?️ Coronavírus: a indústria da carne tem responsabilidade

Frigoríficos tem culpa direta, como grandes focos de espalhamento da covid no interior do Brasil. Mas o próprio modelo abre grandes brechas para surgimento de doenças. Há saídas, no incentivo a pequenos produtores e em uma reforma urbana

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João Peres em entrevista a Raquel Torres, no Tibungo

Algumas pessoas se assustam quando dizemos que outras pandemias muito graves ainda vão acontecer. Isso não é uma especulação, mas uma realidade quase palpável.

Desde a Peste de Atenas, mais de 400 anos antes de Cristo, já houve pelo menos 17 epidemias causadas por doenças emergentes que se espalharam por grandes territórios, incluindo algumas pandemias. A questão é que as novas doenças estão se tornando mais recorrentes. O número delas, por década, quase quadruplicou nos últimos 60 anos. E nunca houve condições tão favoráveis para um patógeno se espalhar pelo mundo inteiro.

Vários anos atrás, cientistas já previam que seríamos pegos por algo como a covid-19, o que se tornou muito evidente no início dos anos 2000, depois das epidemias de SARS e MERS na Ásia. Num histórico artigo de 2005, o epipdemiologista Michael Osterholm escrevia que o mundo precisava urgentemente começar a se preparar para isso. E o alerta mais recente veio em 2018, quando a OMS incluiu, em sua lista de doenças que deveriam estar no centro das prioridades no mundo, uma desconhecida “doença X”. Era uma hipótese: a consciência de que um patógeno desconhecido poderia levar a uma epidemia internacional grave.

Apesar dos avisos, o mundo claramente não estava preparado para o que aconteceu. Depois que essa pandemia acabar, é uma questão de tempo até que tudo comece de novo, e a próxima crise pode ser ainda maior e mais mortal. Aliás, a tal “doença X” continua na lista da OMS atualmente, ao lado da covid-19.

Mesmo assim, quase não se fala sobre como e por que chegamos até aqui. Como isso seria evitável?

No episódio de hoje, vamos entender como as pandemias são impulsionadas pelo agronegócio – uma relação que não parece muito óbvia à primeira vista, mas se torna cristalina na medida em pensamos sobre esse sistema de produção de alimentos. O biólogo Rob Wallace chamou a atenção para isso no livro Pandemia e Agronegócio, lançado em 2016 e publicado no Brasil este ano pela Editora Elefante.

Quem conversa com a gente sobre esse assunto é o jornalista João Peres, do site O Joio e o Trigo, que tem acompanhado o tema. Ele explica melhor o que o agronegócio tem a ver com o surgimento de doenças infecciosas e como, no Brasil, ajudou a espalhar o vírus para municípios pequenos por meio dos frigoríficos. Ele também nos ajuda a entender como esse setor deve piorar os efeitos indiretos da covid-19. Quando pensamos por exemplo no cenário de intensificação da fome, que já está posto, o agronegócio não será a salvação, mas uma das causas.

FONTES:

Preparing for the Next Pandemic, de Michael T. Osterholm: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmp058068

Os senhores do boi não entraram em quarentena, de Juliana Fronckowiak Geitens

Desconfinar os animais para desconfinar a humanidade, de João Peres

Pandemia e agronegócio, de Rob Wallace

Prioritizing diseases for research and development in emergency contexts

https://www.who.int/activities/prioritizing-diseases-for-research-and-development-in-emergency-contexts

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