Boulos: sobre o Plano Temer e convulsão social
“O povo vai sangrar”, dizem apoiadores do vice. Com sólido apoio entre parlamentares e blindagem da mídia, ele já faz cálculos para além do golpe. Talvez se esqueça do fator asfalto
Publicado 28/04/2016 às 18:46
“O povo vai sangrar”, dizem apoiadores do vice. Com sólido apoio entre parlamentares e blindagem da mídia, ele já faz cálculos para além do golpe. Talvez se esqueça do fator asfalto
Por Guilherme Boulos
O Brasil amanheceu nesta quinta-feira (28) com mobilizações em avenidas e rodovias de nove Estados. A jornada foi organizada pela Frente Povo Sem Medo e levou às ruas milhares de pessoas. Foi uma demonstração da resistência organizada ao descaminho que o Parlamento parece querer impor ao país.
Se de fato concretizar-se o golpe político em curso e a tentativa de aplicação do “Plano Temer”, o que ocorreu na manhã de hoje poderá se tornar rotina.
O caráter espúrio do processo de impeachment de Dilma evidenciou-se mais uma vez com a escolha da comissão do Senado na última terça.
Não bastava o processo ter sido iniciado e conduzido por alguém da estirpe de Eduardo Cunha. Não bastava o espetáculo lamentável daquela tarde de domingo, onde os deputados falaram de tudo, menos de crime de responsabilidade. Não bastava. Para completar o escárnio, precisavam também colocar Antonio Anastasia na relatoria do processo no Senado.
Anastasia é o fiel escudeiro de Aécio, candidato derrotado em 2014 por Dilma. Anastasia foi governador de Minas Gerais e ficou conhecido por usar e abusar das ditas pedaladas fiscais, que em seu relatório ele colocará como razão suficiente para a destituição da presidente. Aliás, foi ainda mais criativo ao contabilizar vacina de cavalo nas despesas com saúde pública. Uma verdadeira cavalgada fiscal.
Com essa sucessão de hipocrisias, que desmoralizam por completo o Parlamento – aqui e lá fora –, fortalece-se a descrença popular em qualquer saída institucional para a crise. Restam apenas as ruas.
Mas a mobilização popular, evidentemente, não se pauta apenas pela política: “É a economia, estúpido!”. Como disse num descuido o senador Hélio José (do próprio PMDB), “o povo vai sangrar” com o plano arquitetado por Michel Temer, os “Chicago boys” e a Fiesp.
Nos últimos dias, Temer falou na necessidade de “cortes radicais”, mantendo apenas os investimentos públicos em andamento e não realizando nenhum novo empenho. Ou seja, deixar de construir casas, obras de saneamento e infraestrutura etc. Traduzindo: aumento do desemprego e desestruturação das políticas sociais.
Falou também que um de seus primeiros projetos para o Congresso Nacional seria a desvinculação das receitas obrigatórias do Orçamento da União, o prolongamento e ampliação da DRU. Traduzindo: redução dos já raquíticos investimentos em saúde e educação, que tem vinculação mínima legalmente prevista.
E, como cereja do bolo, falou nas reformas trabalhista e previdenciária, iniciando pela desindexação do salário mínimo para as aposentadorias.
Ora, alguém duvida de que uma agenda econômica como essa, de regressão social sem precedentes, irá convulsionar a sociedade brasileira?
Ainda mais sendo aplicada por um eventual presidente sem a legitimidade do voto, um presidente biônico.
Se de fato vier a assumir, Temer terá uma maioria parlamentar robusta, um apoio consistente do mercado e uma blindagem da maior parte da mídia. Isso talvez lhe permita aprovar medidas hoje heréticas, como a CPMF, diante do sorriso envergonhado de Paulo Skaf e dos patos que o seguem.
Mas essa trégua dos de cima poderá não vir acompanhada de uma trégua dos de baixo. Se consolidada a aprovação do impeachment no Senado no próximo dia 11, deverá abrir-se um período longo de instabilidade.
A descrença popular nas instituições, um governo sem legitimidade e a aplicação de um programa de profunda regressão social formam a combinação explosiva capaz de convulsionar o Brasil.
O governo atual e anteriormente o de Luiz Inácio da Silva tem patrocinado a instalação em suas entranhas de um poderoso instrumento que funciona 8 horas por dia ” contra si mesmo “, em centenas de municípios do território nacional. São as TVS de LED que chegam a ter 40 polegadas e boa qualidade de imagem e de som principalmente nas instituições públicas das regiões Centro, Sul e Centro Oeste. Há muito tenho observado esse “cochilo” do Estado, por exemplo, nas UBS nas UPAS e nos orgãos da Receita Federal. Em todos eles os cidadãos encontram modernos equipamentos de TVS, instalados e ligados exclusivamente na REDE GLOBO ou outras poucas similares que vem fazendo juntas, sistematicamente, abertamente, despudoradamente campanha a favor da quebra do Estado de Direito conquistado a duras penas pelo povo brasileiro. Resultado: Os cidadãos vão ás UBS, demoram menos de duas horas para serem atendidos em suas demandas. Tomam suas vacinas. São acolhidos e atendidos pelas equipes de ESF . Passam no setor odontológico, para uma limpeza básica de dentes e pegar pasta e fio dental. Participam da academia da cidade. Pegam remédios nas farmácias, e voltam para casa falando mal, mas muito mal mesmo,
de Dilma Rousseff.
Bastou a volta às ruas de diversos movimento populares para protestarem contra o golpe do impeachment para que os chamados coxinhas e os “indignados” da classe média alta as deixassem. Na verdade os setores populares jamais deveriam ter deixado as ruas, porém, isso comprova um dos equívocos das políticas dos governos Lula e Dilma que buscaram desmobilizar os movimentos de trabalhadores e dos demais setores populareres, o que acabou por abrir espaço para os setores elitistas, conservadores e até mesmo fascistas. E tudo isso em nome de uma pretensa governabilidade que agora se desmonta, comprovando mais uma vez que é impossível conciliar os interesses de explorados e de exploradores, de oprimidos e opressores. Os embates que têm ocorrido ultimamente reafirmam o fato de que as elites brasileiras continuam mantgendo uma mentalidade escravocrata, atrasada, e, ao mesmo tempo, impregnada pela teoria da dependência externa, no caso emkj relação ao imperialismo ianque. A esperança é que tudo isso sirva de lição aos setores progressistas e populares no sentido de que seja retomado o protagonismo das ações políticas e sociais nas ruas e em todos ou lugares, por todo o país de forma permanente para procurar evitar noovos retrocessos sociais e políticos independentemente do desfecho da atual crise política.