A periferia é o palco nas batalhas do mundão

Começa em São Paulo, nesta terça, o festival Estéticas das Periferias. Com curadoria de 46 coletivos das quebradas, evento tem o combate – como arte e metáfora dos desafios de vida – como tema central. Emboladas, repentes, rinhas de MC’s, Passinho, Slam e até duelo culinário compõem programação

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A 15ª edição do Encontro Estéticas das Periferias que começa na próxima terça feira, dia 26 e segue até o dia 31 de agosto tem como tema as batalhas. O foco temático que mobiliza a criatividade dos 46 coletivos culturais que participam da curadoria do evento é o improviso como elemento artístico como ocorre nas batalhas de rima tão populares nos últimos anos. Mas, o evento também quer explorar os desafios presentes na cultura tradicional como a embolada, repente e nas rodas de partido alto, sem deixar de apresentar expressões mais contemporâneas como as rinhas de MC’s , o Passinho e o Slam.

Realizado desde 2011 pela OSC Ação Educativa com o propósito de valorizar a produção artística das bordas da metrópole, o Encontro Estéticas das Periferias tem se reinventado a cada edição. Após ter definido um modelo descentralizado, participativo e territorializado, o evento nos últimos anos consolidou um grupo curatorial, hoje formado por 46 coletivos representativos de toda a periferia paulistana. Para a edição de 2025, o festival experimentará uma organização por polos. A programação que contempla todos os coletivos que participam da organização estará agrupada em 14 espaços, sendo 13 nas periferias. Dessa maneira o evento ficará mais compacto e possibilitará um melhor acesso do público às atividades.

Outra novidade da edição atual é que haverá programação no Interior e no Litoral. As três organizações que junto com a Ação Educativa compõem o PNCC – Programa Nacional dos Pontos de Cultura no Estado de São Paulo terão atividades em suas respectivas cidades: Ubatuba, Araraquara e Marília. Na Capital o evento contará com a participação de parceiros que ampliarão a programação: SESC (unidades de Santana, Pompéia e Santo Amaro); Instituto Moreira Salles, Restaurante Mocotó, Ocupação Coragem, Bar do Frango e Instituto Tambor.

A programação completa do evento pode ser acessada aqui. E também no site do Estáticas das Periferiasalém das páginas no Instagram do evento e da Ação Educativa. Segue aqui uma sugestão de roteiro para você acompanhar o evento de terça a domingo. Lembrando que é tudo de graça!

Terça-feira, dia 26

Nas mais de 30 atividades que compõem a programação do festival, o tema da batalha estará presente como arte, mas também como metáfora remetendo aos desafios da vida cotidiana que são muitos nas periferias. Essa é a inspiração do espetáculo de abertura: Batalhas: entre lutas e sonhos, um musical dirigido pelo ator e diretor Sidney Santiago que ocupará o Teatro do SESC Pompeia. São mais de 30 artistas no palco celebrando o universo das batalhas com música, dança e poesia embalados numa dramaturgia que faz um mix de teatro de revista e o teatro panfletário.

Quarta-feira, dia 27

Os chefs Rodrigo Oliveira (Mocotó) e Edson Leite (Gastronomia Periférica) vão duelar na cozinha. A disputa será no espaço de eventos do Restaurante Mocotó na Vila Medeiros, Zona Norte. Os renomados cozinheiros periféricos vão fazer uma disputa para ver quem faz o melhor prato aproveitando todas as possibilidades de produto como um peixe, por exemplo ou um legume ou os dois juntos, conforme a habilidade de improviso de cada um. Essa batalha será intercalada por apresentações de emboladores e terá a apresentação da MC e poeta Jô Freitas.

O Slam da Guilhermina e outros dois coletivos estarão na Ocupação Mateus Santos em Ermelino Matarazzo, Zona Leste, com a apresentação: Rataria Cultural: quem batalha ocupa. Além do Slam e Batalha de Rima, haverá disputas de skate. Também na Zona Leste, na Cidade Tiradentes no Galpão do Instituto Pombas Urbanas os coletivos Bodega do Brasil, Cine Campinho e o Rataria Cultural farão apresentações na parte da tarde para alunos das escolas da região.

No Espaço Cultural Periferia no Centro que fica na sede da Ação Educativa, na Vila Buarque, região Central, terá a abertura da Exposição Territórios do som: aquarelas de uma noite preta, de Mayara Amaral. As obras exploram o universo da cultura jamaicana, especialmente as batalhas de sound system. O evento conta também com pocket show de All Ice e discotecagem de Lys ventura.

Quinta-feira, dia 28

Na quinta o Estéticas das Periferias ocupa a Favela de Heliópolis com uma programação bem extensa que inclui a presença do rapper Sandrão, do RZO, ícone do Rap Nacional. No evento terá uma edição especial do Sarau Perifatividade que completa 15 anos. O Sarau feminino Me Parió Revolução também estará presente, além de uma gama de artistas de funk e hip hop.

Na mesma zonal sul, o JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube realizará o Slam Nossa Voz envolvendo alunos de escolas da região. A programação do JAMAC também terá graffiti e outras manifestações artísticas nos dias seguintes.

Sexta-feira, dia 29

No derradeiro dia útil da semana, as batalhas tomam conta da programação abrindo os caminhos para um final de semana recheado de rinhas, disputas e desafios. Nos Espaço CITA, na Praça do Campo Limpo, Zona Sul vai rolar um encontro de batalhas com destaque para as Ball Rooms, manifestação cultural LGBTQIAPN+ representada pela Casa Pimentas.

No Centro acontecerá a grande final da BDA – Batalha da Mente que reunirá oito duplas de quatro batalhas de rima da Zona Sul. O evento vai rolar no Museu das Favelas que fica no Pátio do Colégio. E no Espaço Cultural periferia no Centro, o Coletivo Amigas do Samba fará uma roda de samba de partido alto só com mulheres.

Sábado, dia 30

A programação do dia é muito extensa. Vou me restringir às zonas norte e oeste. Todas elas festivais com várias atrações. Começando pelo Jaçanã onde o evento conectará o CEU local e a Casa Cultural do Hip Hop por meio de um cortejo com várias atrações nos dois espaços. Seguindo para a Brasilândia, teremos o Batalhando Sons e Traços que ocupará a sede do Samba do Congo com batalhas de graffiti em tela e roda de partido alto. Fazendo o contorno na Serra da Cantareira, chegamos em Perus. Na sede da Associação Quilombaque vai rolar um festival com batalhas de break, rima e tik tok. Também terá performances de DJ e uma Feira Reggae.

Entrando propriamente na zona oeste, chegamos no Butantã onde na sede do Levante Mulher também haverá um encontro com inúmeras batalhas, incluindo audiovisual, samba e jazz. Também no Butantã vai rolar o Torneio de Futebol de Rua. Fechando o circuito na região, chegamos ao Instituto Tambor, na Vila Sonia onde haverá o evento Legado Vivo que homenageia mestres da cultura afrobrasileira. Lá vai rolar rodas de capoeira e batalhas de tambores.

Domingo, dia 31

Misturando todas as regiões, no domingo começaremos na Zona Leste, em São Mateus, Espaço Sabotage, onde vai rolar a batalha de Pipas Reló, animando a criançada e adultos também. A atividade compõe o festival Batalhas da Vida, do Coletivo São Mateus em Movimento que terá várias outras atrações durante a tarde e noite do domingo.

O SESC entra novamente na programação no último dia do Encontro Estéticas das Periferias com roda de partido alto, batalha do passinho e a consagrada Batalha da Matrix na Unidade de Santo Amaro, enquanto que na Unidade de Santana teremos Batalha de Beat e o projeto TPM – Todas Podem Mixar com batalhas de DJ entre mulheres.

Finalizando a programação acontece o já tradicional Torneio de Slam que acontece no IMS – Instituto Moreira Salles que fica na Avenida Paulista. No domingo acontece a final do certame que contará com 10 equipes procedentes de 5 estados distintos, cobrindo as 5 regiões do Brasil. O estado de São Paulo terá dois representantes do interior (Araraquara e Marília), um da capital e um de Guarulhos.

Com esse roteiro que abrange menos da metade da programação do Encontro Estéticas das Periferias é possível percorrer a periferia de São Paulo e espaços dedicados à cultura periférica no Centro como são a Ação Educativa e o Museu das favelas, além de três unidades do SESC e o IMS. Não há nenhum outro evento que tenha uma cobertura tão abrangente com uma programação feita de baixo para cima e de forma participativa. Isso demonstra que o Estéticas reforça sua relevância e vigor a cada edição. Acompanhar sua programação possibilita uma visão atualizada da cena cultural das bordas da metrópole.

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