Assassinato no Rio: Sâmia era ameaçada há meses

Há três meses, a deputada – irmã de médico executado nesta madrugada – denunciou e-mails com ameaças de morte a ela e familiares. Autoridades anunciam celeridade nas investigações em face da hipótese de relação com dois parlamentares

A deputada do PSOL, Sâmia Bonfim (à direita), ao lado de se irmão, Diego Ralf Bonfim, brutalmente assasinato em quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro — Reprodução/Instagram/Diego Ralf Bomfim
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Por Socialista Morena, na Revista Fórum

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), cujo irmão médico foi assassinado com características de execução em um quiosque no Rio na madrugada desta quinta-feira, denunciou em entrevista à escritora Tati Bernardi três meses atrás, em julho, que recebe por e-mail recorrentes ameaças de morte a ela e seus familiares, com “requintes de crueldade”.

“As ameaças que eu recebo são direcionadas a meu filho. Atinge num lugar que não é racional, a gente fica maluca, mesmo. Mas eu tento racionalizar, porque o medo é a arma deles”, disse Sâmia. “Recebo e-mails uma vez por mês, a cada quinze dias, com ofensas horrorosas dizendo que vão me matar e matar minha família das formas mais horríveis e sempre com requintes de crueldade. Dá para investigar, mas depende de vontade política, que nunca teve e agora tem”, declarou.

Não foi a primeira vez que Sâmia mencionava ameaças. Em agosto do ano passado, uma ameaça recebida por e-mail citava seu filho com o também deputado Glauber Braga, Hugo, então com 1 ano de idade. “Acha que vai continuar exercendo este cargo de deputada federal até 2023? Nana-nina-não, sua vadia. Vamos te amarrar e te estuprar na frente de seu filho”, dizia 0 e-mail, que terminava fazendo uma alusão nazista, segundo a deputada. A deputada chegou a fazer boletim de ocorrência na Polícia Civil de São Paulo.

“Conversei com minha equipe e decidi fazer um boletim de ocorrência no dia seguinte. Cheguei a pensar em não divulgar. Mas refleti que, mesmo não sendo a primeira ameaça, foi a mais grave e perversa. Muito semelhante às que foram dirigidas a Manuela Dávila e Duda Salabert”, publicou Sâmia na época.

Em março de 2023, a deputada informou ter sofrido novas ameaças de morte por ocasião do Dia Internacional da Mulher. As ameaças incluiam xingamentos misóginos e também mencionavam seu marido, Glauber, e mais uma vez o filho do casal. Sâmia anunciou que iria pedir ao ministro da Justiça, Flávio Dino, a criação de um departamento na Polícia Federal dedicado ao combate à violência política de gênero.

“A violência política de gênero tem sido cada vez mais corriqueira, mas o Estado tem falhado no acolhimento e encaminhamento das denúncias e na busca por respostas e proteção das vítimas. O governo Bolsonaro não só ignorava como estimulava a prática, pois bolsonaristas praticam violência política de gênero contra adversárias políticas, nas redes sociais e na tribuna”, disse Sâmia à Folha de S.Paulo.”Precisamos construir novos marcos e protocolos para lidar com crimes assim e proteger a democracia, o direito à participação política das mulheres, sobretudo negras e LGBTQIA+.”

Em agosto deste ano, mês da celebração do Orgulho Lésbico, houve uma ação coordenada em todo o país com ameaças a parlamentares de esquerda que defendem os direitos LGBTs, entre os dias 8 e 22. Sete parlamentares receberam ameaça de “estupro corretivo”: as deputadas federais Daiana Santos (PCdoB-RS), Duda Salabert e Dandara Tonantzin (PT-MG), as estaduais Rosa Amorim (PT-PE) e Bella Gonçalves (PSOL-MG) e as vereadoras do PSOL Iza Lourença (MG), Luana Alves (SP), Mônica Benício (RJ) e Cida Falabella (MG).

As mensagens eram assinadas pelo Comando de Caça aos Comunistas de Minas Gerais (CCC-MG), em referência à organização de extrema direita da época da ditadura militar, exaltavam o coronel Brilhante Ustra, ídolo de Jair Bolsonaro, e usavam o slogan do ex-presidente, “Deus, Pátria e Família”. As parlamentares levaram a denúncia ao ministro da Justiça, Flavio Dino. Ele se pronunciou hoje nas redes sociais sobre a execução do irmão de Sâmia Bomfim.

“Em face da hipótese de relação com a atuação de dois parlamentares federais, determinei à Polícia Federal que acompanhe as investigações sobre a execução de médicos no Rio. Após essas providências iniciais imediatas, analisaremos juridicamente o caso. Minha solidariedade à deputada Sâmia, ao deputado Glauber e familiares”, disse Dino, sem descartar a possibilidade de crime político.

Horas depois, o ministro informou ter conversado com o governador do Rio pedindo providências. “Sobre a execução dos médicos, conversei agora com o governador do Rio, Cláudio Castro. Polícia Civil já realizando diligências investigatórias. Polícia Federal também. Secretário Executivo do MJ, Ricardo Cappelli, irá ao Rio e reunirá com a direção da PF e com o governo do Estado”.

Sâmia Bomfim teve uma posição de destaque este ano ao integrar a CPI do MST, onde protagonizou uma série de embates com deputados bolsonaristas. Durante a CPI, que não deu em nada, Sâmia sofreu com ataques misóginos e gordofóbicos por parte do presidente, tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), e do relator da Comissão, Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro.

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