A corrida contra a desaceleração do PIB

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Para chegar aos 5% de crescimento, dependerá dos investimentos públicos. Prevê-se queda nos preços das commodities, reduzindo a pressão sobre o câmbio e sobre os preços

Por Luís Nassif, em seu blog

Não foi pequena a desaceleração da economia brasileira, de acordo com os dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados ontem pelo IBGE.

Não se minimize as dificuldades de se calibrar o crescimento.

A comparação corrente é com um transatlântico. O piloto começa a mudar o rumo, mas a direção só se completa depois de muito tempo.

No final do ano passado, a inflação foi pressionada por fatores extra-demanda – aumento de preços de commodities – e por mudanças estruturais no mercado de consumo – aumento nos preços de serviços pessoais.

Para não pressionar os juros, o Banco Central tomou uma série de medidas chamadas de prudenciais – de contenção do crédito. Antes que se pudesse avaliar os efeitos dessas medidas, cedeu à pressão do mercado e decidiu aumentar também a taxa Selic.

Apenas em setembro decidiu iniciar a viagem de volta da taxa Selic – enfrentando protestos violentos do mercado.

O questionamento partiu dos mesmos economistas que, na última década, ajudaram a pautar os comentários dos jornalistas econômicos. Mais uma vez, pecaram pela superficialidade, pelos erros crassos. Mas não serão cobrados por isso. Tem autorização para errar sempre e para oferecer carne estragada ao noticiário.

Já do Banco Central, não se pode esperar essa facilidade em errar.

É evidente que o BC errou, não por iniciar a redução dos juros, mas pela timidez em acelerar a queda, quando havia sinais mais nítidos no horizonte, de desaceleração da economia.

Agora se tem, na ponta, uma economia estagnada. E o enorme desafio de reativá-la no próximo ano, de colocar em ação várias iniciativas e esperar que surtam efeito antes que a estagnação impacte mais ainda as expectativas dos agentes econômicos.

Ontem, o Secretário Executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, apostava em um crescimento do PIB de 3,5% este ano e de 4 a 5% no próximo ano.

Segundo me informou, o cenário com que a Fazenda trabalha é o seguinte:

1 — Recessão na Europa, crescimento discreto nos Estados e crescimento na China saindo de 9% para 8% ao ano.

2 — Conjunto de medidas de estímulo ao consumo (adotadas dias atrás), aumento do Salário Mínimo, desoneração do Supersimples e do Empreendedor Individual e plano Brasil Maior, de estímulo às empresas. Segundo seus cálculos, serão injetados entre R$ 30 a R$ 40 bi na economia.

3 — Efeito defasado do atual movimento de redução da taxa Selic.

4 — Flexibilizaçao das medidas prudenciais, permitindo ao crédito se recuperar um pouco mais rapidamente no ano que vem.

Para chegar aos 5% de crescimento, dependerá dos investimentos públicos. Há investimentos programados das estatais, em aeroportos e transportes, obras da Copa do Mundo que, depois da fase de definição de projetos, que ocorreu no segundo semestre de 2011, podem deslanchar em 2011.

Neste cenário, prevê-se queda nos preços das commodities, reduzindo a pressão sobre o câmbio e sobre os preços.

As medidas para capital externo – 1

Barbosa justificou as medidas recentes que a Fazenda tomou em relação ao capital. Foi zerado o IOF para investimentos externos em bolsa e títulos privados – que haviam sido onerados no primeiro semestre. No último mês do governo Lula, houve uma MP dando isenção de imposto de renda para investidores nacionais ou internacionais que aplicassem em títulos de longo prazo para a infraestrutura.

As medidas para capital externo – 2

Segundo Barbosa se, de um lado, a entrada de capital externo pressiona o câmbio, de outro é a principal ferramenta de que dispõe o Banco Central para esticar o prazo das captações. Mas essa isenção – importante para consolidar o mercado de longo prazo de títulos privados – esbarrava na cobrança de IOF. A isenção contemplava papéis com “duration” (prazo em que ocorre a maior parte do pagamento) de mais de 4 anos.

As medidas para o capital externo – 3

Segundo Barbosa, o maior fator de pressão sobre o câmbio é o mercado de derivativos. Sobre ele continuará a cobrança de IOF. Mas para se ter um mercado financeiro desenvolvido, há a necessidade de quatro frentes: 1. Títulos públicos, que já existe; 2. Ações, bem desenvolvido; 3. Títulos privados, que praticamente não existe e; 4. Financiamento imobiliário de longo prazo, que só existe com a poupança.

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