Outros Quinhentos oferece: PISEAGRAMA, uma revista singular, que percorre territórios com afeto e vivacidade

A 12ª edição da Piseagrama, tem como tema o conceito de “posse”. Concorra a duas delas, em sorteio especial para colaboradores de Outras Palavras

A 12ª edição da Piseagrama tem como tema o conceito de “posse”. Concorra a duas delas, em sorteio especial para colaboradores de Outras Palavras

Por Simone Paz | Pintura de Suely Maxakali e Isael Maxakali

A Piseagrama deve ser a revista mais bonita do Brasil. E a melhor diagramada. E com os conteúdos mais interessantes e gostosos de ler.

Famosas ficaram também suas coloridas e estilosas ecobags com slogans como “Pescar e navegar no Tietê”, “Uma praça por bairro” e “Ônibus sem catraca”.

A primeira vez que peguei uma Piseagrama nas mãos, foi amor à primeira vista. Até hoje fico paralisada de admiração cada vez que abro uma delas e percorro as páginas.

Não foi diferente com a edição mais recente, “Posse”, revista semestral número 12, lançada em setembro de 2018, e recheada de colaborações p(h)oderosas, como a da antropóloga e coordenadora do Aarhus University Research on the Anthropocene (AURA) Anna Tsing e do doutor em antropologia e liderança guarani-kaiowá Tonico Benites, do advogado da etnia Terena Luis Henrique Eloy Terena, dos cineastas e desenhistas Sueli Maxakali e Isael Maxakali. Também, da urbanista e relatora especial de direitos humanos da ONU Raquel Rolnik, e da prefeita de Barcelona Ada Colau e seu companheiro de luta pela moradia Adrià Alemany.

Dá para ter um gostinho de todas as reportagens desta edição, em que a “Posse” abraça assuntos como o corpo, a arte, a terra, a habitação, os pertences pessoais, e muito mais, aqui.

Concebida em Belo Horizonte, pelos editores Fernanda Regaldo, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado, é uma revista pensada pela ótica do urbanismo e da cultura, navegando por questões de interesse público, sem fins lucrativos, sem publicidade, sem copyright. São revistas atemporais, que sobrevivem destemidamente ao tempo, inclusive com mais qualidade e importância do que muitos livros.

Qualquer reportagem é atual nelas: tudo é muito lúcido e profundo.

Em parceria com Outras Palavras, a Piseagrama regala dois exemplares da última edição, para sortearmos semana que vem.

Se você colabora com o jornalismo pensante de Outras Palavras, e é apaixonado por textos bons e ilustrações e fotos fabulosas, participe do sorteio até terça-feira 21 de maio, por meio deste formulário.


A seguir, publicamos o começo do texto “Somos da terra”, de Antônio Bispo dos Santos, presente na Piseagramanº 12:

Quando provoco um debate sobre a colonização, os quilombos, os seus modos e as suas significações, não quero me posicionar como um pensador. Em vez disso, estou me posicionando como um tradutor. Minhas mais velhas e meus mais velhos me formaram pela oralidade, mas eles mesmos me colocaram na escola para aprender, pela linguagem escrita, a traduzir os contratos que fomos forçados a assumir.

Fui para a escola da linguagem escrita aos nove anos, mas, desde que comecei a falar, fui formado também por mestras e mestres de ofício nas atividades da nossa comunidade. Quando fui para a escola no final da década de 1960, os contratos orais estavam sendo quebrados na nossa comunidade para serem substituídos por contratos escritos impostos pela sociedade branca colonialista. Estudei até a oitava série, quando a comunidade avaliou que eu já poderia ser um tradutor.

Na década de 1940 houve uma grande campanha de regularização das terras pela escrita. Isso ocorreu no Piauí e também no resto do Brasil. A lei dizia que as pessoas que ocupavam a terra seriam chamadas de posseiros. Essa lei colocou um nome, coisificou essas pessoas. Não éramos posseiros, éramos pessoas… O que isso significou para nós?

A partir do momento em que a lei diz que somos posseiros, ela está cumprindo um papel importante para o colonialismo. O colonialismo nomina todas as pessoas que quer dominar. Às vezes fazemos a mesma coisa sem perceber: quando temos um cachorro, por exemplo, damos a ele um nome, mas não um sobrenome. Os colonialistas dão um nome, mas não dão um sobrenome porque o sobrenome é o que expressa o poder. O nome coisifica, o sobrenome empodera. Então, ao nos chamar de posseiros, nos colocaram em uma situação de dominação, obrigando-nos a cumprir os contratos que a nominação de posseiros nos impunha.

Os contratos do nosso povo eram feitos por meio da oralidade, pois a nossa relação com a terra era através do cultivo. A terra não nos pertencia, nós é que pertencíamos à terra. Não dizíamos “aquela terra é minha” e, sim, “nós somos daquela terra”. Havia entre nós a compreensão de que a terra é viva e, uma vez que ela pode produzir, ela também precisa descansar. Não começamos a titular nossas terras porque quisemos, mas porque foi uma imposição do Estado. Se pudéssemos, nossas terras ficariam como estão, em função da vida.

Continue a ler o texto, aqui: https://piseagrama.org/somos-da-terra/

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