Outros Quinhentos oferece O Método Jacarta

Do Brasil à Indonésia, lançamento premiado da Autonomia Literária expõe matanças da rede anticomunista global criada pelos EUA para vencer a Guerra Fria. Quem apoia nosso jornalismo concorre a 2 exemplares e tem 25% de desconto

No último mês, Outras Palavras publicou com exclusividade a introdução de O Método Jacarta, de Vincent Bevins. A obra acaba de ser lançada pela Autonomia Literária, nossa parceira editorial. Leia o texto aqui.

Uma certa interpretação da história da Guerra Fria, muito bem aceita nos meios de comunicação e na academia dos EUA e da Europa, diz que o socialismo perdeu o grande embate do século XX por uma espécie de inferioridade inata – naturalmente superiores, o livre-mercado e o Ocidente triunfaram com seu sistema democrático e humanista de organizar a sociedade.

O Método Jacarta, do jornalista Vincent Bevins, veio para enterrar de vez essa tese. Recém lançado pela Autonomia Literária, o livro demonstra que a vitória estadunidense se construiu com o planejamento meticuloso de eventos de violência em massa nos países do Terceiro Mundo que almejavam uma orientação política independente. Para isso, instituições como a CIA e o Departamento de Estado articularam uma rede transnacional de “cruzados” anticomunistas que punham em prática essas ações.

Tendo como apogeu o massacre de mais de um milhão e meio de comunistas e simpatizantes na Indonésia em 1965 – daí, portanto, Jacarta –, essa rede se especializou na desestabilização de governos como o de Allende, com resultados conhecidos. Como explica Bevins, as ondas de violência, apesar de assustadoras, não eram “cegas” ou “sem sentido”: tinham o objetivo claro de tomar Estados de assalto e eliminar fisicamente a oposição a fim de que nunca mais esses países se desviassem da orientação pró-Ocidente.

Reunindo testemunhos individuais, material jornalístico de época e documentos oficiais de diversos países, o autor comprova a aplicação do “método” depois de eventos como o golpe de 1964 no Brasil e o golpe de 1973 no Chile. Não por coincidência, em ambos os casos elementos da direita e das Forças Armadas usavam “Jacarta” como código para seus planos de eliminação dos comunistas – a palavra constaria até no nome de uma operação de perseguição ao PCB nos Anos de Chumbo. 

Outras Palavras e Autonomia Literária sortearão 2 exemplares de O Método Jacarta, de Vincent Bevins, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de inscrição será enviado por e-mail. As inscrições serão aceitas até segunda-feira, 22/8, às 14h. Quem é Outros Quinhentos também tem 25% de desconto no site da editora

A ditadura brasileira não pode mais ser explicada sem que se cite o nome de Vernon Walters, adido dos EUA que instigou e criou condições para sua imposição. Conhecemos bem os relatos de torturas e assassinatos cometidos pelos militares: o que não podemos mais ignorar depois de O Método Jacarta é que seus perpetradores estavam em contato direto com os perpetradores de violações similares nos anni di piombo na Itália, na luta pela independência na Argélia e em outros pontos do globo, compartilhando táticas, técnicas e visões de mundo.

Começando pela derrubada de Mossadegh no Irã em 1953 e pelo golpe contra Árbenz na Guatemala em 1954, militares e espiões americanos atuaram na derrubada de governos soberanos durante a Guerra Fria. Porém, explica Bevins, estes começaram a gradualmente deixar o trabalho sujo para seus alunos nativos. Oficiais do Brasil e da Indonésia puseram as mãos na massa para formar cinturões de ditaduras anticomunistas na América Latina e no Sudeste Asiático – reduzindo a necessidade de envolvimento direto de Washington e autonomizando manobras pró-Ocidente em países periféricos.

E nada disso são águas passadas. Bevins argumenta que é sob o signo desse anticomunismo que se move a política contemporânea. O sentimento pacientemente cultivado pelas instituições dos EUA dá frutos pelo mundo até hoje – um deles, Jair Bolsonaro. Ao primeiro sinal de que um país vá trilhar uma rota de soberania e justiça social, logo ressurge na mídia e na boca das elites locais a acusação de que os comunistas vão tomar a Nação, situação que exige medidas de segurança. Tortura e guerra civil “matando uns 30 mil”, pede Bolsonaro em entrevista resgatada pelo autor.

Livro do Ano em inúmeras listas de 2020, O Método Jacarta não é só mais uma adição para as estantes, porque é uma das raras obras capazes de articular e demonstrar uma verdade amplamente ignorada: do Sudão à Indonésia, do Brasil ao Iraque, a ordem liberal que venceu a Guerra Fria e rege o mundo hoje se ergueu sobre a violência anticomunista ordenada pelos Estados Unidos.


Em parceria com a Autonomia Literária, sortearemos dois exemplares de O Método Jacarta entre os leitores que apoiam o jornalismo independente e sem catracas de Outras Palavras. Conheça os planos para se somar à rede Outros Quinhentos e aproveite esse e outros sorteios e descontos oferecidos para quem colabora conosco.

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