, de uma família, de um país, atingindo uma poesia audiovisual notável. O terror da ditadura que abate a casa dos Paiva adquire um tom universal – é a vida de cada um de nós triturada pelo autoritarismo