Poesia: Lá no lugar que se diz América
Depois da farsa, à tragédia. Três poemas sobre a volta de Trump à Casa Branca, com truculência redobrada para semear conflitos globais e deportar imigrantes. É “tempo de olhos fechados/e punhos cerrados”, dizem. “Quem semeará um ponto de luz?”
Publicado 27/01/2025 às 16:42
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Lá no lugar que se diz América
Lá no lugar que se diz América
o espírito do tempo chega,
estranho,
com promessas que arrebentam sonhos
e erguem pesadelos.
A história insiste em repetir-se,
dizem,
e vem outra vez
com suas máscaras de ferro,
seus gritos de guerra,
seus fantasmas ressuscitados.
Alguns homens
-mulheres também-
erguem a voz,
prometem a verdade única
e o que trazem é sombra,
rancor e silêncio.
Tempos obscuros
dobram a esquina
com palavras
que se vestem de vazio,
como escudo,
dividem o chão
em fronteiras e muros,
ódio e dor.
Tempo de luta
vem por aí.
Verdade, a primeira a ruir
Vejo sombras de gente uniformizada
marchando em seu eterno retorno ao ódio.
Tempo de olhos fechados
e punhos cerrados.
É o Espírito do Tempo que assombra novamente.
Zeitgeist,
depois da farsa, a tragédia,
agora lúgubre.
Tempo de erguer muro
e cavar poço.
Nesse nosso tempo
a verdade é a primeira a ruir.
Quem semeará um ponto de luz?
A história vai e volta,
recomeça como farsa,
como se nunca tivesse sido outra coisa,
vira tragédia
e se repete.
2025,
o mundo em expectativa.
Nós estamos aqui!
Presos na tela,
a um botão que nunca desliga
aguardando um ponto de luz.
Da tela, avistamos o muro,
um eco,
uma sombra,
uma arma…
Da tela, escutamos o grito,
um estrondo,
um espectro…
Que inferno!
A promessa de deportação:
“– Façam as malas e saiam enquanto é tempo!”
A promessa de retaliação:
“– Uma bomba virá!”
Quantos escombros!
E nós estamos aqui.
Não há verso para o genocídio
transmitido na tela,
a palavra vira pedra,
a pedra vira mapa
de gente que não tem mais chão.
E nós continuamos aqui!
Na tela.
É o espírito do tempo
que volta como farsa e tragédia,
um passado sombrio
que se torna presente,
um vento que sopra
e faz tudo virar cinza.
Quem semeará um ponto de luz
em meio a esse mundo lôbrego?
Os poemas são muito. bonitos e estão calcados na frase de Marx que diz que a história inicialmente vem como farsa e se torna tragédia.Nao é por acaso que os déspotas chegam ao poder mas o povo tem tudo a ver com essa tragédia anunciada.
Gostei dos três, Célio. Mas, especialmente, do terceiro. Parabéns por retratar poeticamente essa dura realidade.
O homem nem começou a trabalhar,sejamos otimistas
Julgamento sob a aparência de durão nem chega perto da dureza do poema é mais durão
Vai dá certo,a América vai avançar “otimismo,confia vai,e diminui os contos dando esperança ao americano,ao mundo que tem o EUA como referência
águia
que não guia – só agarra
e bica
O CHARLATÃO
Cheio de ódio, o teu riso morde
Indiferente ao outro, zombas da dor
Emana fúria, teu olhar enganador
Vem do desprezo teu enxergar disforme
Teus profetas são falsos e hipócritas
Te guiam ao abismo do absurdo
Teu Machado e afiado e surdo
Teu coração é frio e ególatra
Sombras e gemidos habitam o palacete
Tem mofo e fungos, os teus pilares
Teus armários estão cheios de cadáveres
Há muito lixo debaixo do teu tapete
Fétida lama beira o teu portal
Tem sangue e lágrima o teu cálice
Tuas verdades vãs, tristes disfarces
Ervas daninhas enfeitam o teu quintal.
Sidney china
Grato a OUTRAS PALAVRAS pelo conteúdo diverso, criativo, profundo e relevante.