Temperaturas extremas e risco de morte nas Américas

Aumentam as mortes causadas pelo calor intenso dos últimos tempos. Uma análise das internações durante 15 anos na rede pública de saúde brasileira aponta hospitalizações por problemas respiratórios, renais e cardiovasculares diretamente ligados às mudanças do clima

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Além das consequências para a biodiversidade, produção de alimentos e desastres naturais, e que em um futuro muito próximo aprofundarão os abismos socioeconômicos entre populações e países, as mudanças climáticas já estão provocando consequências graves à saúde. Os continentes americanos devem enfrentar o excesso cada vez maior de mortalidade e hospitalizações causados pelas ondas de calor extremo. A lista de enfermidades inclui exaustão e insolação, doenças cardiovasculares, renais e respiratórias. No Canadá, uma onda de calor em 2021 provocou a morte de mais de 500 pessoas.

Esses reflexos do aquecimento da terra já vinham sendo projetados em muitos países ao longo deste século. E as recentes conclusões são de um estudo realizado pela Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS), divulgado na última terça-feira, 8/3, parecem graves. Segundo o relatório, foram realizados uma série de estudos epidemiológicos em países como Brasil, Estados Unidos, Chile e Colômbia. Aqui, os pesquisadores observaram as variações e os impactos da temperatura nas internações hospitalares na rede pública de saúde.

A investigação analisou 15 anos de internações diárias com dados de 1.869 hospitais, com área de abrangência que representa em torno de 70% da população brasileira. E, segundo os resultados, as oscilações de temperatura que fogem da chamada zona de conforto térmico estão diretamente associadas às internações por diferentes doenças. Os mais impactados são crianças, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Além das altas temperaturas se associarem diretamente às complicações de saúde, o relatório também alerta para o aumento da frequência e intensidade de incêndios: aproximadamente 10 milhões de pessoas que vivem a Sul e a Oeste da Amazônia brasileira estão expostos a fumaça extremamente danosa à saúde respiratória, e onerosa ao sistema público de saúde.

E os impactos sentidos na saúde não são equitativos. Segundo a pesquisa do IANAS, países de baixa renda têm seis vezes mais chances de serem afetados por desastres climáticos e sete vezes mais chances de que os eventos levem à morte, quando comparado às nações ricas. Isso ocorre pela limitação de recursos dos países pobres para a máquina de saúde, saneamento e políticas para mitigar os efeitos adversos do clima. De acordo com especialistas, é indispensável aumentar a conscientização, principalmente nas escolas: bolar planos de ação contra o calor; incorporar as disposições de saúde nos planos de gestão de risco a temperaturas extremas; montar sistemas integrados de vigilância e resposta à saúde; e garantir melhor acesso a serviços essenciais, incluindo sistemas melhorados de água, saneamento e higiene.

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