Dengue cai na pandemia – e levanta hipótese sobre transmissão

Pesquisa global constatou 720 mil casos da doença em 2020, quando a restrição à circulação foi intensa. Pesquisadores sugerem que focos da doença estariam em escolas e escritórios. Estaríamos buscando aedes aegypti no lugar errado?

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Um estudo publicado na revista The Lancet surpreendeu pesquisadores: em 2020, primeiro ano da pandemia, a dengue infectou 720 mil  pessoas a menos que no período anterior, em todo o mundo – uma queda de 14,4%. Matéria do New York Times explica que esperava-se que a mudança de foco na saúde pública faria caírem as prevenções e programas de controle do aedes aegypti, e isso poderia fazer explodir o número de casos. O que aconteceu na América Latina e no Sudeste Asiático, principais regiões afetadas pela doença, felizmente, foi o contrário. O Brasil já havia registrado queda ainda maior da dengue em 2020: casos caíram 46,6%; mortes diminuíram 62%.

A hipótese dos pesquisadores para que isso tenha acontecido também surpreende. Eles sugerem que é possível que a maior parte das transmissões aconteça nas escolas e em locais de trabalho – o que se explicaria pelo fato de que o aedes aegypti tem hábitos diurnos. Se confirmada, hipótese poderá ser transformadora, já que a maioria das campanhas contra a dengue é focada nas residências. “Se a casa realmente fosse o local mais arriscado […], se esperaria que o isolamento social tivesse aumentado o perigo – mas não é isso que vemos acontecer em muitos países”, constatou Oliver Brady, autor principal do estudo e epidemiologista na London School of Hygiene and Tropical Medicine, do Reino Unido.

Os pesquisadores afirmam não defender os lockdowns como forma de prevenção contra a dengue, mas que é possível que seja importante ampliar o foco das políticas públicas de controle da doença para os lugares públicos – não apenas nos residenciais. Mas há ainda outra hipótese que sustenta a queda de casos de dengue durante a pandemia: o apelo para que as pessoas ficassem em casa restringiu também a circulação do vírus. Afinal o indivíduo contaminado não saiu às ruas com a mesma frequência que faria em 2019, deixando de dar a oportunidade de novos mosquitos picarem-no e infectarem outras pessoas.

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