Perseu Abramo versus os monopólios de imprensa

Falecido há 27 anos, jornalista foi uma voz incisiva pela comunicação democrática e livre em nosso país. Sortearemos 3 exemplares de seu clássico ensaio sobre as distorções metodicamente promovidas pela mídia oligárquica

Perseu Abramo conheceu por dentro a máquina dos monopólios de mídia. Trabalhou na Folha e no Estadão, irmãos gêmeos na defesa dos interesses da mais poderosa oligarquia do país, a paulista. Mas também participou de algumas das mais importantes experiências da imprensa alternativa nacional, como o jornal Movimento. Com esse repertório, escreveu em 1988 um ensaio que impressiona por sua atualidade no reconhecimento de como os grandes grupos midiáticos constroem suas distorções politicamente interessadas.

Padrões de manipulação na grande imprensa reúne conhecimentos angariados por Abramo na atuação jornalística e nas investigações acadêmicas. O autor, formado em Ciências Sociais na USP, lecionou nas primeiras turmas da UnB até o golpe de 1964, na UFBA, e na PUC de São Paulo, além de outras instituições, ensinando disciplinas de sociologia e jornalismo.

Com impressionante capacidade de síntese, o texto de Perseu Abramo apresenta cinco padrões fundamentais dos mecanismos através dos quais os veículos da mídia comercial transformam fatos em irrealidades. Até porque, explica ele já no início do escrito, não é que tudo que se lê em um jornal desses seja estritamente mentira. Se fosse assim, a farsa não funcionaria – ninguém daria crédito aos periódicos.

Uma lógica muito mais sutil é operada há décadas nessas redações. Abramo aplica a metáfora do espelho distorcido: o objeto da manipulação não deixa de ser real, mas é representado de forma completamente distinta de sua verdadeira natureza. Assim, o leitor que vê sua imagem (isto é, a notícia) não é capaz de acessar o que é central nela, e muitas vezes é levada a conclusões falsas sobre seu conteúdo. Desnecessário dizer que essas notícias em ângulo oblíquo tendem a advogar em favor de um interesse específico, o dos poderes estabelecidos.

Na ocultação, fragmentação, inversão e indução – além da manipulação própria do jornalismo de TV e rádio, que junto das anteriores compõe a lista de cinco padrões – há uma lógica, formas oficialmente chanceladas de praticá-las. O arsenal de ferramentas da grande imprensa é amplo, e não necessariamente está escondido. Nos manuais de redação, por exemplo, é possível descobrir como se orienta a utilizá-lo. É o que Perseu Abramo faz neste estudo.

Outras Palavras sorteará três exemplares de Padrões de manipulação na grande imprensa, de Perseu Abramo, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima quinta-feira, 30/3, às 14h. Participe: seja Outros Quinhentos!

Para que não pareça que o fenômeno caiu do céu, o sociólogo enfatiza que nada disso é feito sem uma finalidade clara. O objetivo, é claro, é político. Aliás, este é um dos primeiros livros a apontarem como a grande imprensa nacional tem um caráter de partido político.  Programa, tática, estratégia, quadros dirigentes, aparato e organização interna: todas as características de um verdadeiro partido estão lá.

“Tendência, não circunstância”. Assim, o jornalista explica porque os exemplos de clara distorção encontrados nos principais veículos do país não são raio em céu azul. A vida política nacional é constantemente afetada por essa manipulação. Seu alerta, cientificamente embasado, vale ouro para um momento em que o Brasil e seu povo têm a oportunidade de fazer uma mudança de rumos estrutural – que receberá, pelas razões e das formas expostas no livro, duros golpes da mídia que está aí. Mais uma razão para seguir batalhando pela democratização das comunicações. Só, assim ele dizia, “o jornalismo poderá se libertar do seu pior inimigo: a imprensa, tal como ela existe hoje.”

Falecido em março de 1996, há 27 anos, Perseu Abramo é um exemplo da boa luta por uma comunicação livre e democrática no Brasil. Coerente com suas convicções, foi uma das lideranças da greve geral dos jornalistas de São Paulo em 1979 e foi demitido da Folha por sua atuação política. Deixou, além da biografia militante, importantes trabalhos como este, que ajudam a aclarar a vista sobre como realmente funciona o jornalismo brasileiro no capitalismo.


Nestes 27 anos de sua morte, quisemos fazer nossa homenagem ressaltando a contínua relevância de sua obra. Sortearemos 3 exemplares de seu livro Padrões de manipulação na grande imprensa entre os apoiadores de Outras Palavras, um projeto orientado pelo dístico jornalismo de profundidade e pós-capitalismo, do qual Perseu certamente seria entusiasta.

Para participar é necessário fazer parte de nossa rede de financiamento coletivo: se você ainda não contribui, acesse apoia.se/outraspalavras e escolha seu plano. O formulário de inscrições será enviado por e-mail e estará aberto até a próxima quinta-feira, 30/3, às 14h

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