China e Índia, dois modelos
Publicado 10/05/2011 às 16:13
Um artigo do Nobel Amartya Sen tenta estabelecer comparações políticas e sociais entre os dois páises emergentes que estão mudando a economia do planeta
Comecemos pelos dados básicos. A China tem um PIB maior e cresce mais rápido e seus indicadores para expectativa de vida, alfabetização, anos de educação, mortalidade infantil são bem melhores do que os da Índia. Na realidade, em alguns quesitos os indianos ficam atrás do vizinho Bangladesh, que é mais pobre, mas tem melhores políticas sociais e discrimina menos as mulheres.
O ponto forte da qualidade de vida na Índia é a existência das liberdades civis e políticas básicas. Democracia, livre opinião e associação. Os primeiros trabalhos de destaque de Sen como economista argumentavam que essas condições explicavam por que não houve fomes massivas com milhões de mortos no país após a independência, ao contrário das diversas mortandades que ocorreram no período colonial e de tragédias semelhantes na China comunista, em ocasiões como o “Grande Salto Adiante” de Mao Tse-Tung. Para Sen, governos autoritários não conseguem lidar com fome porque lhes faltam informações adequadas para mensurar o problema, seus funcionários mentem para os superiores e não há outros atores (imprensa, partidos de oposição, movimentos cidadãos) para fornecer dados que contrariem a versão oficial.
Ele leva o argumento mais longe, defendendo o primado da democracia como melhor instrumento de política social, por ser mais sensível às demandas populares. Faz sentido – basta olhar, por exemplo, a experiência da América Latina ou de países como a África do Sul – mas com cautelas. Como Sen mostra no artigo, a ditadura chinesa tem melhor saúde pública do que a democracia indiana, embora o primeiro país tenha medidas muito mais instáveis nesse campo, e o segundo apresente uma curva ascendente de acesso à medicina.
A questão é que democracias e ditaduras têm muitas maneiras de se manifestarem, um amplo conjunto de instituições, práticas e modos de organização do Estado. O regime político indiano é permeado por muito autoritarismo, nos preconceitos de casta, violência religiosa e na longa insurreição maoísta dos naxalitas. Os efeitos do Estado chinês também variam bastante entre cidade e campo, entre a etnia han e as minorias no Tibete e Xinjiang, ou na ação dos governos subnacionais, com as administrações mais competentes no sul.
Sen foi um dos criadores do Índice de Desenvolvimento Humano, que além de levar em conta a renda, aborda temas sociais como educação e expectativa de vida. Muitos novos indicadores procuram mensurar outros aspectos fundamentais, como meio ambiente saudável e há até o esforço para tentar medir a felicidade. Este é um debate importante não apenas para China e Índia, mas também para o Brasil, pela busca de modelo de desenvolvimento sintonizado com o século XXI, porque a importância crescente da exportação de commodities na economia brasileira conduz a discussões que são regressivas em termos dos direitos existentes hoje no país.
Muito interessante os dados apresentados no texto. Estou escrevendo um artigo sobre a Índia, e cada vez me impressiono mais com essa nação tão exuberante e tão diferente dentro de si mesma. Fantástico o texto do Maurício Santoro. Aliás sou fã de carteirinha, já assisti duas palestras dele aqui em São Paulo. Parabéns!